quarta-feira, 28 de julho de 2010

A incrível história do grupo "COBRA PARADA NAO ENGOLE SAPO" - Parte 2

CPNES BEGINS

A incrível história do CPNES seria contada quinzenalmente, mas vários fãs disseram que nesse negócio de blog a velocidade deve ser muito mais rápida. Disseram que a parte 1 foi boa demais, o que causou forte ereção no meu ego. Ainda sob tal efeito, continuo a históC continuo a história do CPNES, cuja atuação no início dos anos 80 mudou a cara de Brasília, do Brasil e, por conseqüência, do Mundo, no campo das artes, da política e da filosofia.

Mas como se juntaram essas pessoas em Brasília, todas vindas de fora, em condições tão diferentes, para formar um grupo que deixou um legado sem precedentes na história do Brasil? Antes de falar da obra do grupo, é importante conhecer a história e a formação de alguns membros de grupo. Chamarei de membro 1, membro 2, etc. Não há nenhuma hierarquia nisso (o último que tentou descobrir o cabeça do grupo foi mandado prá Suíça). Hoje vou falar de 3 membros.

Membro 1. Lá pelos anos 60, em Belzonte, os moleques Milton, Lô, Roberto e Fernando moravam na mesma rua, perto de mais um monte de caras super legais. Juntos desde a infancia, eles se encontravam na frente de uma casa de esquina, mais ou menos eqüidistante de onde moravam. Além da conveniência geodésica, a casa tinha uns murinhos legais para sentar. Mas o que o pessoal gostava mesmo é que na casa morava um rechonchudo garotinho que nunca tirava seus imensos óculos, gostava de ouvir as estrelas e falava de mundos paralelos. O menino não fazia parte da galera porque era bem mais novo. Às vezes o pai gritava com os meninos lá fora “isso aqui agora é clube, é?” “Lá vem o clube da esquina de novo”. O garotinho adorava ouvir da janela a conversa dos rapazes. Sabia tudo sobre todos: quando o Milton levou um fora, quando o Lô deu a primeira e como o Betão, que tinha um vozeirão de locutor de rádio, um dia apareceu com a voz fininha e passou a ser chamado de Betinho (só mais tarde ficou conhecido como Beto Guedes). O menino que ouvia tudo pela janela se chamava Pantaleão, sim, ele mesmo, o Panta, aquele que dá uns toques pro Tio Moa e que fez parte do Cobra Parada. Cansados de tanto moleque em frente da sua casa, os Panta se mudaram para Uberaba.
Membro 2. Em outro ponto do país, na desértica e arenosa vila em que morava, e onde não chovia havia 17 anos, o pequenino (de altura, não de cabeça) Sobral, caçula de 12 filhos, espremia um mandacaru, prá ver se saía uma gota d’água. Segundo a tradição, o pai sugava primeiro, a mãe depois, e, em ordem decrescente de idade, os filhos. Ou seja, Sobral era o décimo quarto a chupar aquilo. Todos na vila eram chamados pelo sobrenome e o sobrenome de todas as famílias era o mesmo: Sobral. Mas todos sabiam exatamente quem era quem, pelo tom da voz com que eram chamados ou citados. Mas nosso Sobral sobreviveu a tudo, porque tinha um sonho e, como diria o Shiniashic (blargh), ninguém pode deter um homem que tem um sonho. Sobral queria conhecer Maria Luisa, famosa lingüista da capital federal. Quando, no começo dos anos 80, já aos 18 anos, Sobral embarcou num pau de arara para Brasília, toda sua família foi se despedir. Sua mãe, preocupada: “cuidado com o mar, menino, que você não sabe nadar!” Quando chegou na desértica e arenosa vila em que passou a morar nos arredores de Brasilia, sentiu-se em casa. Sobral não apenas conheceu a lingüista Maria Luiza, como a incorporou, numa de suas mais sstanislawskianas interpretações. Abaixo a foto histórica de Sobral como Maria Luisa. Qualquer semelhança com o Rodrigo San... Ops, prometi não revelar sua identidade...

