domingo, 29 de maio de 2011

Os 10 melhores discos brasileiros de todos os tempos

Antes de mais nada tenho que esclarecer três coisinhas.
1ª coisinha: sempre discuto com o Fábio sobre a tal expressão “melhor”, que é uma expressão que só gera confusão. Melhor seria aboli-la do dicionário. Ih, usei-a de novo: é inevitável.


2ª coisinha: Para mim Cartola é melhor que Paulinho da Viola, para você, não. Tudo bem, questão de gosto: os dois são bons. Peguemos gente mais diferente entre si: gosto mais de Zé Ramalho do que de Tom Jobim, mas sei que o Jobim é muito bom, provavelmente “melhor” que o Zé. Mas é questão de gosto.
Agora, não me venha dizer que o Kenny G é melhor que o Miles Davis. Isso não é questão de gosto, porque se nem “bom” ele é, quanto mais “melhor” que um deus. Tudo bem se você gosta do Kenny G, ele até toca direitinho, você pode até se emocionar ouvindo, o problema está no seu universo musical. Outra: nem pense que a banda Kalipso é boa. Você pode gostar, dançar com ela, achar o máximo, azar seu, isso não vai fazer da banda algo musical e artisticamente decente.

3ª coisinha: o que é “melhor” para mim é sempre influenciado por um determinado momento que é só meu. Explico: ontem fui com a Fer a um restaurante que tem um monte de coisa boa, mas vou lá para comer o simples, mas delicioso, divino e delirante espaguete alho-e-óleo, que eu como, e repito e repito de novo. Por quê? Seria melhor do que tudo o que tem lá? Quando eu tinha uns 5 ou 6 anos, eu não gostava de macarrão, porque sempre era à bolonhesa, e eu odiava carne e molho de tomate. Numa noite, altas horas, algum problema sério tinha acontecido (não tenho a mínima idéia do que tenha sido) e eu estava na casa da Alda minha madrinha (nem sei se era madrinha mesmo). A casa era meio sombria, talvez porque eu quase nunca fosse lá. Eu estava morrendo de fome, e a Alda disse que ia fazer um macarrão alho-e-óleo. Que merda, pensei. Mas quando o prato chegou à minha frente, aquele cheiro me envolveu e eu comi com gosto, aquilo me desceu fazendo carinho. Contei prá minha mãe, que a partir de então sempre fazia prá mim (e o da minha santa mãezinha era, evidentemente, ainda melhor). Voltando ao restaurante: para mim, aquele espaguete alho-e-óleo é o melhor prato que tem lá, e talvez entre para minha lista dos 10 melhores pratos.
 Depois das 3 coisinhas, vamos ao significado. Prá que escolher os 10 melhores? O que a gente pretende ao escolher e publicar os 10 melhores filmes, discos, pratos, livros, beijos (ainda não vi uma lista de melhores beijos), etc, etc, etc?
 Significa que queremos nos exibir, mostrar que somos cultos, é claro. “Olha só a minha lista, tá vendo como eu entendo de música?”. “Tá vendo como eu leio coisas boas, como meu universo é amplo?”. Ou seja, apresentar uma lista é uma tentativa de impressionar as pessoas e, conseqüentemente, de inflar nosso bom e velho ego. Mas quem não tem um ego? E que ego não é meio guloso?


Mas também há outros motivos mais nobres (sem desqualificar o motivo do ego, é claro) quando apresentamos uma lista. Fazer uma lista é uma deliciosa viagem no tempo e nas sensações, lembrando o que mais nos transformou, mais nos emocionou; significa viajar para dentro de nós mesmos e nessa viagem descobrimos o que mais valorizamos, num sentido religioso (de “religar”). Publicar uma lista significa ainda que queremos nos apresentar, dizer quem somos, abrir nosso coração e nossa mente e atrair pessoas por afinidade. Como bônus: mostrar nossos “10 mais” pode ajudar alguém a conhecer algo que não conhecia, ou que nunca tinha reparado. Uma coisa é saber que Jorge Ben existe, outra coisa é saber que alguém cuja opinião prezamos o coloca em destaque. Há pouco tempo descobri o gênio do Jorge Ben lendo a opinião de alguém que prezo sobre um disco seu.

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Para escolher os 10 mais, misturamos tudo: reminiscências, referências, emoções, momentos marcantes, paixões, aventuras, amores e sabe lá mais o quê. Neste momento, por exemplo, estou ouvindo algo que me transportou à carroceria de uma caminhonete numa estrada, num campo no interior de São Paulo, próximo a Rio Preto, quando viajava de carona com o Tiba ouvindo meu recém comprado WalkMan (aquele que vc enfiava uma fita cassete dentro). Ainda pude sentir o cheiro de Assa-Peixe. Finalmente, o processo de escolha pega tudo isso e tempera com a razão e o conhecimento, afinal, por mais que Márcio Greick tenha me emocionado (e muito) com “o mais importante é o verdadeiro amor”, hoje eu sei muito bem que ele está muito mais prá Kenny G ou Kalipso do que para Cartola e Tom Jobim. 


Deixando de entretantos e indo diretamente aos finalmentes, apresento a minha lista dos 10 melhores discos brasileiros de todos os tempos. No próximo pôsti, é claro. Sossega, vai ser logo, já está pronta. Estou apenas dando uma de Janete Clair. Plim Plim.

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