Membro 3. Uma família com mãe brasileira e pai russo usava uns chapelões peludos em pleno calor de 35 graus de Bauru. Viviam espreitando a rua através das frestas das janelas. Vésperas da copa de 1970. Os pais, ativistas radicais ligados ao comando bolchevique de Moscou, estavam planejando, por mais de 6 anos, um atentado terrorista numa corrida de rua. O atentado, na verdade, seria muito simples, basicamente com bombas colocadas em pontos estratégicos. O problema é que não havia corridas de rua em Bauru, o que os deixou em maus lençóis com o comando em Moscou. Assim, viviam entre a cruz e a espada: ou caíam nas mãos do DOPS por planejar o atentado, ou da Kaos, uma organização Russa, franquia da KGB, por não realizá-lo. No primeiro caso seriam torturados num treco chamado pau de arara, que não era nada bonito. No segundo caso, iriam quebrar gelo na Sibéria (na época as geladeiras não eram Frost Free). Num belo dia, os pais, apressados, levaram os dois filhos, Natalvitch e Markovitch para a casa de uns caras esquisitos de barba e chapéus pretos. Disseram que sairiam de férias (essa passagem recentemente foi narrada em excelente filme). No começo dos anos 80, Markovitch se transformou em ator, com importantes aparições com a cara pintada (sempre preocupado en ser reconhecido pelo DOPS e Kaos) em espetáculos do Cobra Parada . Desfeito o grupo, dedicou-se às corridas de rua, este blogueiro não sabe exatamente com que fim, mas, a contar pelos resultados, não é para correr.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO GRUPO "COBRA PARADA NAO ENGOLE SAPO" - Parte 1

Querem saber o que quero dizer com “Cobra Parada Não Engole Sapo”. O Panta acha que o blog devia explicar as origens do título (ele as conhece de perto). Eu lembrei ao Panta do pacto que o grupo tinha, de não falar de si, de não levantar poeira, de não pedir o crédito de nada que conquistou e de não usar a história do grupo para benefício próprio. Mas o Panta me convenceu a mudar de idéia. “Tio Moa, a gente até já se esqueceu porque queria esquecer. A gente esqueceu até do que a gente queria esquecer".

O Panta (Pantaleão) é uma mistura de Zé Ramalho, Emir Kusturika, Rolando Boldrin e Tim Burton. Se você não conseguiu imaginar essas mistura, tudo bem, ninguém o decifra mesmo. Fazia tanto tempo que eu não tinha contato com o Panta. Estava desconfiando que ele talvez nunca tivesse existido e fosse apenas uma alucinação (nao seria impossível).

Começo pelo significado do nome do blog, citando a atual campanha da Brahma: “Porque lata é branca? Sei lá”. Vai pegar. Deixa uma indagação na cabeça e promove identificação consciente com a marca/lata. Depois da estupidez da campanha da Copa, que associou o futebol à guerra, agora eles dão uma bola dentro, com inteligência. Genial: não respondem a pergunta e deixam tudo na imaginação do povo. Como este blog não é genial, como neste blog matamos a cobra e mostramos o pau, vou dar o significado de Cobra Parada Não Engole Sapo. Muitos tipos de cobra tem como alimento preferido o sapo, como o bacalhau é para o português, churrasco para o gaúcho e por aí vai. Mas ela só come, ou engole, o sapo se for atrás dele. Se ficar parada, sem chance. Quer arte? Vai atrás. Quer música, cinema ou literatura, que estimulem seus neurônios, te façam viajar, ampliem seus horizontes e te ajudem a sair dessa vidinha banal que nos ronda a todos? Se mexa. Arrisque, ouse ver o que niguem viu, ouvir o que ninguém ouviu. Cobra Parada Não Engole Sapo, rapah!

Exposto um possível significado para o título do blog, vamos à melhor parte, a incrível história do grupo que inspirou o nome deste blog. O “Cobra Parada Não Engole Sapo” foi um grupo que fez arte no início dos anos 80 e mudou a cara de Brasília, do Brasil e, por conseqüência, do Mundo, no campo das artes, da política e da filosofia. A história oficial não conta isso, mas quem confia na história oficial? O Cobra Parada se dissolveu em meados dos anos 80, mas deixou suas ramificações em todas as áreas. Depois da sua dissolução, se tornou uma lenda. Este blog vai resgatar um pouco do mito do Cobra Parada.

Os componentes do grupo promoveram, através da inovação da liguagem e um pouco de porralouquice, uma revolução cultural que desembocou numa profunda reforma política. Ainda que tudo tivesse acontecido sem nenhuma intenção, o Cobra Parada acabou se transformando no amálgama da luta pelos direitos civis e influenciou toda uma geração. Do Cobra Parada surgiu o Rock de Brasilia, com Renato Russo, Herbert Vianna e Cia, que por sua vez originou a explosão do rock nacional em meados dos anos 80, com Titãs, Ira, etc. Do Cobra Parada surgiram os principais movimentos políticos, como a emenda pelas eleições diretas, o panelaço e, finalmente, a queda da ditadura militar.

Todos devem muito ao Cobra Parada. Hoje, quando se reúnem o Bi Ribeiro e o Dado Villa-Lobos para comer aquela gororoba horrível que o Dinho Ouro preto faz na casa do Herbert Vianna, eles riem muito lembrando daqueles tempos onde mal começavam a tocar, nem tinham idéia sobre o que falar nas músicas, tempos em que eram os cabeludos da 104 sul, e em que, sobretudo, deliravam nos espetáculos do Cobra Parada, apresentados em incógnitos porões e em não menos incógnitos auditórios oficiais.

Herbert é o mais animado: “Lembra daquela que o cara atravessava um espelho?”. “Se lembro... Era aquilo mesmo ou era a gente que tinha fumado muito”. Risos gerais. “E aquela que o cara ia numa loja e trocava a cabeça por outra que melhor, ficava rico mas virava um imbecil?”. “E uma que era só um cara sentado de frente para um relógio, de costas para o público?”. “Não, essa eu não vi”. “Eu vi... (risos)... O nome era Horas bolas, Horas com agá (risos)... O cara só ficava lá, parado... (risos). O despertador toca... (risos)...”. Dado Villas-Boas é impaciente: “Para de rir e conta logo”. Herbert respira fundo: “ O cara levantou, foi lá, desligou a porra do despertador... (risos).” “E aí?”. “E aí acabou, ele saiu e acabou a porra da peça – em nenhum momento o cara olhou prá platéia... Muito louco... Foi ali que eu tive idéia de escrever Óculos”. “Como? Não entendo a conexão”. Herbert, meio bêbado, cantarola: “Porque você não olha pra mim, ô ô” Risos gerais. Dinho chega da cozinha com a gororoba. Eles imediatamente param de rir.

Portanto, leitor incauto, que nem imagina a história por trás do nome do blog, prepare-se, porque nos próximos episódios será revelada a verdadeira história do grupo que se transformou num mito. Não deixe de acompanhar. Cobra parada não engole sapo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

TIO MOA E O MARIDO DA CABELEIREIRA EXPLICAM O AMOR IDEAL

Uma amiga minha disse que é do século passado, que quer achar um cara bacana, casar, ter filhos... Eu também sou do século passado, só que eu tenho um probleminha adicional: idealizo demais o amor. Desde que percebi que “ô ô ô ô... eu gosto é de mulher”, sempre criei, aqui nesse treco cinza que tenho atrás dos meus olhos, mulheres ideais imaginárias, se é que existem mulheres ideais mesmo na imaginação. As mulheres também sonham com o homem perfeito, se é que existem outros homens perfeitos além deste que vos escreve. Perguntei ao Tio Môa se existe mulher ideal. Ele disse que sim e ainda me garantiu que ela sempre aparece, mas só quando estou de olhos fechados.


Esse que é o problema: quando fechamos os olhos não vemos a realidade e idealizamos o amor, achando que vai ser sempre maravilhoso, como o do marido da cabeleireira... Ahn... Você não conhece a fabulosa história do marido da cabeleireira? Absurdo. Mas fique tranqüilo, que cuidarei de saciar sua curiosidade. Depois então eu concluo a imperdível explicação sobre o amor ideal.

“O Marido da Cabeleireira” é um filme que meu amigo/irmão Pinchu, entusiasmadíssimo, um dia me indicou. É um filme francês de 1989, dirigido por Patrice Leconte, que acaba de ser lançado em DVD . É daqueles prá ter no quarto. Acabei de revê-lo por mais duas vezes. Na cena inicial, numa praia, um menino bem magrinho, com uma larga e horrível sunguinha de lã, dança esquisitamente ao som de uma música árabe. As cores da cena são antigas e francesas, se é que as cores têm idade e nacionalidade. O menino é de uma humilde família francesa, se é que existe francês humilde. Ele é totalmente fascinado pela cabeleireira do barro, uma gordinha erótica, se é que... bom deixa prá lá.


E num belo dia ele vai cortar o cabelo. A cabeleireira tem a blusa semi-aberta e quando se inclina o garoto fica paralisado, boquiaberto diante da fartura e da beleza daqueles seios. A cena é belíssima, suave (apesar do tamanho daqueles melões), de uma pureza impressionante, e dita o que será do resto do filme. Mais tarde, à mesa do jantar, o pai pergunta o que ele quer ser quando crescer e ele, sem pensar: quero casar com uma cabeleireira. Leva um tabefe dos grandes, mas incapaz de tirar seu torpor. Acabara de decidir seu futuro.


O resto do filme é todo poesia. Um filme para ser visto com a leveza dos que amam, com a pureza dos que sentem que há algo a mais nesta vida do que lógica e ação. Em alguns momentos da narração em off, vemos o próprio narrador, o marido, parado, com uma feição triste e contemplativa. Não entendemos exatamente o que está acontecendo, mas podemos supor.


O filme mistura lembranças da infância com a fase em que ele, já maduro, finalmente encontra uma cabeleireira. Não é uma cabeleireira, é A Cabeleireira. A facilidade com que ele consegue se casar com ela, fisicamente tão diferente dele, parece dizer que quando se tem foco e determinação, pode-se conseguir tudo. Nada disso: trata-se de uma fantasia, de uma poesia, de uma ode ao amor, ao amor ideal, sem concessões à realidade.

A vida no salão é totalmente dedicada à celebração do amor. O contraste entre eles é tão grande quanto belo. A cabeleireira é jovem, leve, sensual e transbordante de amor e beleza. Seu sorriso é nada menos que divino e praticamente constitui um personagem em si. Já o marido é um idílico romântico apaixonado de meia-idade, nada bonito, mas com uma expressão e um olhar cativantes. Amante da música árabe, sua dança, esquisita e magnética (que o diga o garoto que vai cortar o cabelo), é símbolo de sua constante celebração ao amor ideal e à felicidade.


Bem, até que a realidade surge. Uma “briga” diz aos dois que a tal da realidade, a da banalização da vida a dois, está ali, à espreita. O medo dessa realidade impõe um desfecho forte, mas que eterniza o amor ideal. Na delirante e inesquecível seqüência final, mais uma vez o marido dança, reafirmando seu apreço pela alegria, pelo amor, pela fantasia, e o seu desprezo pela realidade. Entretanto, no take final essa poderosa realidade surge, amarga, soberana, observando-o lá do alto, como a dizer: não adianta, no fim o que vale é a vida real. Trata-se de uma porrada em nosso estômago, que é, como se sabe, o órgão que sente o amor (quem nunca sentiu frio na barriga quando apaixonado?).


Apresentados o marido, a cabeleireira e a linda e tocante fantasia sobre o amor puro e ideal, voltemos ao tema. Tio Môa me disse:


“Para ter o amor ideal, jamais abra mão da fantasia, do romance, da entrega, da paixão. Mas não idealize demais, porque as pessoas são de carne e osso e a vida a dois é de osso e carne. Cozinhando direitinho, colocando os temperos certos, embrulhando com papel alumínio, a carne fica tão tenra e macia, que solta do osso e derrete na boca."
Tem uma música, das antigas, do Jorge Ben que diz que “quem ama quer casa, quem quer casa quer criança, quem quer criança quer jardim, quem quer jardim quer flor, e como já dizia Galileu, isso é que é amor!”. Acho que tem muito mais gente do século passado do que se supõe.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tio Môa News - Argentina aprova lei e bibas fazem festa

Tio Môa não estava fechado para balanço?

Final do capítulo anterior: tio Moa cai na sua própria armadilha. O moleque, dito cujo, carcará, o tal do B., leu no blog uma dica do Tio Môa, que tudo sabe, para atrair uma gata para seu covil: convidá-la para ouvir Elomar. Numa conversa telefônica com sua filha, tio Moa descobre que ela ouviu Elomar na casa do B. Ao descobrir, Tio Moa fica mudo.

“Meu mundo caiu e me fez ficar assim...” Na voz da Maysa essa música é o máximo. Maysa todos devem conhecer, há pouco tempo teve uma minissérie da Globo sobre a vida dela. A mulher era esculpida em tristeza e amargura. Essa letra é dela. Letra e música. Pode ouvir, é linda e uma excelente opção de trilha sonora para suicídio. Sim, suicídio: era só no que Tio Môa pensava nos dois dias em que ficou curtindo a fossa. “Minha filha, minha filhinha querida, não minha filha não... E ainda por cima por minha culpa. Eu que dei a dica.”

Sem saber o que realmente acontecera no quarto, ao som de “vem amiga visitar...” Tio Môa conjecturava, tentando se tranqüilizar: ela pode ter ido apenas ouvir o CD. Ou apenas conversar. Isso, ela foi apenas conversar. Qual o problema de uma inda menina de 17 anos ir conversar e ouvir um CD, dos bons, na casa de um amiguinho? Tá bom, um cara de 17, 18 anos não é um amiguinho. É um homem, vá lá. Mas e daí? Qual o problema? Nessa idade os meninos mal pensam em sexo, ficam apenas focados nos estudos, no vestibular e em construir o seu futuro... Como diria minha filha, ahan...

Mas tio Moa, tal qual uma fênix, ressurge das cinzas, levanta, sacude a poeira e vai à internet tentar descobrir algo sobre o rapaz. Depois de fuçar aqui e ali, chegou ao Orkut do B. Um sorriso despontou na face do tio Moa. Aquelas fotos do B. não deixavam nenhuma dúvida. Ele é gay!!!

Deus, salve os gays, salve-os de todo o mal, iluminai seus caminhos. Eles ajudam a humanidade a procriar menos, reduzindo a proliferação dos seres humanos, a praga do planeta. Depois, eles deixam o mundo mais leve, mais alegre, menos sisudo, mais colorido, mais vibe. Vejam os filmes do Almodóvar, com aquelas cores e aquela estética gay (com o perdão da cacofonia). Vejam a prefeitura de São Paulo, que acabou com poluição visual dos outdoors.

E por falar em gays, ontem o parlamento argentino aprovou a lei que consente a união entre pessoas do mesmo sexo. Os hermanitos bibas já podem se casar. hehehe. Dá uma vontade de fazer piada, né? E eu faria, se não estivesse com inveja. Depois de eles levarem um divertido Maradona como técnico enquanto nós levamos o medíocre Dunga, mais uma vez a Argentina mostra ser um país mais evoluído. A aprovação dessa lei é uma conquista que abre caminhos para outros avanços, para que a sociedade seja menos atrasada, mais aberta, menos chata e nazista, e mais humana e divertida.

Aqui no Brasil ninguém ainda teve coragem de liderar esse processo (andou passando pelas mãos de um e de outro, mas ninguém que bancasse mesmo). O tema é polêmico, muita gente é contra. A igreja é, como sempre, contra de tudo o que, de perto ou de longe, esteja relacionado ao sexo. Para ela, sexo é uma coisa suja. Ela é a favor de alguma coisa além das orações e dos dízimos? Não regulamentar a união de pessoas do mesmo sexo é não reconhecer que ela existe, de fato, e há milênios. A lei não vai criar nada, só vai facilitar a vida de milhares de pessoas (questões de previdência, de adoção, de herança, etc). Aos que são contra, especialmente os homofóbicos: fiquem tranqüilos, pois a lei não obriga a nada, só permite. Assim, você não será obrigado a casar com aquele carinha que você fica olhando enquanto malha.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

TIO MÔA EM CRISE

No último post, Tio Moa cravou na Holanda. Errou. O Snejder até que fez a sua parte e colocou o Batman, digo, o Robben na cara do gol. Mas o goleiro tinha tornozelo e salvou. E na prorrogação, de tanto fazer preliminares, o tal do Iniesta, sem arrumar uma boa desculpa para não chutar, botou prá dentro, com força. Como disse a Bruna, 110 minutos de preliminares podem ser uma boa. Bem, mas o erro não foi total, afinal o texto acabava dizendo que Tio Môa torcer para a Holanda era uma boa notícia para a Espanha.


Erro mesmo foi no post anterior, em que Tio Môa dava uma dica para os sobrinhos cuecas. O título foi o seguinte: “Tio Môa Recomenda – Nada de luau: leve a gata prá ouvir Elomar na tua casa”. Erro trágico. Porque? Vejam a conversa por telefone entre Tio Moa e sua filha:

- Oi filha!
- Oi pá.
- E aí, tudo bem?
- Ahan.
(É lindo o diálogo entre pai e filhos hoje em dia, um poder de síntese fantástico!)
- Sei... Tem lido o blog?
- Ahan.
- Legal. Você não pode falar agora? Está comendo?
- Não, estou estudando, conversando no msn, penteando o cabelo, pesquisando um negócio prá mãe, passando um torpedo no celular, ouvindo música e fazendo unha.
- Puxa... E você consegue?
- Óbvio.
- Seus amigos estão gostando do blog?
- Ahan, principalmente o B. Ele disse que adora suas dicas.
- E você já ouviu o Elomar?
- Ahan.
- Que bom. Você comprou o CD ou baixou?
- Nenhum dos dois. O B. me chamou prá ouvir na casa dele.
- ...
- Pá... pai... pai... você ta aí? Ih desligou.

Tio Môa fecha para balanço!

domingo, 11 de julho de 2010

Tio Môa não é polvo mas crava: a Holanda vai ganhar!

Depois de um certo afastamento, Tio Môa está de volta, para a alegria das centenas de jovens ávidos por seus preciosos conselhos e orientações. Desta vez vamos falar, de certo modo, de futebol, afinal, hoje é dia de decisão de Copa do Mundo. Todo mundo tá dizendo que a Espanha é melhor e que vai ganhar. Mas você é do tipo que vai com a maioria? Eu sei que não. Ouça o que o Tio Moa diz: a Espanha não é melhor. - Mas Tio Moa, a Espanha tem o melhor toque de bola.


 Caro sobrinho, cuidado com isso. Uma coisa é ter o melhor toque de bola, outra coisa é ter o melhor futebol. Não se faz amor só com carícias e preliminares. Cobra parada não engole sapo! Se você tá lá com a gata, mãozinha prá lá, beijinho prá cá, e não pára nunca mais de fazer isso, logo logo ela vai pegar no sono. Tem que variar, alternar um pouco a pegada, e fazer o gol! A Espanha tem realmente um toque impressionante. Eles saem do campo de defesa para o ataque com toques curtos e vão tocando, tocando, e a defesa adversária vai se abrindo, abrindo, sabe como é... É realmente incrível a habilidade que todos do time têm para fazer isso. E vão mexendo a bola, sem pressa, até surgir, na movimentação, a penetração final. Só que na maioria das vezes isso está demorando muito a acontecer. A equipe adversária se fecha de novo e aí não entra mais, nem a pau, com o perdão da expressão. Por isso a Espanha não me encanta. Toques curtos e envolventes o tempo todo, num mesmo ritmo. Na verdade isso é muito chato. Não há tabelas. Tabela é bonito de ver porque são apenas dois jogadores levando vantagem sobre muitos. Os espanhóis não fazem lançamentos longos, com efeito. Sinto falta de dribles, de finalizações. Nada disso aparece com freqüência no jogo da Espanha. Só o tal do toque de bola envolvente, no mesmo ritmo e aborrecido. A Holanda não é nada de mais, mas é organizada e tem o Snejder, para mim o melhor jogador da Copa. Ele faz, com maestria, muitas coisas diferentes: lançamentos longos com efeito, toques curtos, armação do time alternando o ritmo de jogo. E tem o Robben, muito habilidoso, dono de um chute sensacional. Além disso, ele tem uma história de superação, vencendo incontáveis contusões e até um câncer. A Copa costuma ser generosa com jogadores assim, que o diga Ronaldo em 2002. Snejder e Robben me parecem ter mais o perfil de “jogador que define” do que qualquer um jogador da Espanha, e isso pode ser decisivo se o jogo estiver equilibrado. É claro que a Holanda, ao contrário da Espanha, não tem jogadores habilidosos em todas as posições, mas seu futebol, no geral, me parece mais completo, inclusive quanto àquela pegada mais forte, que não é a da Espanha.


 É claro que qualquer um pode ganhar, mas cravo na Holanda. E, agora que dei publicamente um palpite, preciso torcer por ele. O que é uma boa notícia para a Espanha!

sábado, 10 de julho de 2010

A RIVIERA É BEM AQUI, SIM SENHOR

Está em cartaz nos cinemas o filme "A Riviera Não é Aqui". Fui ver. Vejam como é a história: numa tentativa desesperada salvar seu casamento com a bela Julie e tirá-la da depressão, o funcionário público Philippe tenta realizar um sonho do casal, com sua transferência para um lugar maravilhoso, a Riviera. Para isso comete uma fraude, é descoberto e transferido para o outro extremo do país, um lugar frio, inóspito e com uma população rude, que mal fala sua língua. Pior: terá que ficar lá por dois anos e sem sua esposa e filho. Com seus sonhos destruídos e sozinho, ele parte para a sombria Berges. O filme aborda ainda outros temas pesados, como o preconceito, a mentira e o alcoolismo.

Você, que já está pensando em fugir do filme, não sabe da maior: o filme é francês! Pronto, fugiu... Esse nunca mais volta a ler o blog!

Falo então para você, que ainda está lendo: continue (já conseguiu até aqui...). Pela história o filme poderia parecer mesmo um dramalhão, mas é um daqueles raríssimos filmes que te fazem rir o tempo todo. Não como a maioria das comédias que você ri muito no começo, depois o ritmo vai diminuindo, diminuindo, até virar uma comedia romântica morninha no final. Este, ao contrário: é engraçado no começo, mas o ritmo vai aumentando cada vez mais e quando passa da metade do filme, aí você pode não parar mais de rir. A não ser em alguns momentos, para chorar com alguns momentos emocionantes.

O filme tira a sua graça primeiramente das ótimas atuações do elenco, que parece talhado para a comédia. Kad Merad, que faz o atrapalhado protagonista, é fantástico e faz rir mesmo quando o texto não traz uma piada.

Depois, a graça vem da incrível familiaridade que sentimos com as pessoas, com a situação e, inclusive, com a empresa em que quase todo o elenco trabalha (La Poste, o correio da França). Parece que estamos em casa, tudo é simples, a gente, o cotidiano, as situações. O cinema também é simples, não há um roteiro complexo ou sinuoso, não há uma direção elaborada, não há, enfim, efeitos ou pirotecnia. É um cinema simples, extremamente simples. E essa simplicidade, que não se opõe à beleza, é uma bela opção para o cômico (lembrar personagens de Chaplin e Jerry Lewis).

Por fim, essa comédia se constrói com o choque cultural. Assim como os aspectos divergentes vão surgindo, dando graça, eles se dissipam, com mais graça ainda: primeiro, a fala muito diferente da região, depois as comidas, os costumes do povo, a bebida, e por aí vai. Com a queda, uma a uma, de todas as diferenças, o preconceito e a visão distorcida que se faz de um povo que mal se conhece, se transformam em cumplicidade, em comunhão.

Como num bom filme do Jerry Lewis, “A Riviera...” é recheado de pequenas pérolas, como a cena da descoberta da fraude, a da multa na estrada ou a do marido contando para a esposa e amigos como é dura a vida no norte. Outras tocam, como a que apresenta os carrilhões de sinos ou a do pedido de casamento. E prepare-se, porque algumas longas seqüências provocam dor no abdômen, daquelas em que toda a platéia ri a plenos pulmões: o chefe acompanhando o carteiro no distrito e a recepção da esposa na cidade.

Mesmo com a melhor qualidade que uma comédia pode ter, fazer rir, “A Riviera Não é Aqui” não se limita a isso: fala de temas como aceitação, amor, amizade e equipe. O sucesso do filme está ligado ainda a outra coisa, tão ou mais importante: ele fala de algo que nos atormenta a todos - a eterna contradição entre nossos sonhos (nossas Rivieras) e a nossa vida real (nossos simples "aquis"). Mas quem diz que nossos sonhos são bons? Nós queremos um lugar ou um estado de espírito? O que é um lugar bom? O Wander Wildner dá a dica: quer um lugar onde a cerveja seja barata, as pessoas ouçam Beatles, sejam loucas e super chapadas - "Um Lugar do Caralho!". O filme, sem pieguice, só com graça e bom humor, parece dizer que algo parecido: a "Riviera" é bem aqui, sim senhor.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

FELIPE MELO E O HOMEM DE NEANDERTAL

Ontem, ao receber a Folha, pela manhã (adoro jornal de papel) vi na capa a foto do criminoso, do fascínora, do inimigo público número 1, Felipe Melo, chegando ao Rio, voltando da África do Sul.

 Não gosto do jogador Felipe Melo, que nem devia ter ido à Copa, mas vejam a foto: não é mais o jogador truculento e nem podia ser. Aqui ele está na vida real, chegando em casa, querendo colo da família, e é cercado por policiais para protegê-lo da ira das pessoas. Aqui, nesta foto, ele não passa de um menino assustado. É ou não é chocante? O que faz as pessoas tomarem sei lá quantos ônibus para agredir um jogador chegando de viagem?

 Ele traiu o país? O Brasil perdeu por causa dele? É claro que não. Ele fez algo que ninguém esperava que fizesse? Não, ele fez exatamente o que se esperava dele. Havia até bolão para apostar em que jogo ele seria expulso. Mesmo se as respostas acima fossem sim, nada justifica a possível agressão, cujo nível, verbal ou físico, e intensidade ninguém poderia prever.

 Costumam dizer que sempre queremos achar um culpado. Eu desconfio que não seja esse o caso. Acho que é algo pior: nosso desejo de violência, nossa natureza bárbara, que, pela evolução e socialização, fica escondida abaixo de nossa superfície, mas que é viva, muito viva. Sempre que podemos apedrejar alguém, damos vazão a essa natureza. Por isso, apedrejar é a melhor diversão do mundo: liberamos energia negativa, tiramos nossas tensões, nos conectamos com nosso mais profundo eu.

O menino Felipe Melo assustado me lembrou cenas do Alexandre Nardoni sendo escoltado pela polícia. Não pelo fato de os dois terem saído protegidos da ira popular, mas pelo que está por trás disso: nossa atração por casos que despertem nossa raiva. Adoramos isso. Quando acontece um caso como esse, temos o que falar no elevador, temos bons motivos para conversa, assistimos o noticiário de todas as redes e àqueles chatíssimos programas de auditório, com entrevistas sobre o caso (chamam psicólogos, criminalistas, etc). Até Fantástico a gente assiste para ver as entrevistas exclusivas. Enfim, ficamos satisfeitos. Indignados, é verdade, mas, sobretudo, satisfeitos.

O que faremos quando a raiva contra o menino Felipe Melo passar? O que vamos fazer para ocupar nosso tempo e estimular nossa ira e desejo de apedrejar? Sossegue: já temos outra diversão: o goleiro Bruno e o sumiço de Eliza Samudio. Chegamos a ficar preocupados com a esfriada que o caso tinha dado nos últimos 3 dias: sem fatos novos e circulando na internet que a menina “não é flor que se cheire” (os “machos” adoras vir com essa - lembram-se da Geisy Arruda, “a vagaba”?). Mas hoje o caso Bruno esquentou de novo, contra ele, e muito. O cerco está se fechando: diversão garantida.

Você pode discordar do tom irônico, tudo bem, mas te proponho um exercício de imaginação, no qual você tem que ser absolutamente sincero, não comigo, mas com suas próprias entranhas: imagina que amanhã a moça apareça, viva e bem de saúde. Seria ou não seria um grande anti-climax? Um tipo de decepção? A gente não murcharia um pouco? Não seria como tirar o prato de feijoada da frente de um glutão faminto.
 Ninguém torce para ela aparecer, mas sim para acharem o corpo e provas que incriminem o cara. Não que a gente deseje a morte de ninguém, é claro que não. Somos humanos e nos indignamos com isso. Mas no fundo, bem lá no fundo, junto com a nossa indignação cristã, o que ansiamos é que a morte e a existência de um culpado liberte o Homem de Neanderthal que temos dentro de nós, e nos possibilite carregar livremente nossas clavas e tochas, devorar carne crua e nos vingar do culpado pelas nossas frustrações e pela falta de significado das nossas vidas.
  Mas, igual a tudo na vida, este caso vai acabar e, como se passasse o efeito da poção do Dr. Jekyll, voltaremos à nossa auto-imagem moderna e poderemos descansar, quem sabe até chorar baixinho no colo da mãe, como deve estar fazendo agora o Felipe Melo.

domingo, 4 de julho de 2010

Copa 2010 – Sorria, o Brasil ganhou!

O Brasil ganhou 5 copas graças ao talento, mas existem 2 bobagens que dizem por aí e que podem iludir você, leitor incauto:

1. Futebol bonito não ganha copa. Os idiotas da objetividade falam da derrota da seleção de 82 (futebol arte) e da vitória em 94 (futebol marcador e guerreiro). Não caia nessa bobagem. Em 94 quem venceu foi o talento, sim, o de Romário, cujos gols nos salvavam jogo a jogo até a final. O futebol marcador quase pôs a perder a copa e a final mais fáceis da história. Na final, contra uma Itália esfacelada, que não ganharia nem da Ponte Preta, o jogo foi para os pênaltis. E olha que o charlatão Parreira não queria convocar o Romário nem por decreto, mas teve que engolir devido à pressão popular. Já o energúmeno Dunga não cedeu e dançou. Resumindo: raríssimas vezes o futebol arte, ou o melhor futebol, perdeu uma Copa. Portanto, abrir mão do talento é burrice.

2. Em 2006 não ganhamos por causa do clima de festa. Bobagem: quem perdeu foi Parreira, que escalou mal. Ronaldo, Adriano, Cafu e Roberto Carlos, em horrível forma física e técnica, eram verdadeiros postes, não tinham condição de jogar nem na Ponte Preta. Seus substitutos estavam em excelente forma: Fred, Robinho, Gilberto e Cicinho (este, com 10 anos a menos que o senhor de meia idade Cafu, estava voando). No jogo que nos eliminou, Parreira deixou em campo os 4 postes. Zidane e a França dominaram todo o jogo. Fizeram o gol no começo do segundo tempo. Parreira só colocou o Cicinho e o Robinho no final do jogo, aos 32 e aos 35 minutos. Resumindo: quem perdeu em 2006 foi o técnico, não a festa (até porque a grande seleção de 2002, que venceu a Copa, era super festeira. Mas a CBF não entendeu e resolveu chamar para técnico um bedel, que nunca havia sido técnico na vida, e falou prá ele: acaba com a bagunça. E o bedel Dunga respondeu "deixa comigo, doutor, craque, só chamo se for de Cristo”.

E perdemos a Copa, é claro! Futebol é simples demais, basta escolher os melhores (inclusive o técnico) e botar prá jogar, sem esquecer nenhuma das funções vitais. Zagalo, limitado no aspecto tático, sabia que Copa do Mundo é o lugar dos melhores. Dunga não. Questionado por não chamar os melhores, despreparado e extremamente limitado como pessoa (coitado, é um bedel), se fechou com um grupo de medíocres. Os bons eram cordeirinhos. Quem não era nem um nem outro, ficou na sua, quietinho. Os medíocres colocam a hierarquia, o grupo e o espírito guerreiro à frente do objetivo maior (ganhar a Copa). Assim o grupelho se fechou. Os números, que significam muito menos do que os idiotas da objetividade acreditam, iludiram a imprensa e a torcida. 



O grupo de guerreiros focados neles mesmos entrou em campo irritado, bravinho, reclamando de tudo. Ainda no primeiro tempo Robinho estava nervosíssimo, Dunga parecia um surtado fora de campo. No segundo tempo, logo no início, Michal Bastos deveria ter sido expulso com uma entrada crimonosa em Snejder, mas o juiz fez vistas grossas. Em seguida, tomaram o gol e, sem maturidade, o time todo se perdeu. Outro problema: a seleção não tinha nenhum meia-armador (que organiza o time). É o que faz Schweinsteiger na Alemanha, Iniesta na Espanha e Snejder na Holanda. Um time não pode ganhar uma Copa sem um jogador que faça isso, como um time de volei não ganha sem levantador. Kaká não faz essa função, nunca fez. Temos craques que fazem isso, como Ganso (um dos melhores do mundo na atualidade), Zé Roberto, Diego e Alex. Juventude também é importante. Dunga não chamou Neymar e Ganso alegando que são novos e inexperientes (como se ele mesmo não fosse com técnico). O técnico alemão chamou Ozil, 21 e Muller, 20, que estão encantando o mundo.


Mas sorria, o Brasil ganhou! Porque quem perdeu para a Holanda não foi o Brasil, foi a seleção da CBF e do Dunga. O futebol brasileiro venceu, pois provavelmente teremos um técnico de verdade. Melhor ainda: perdeu a mediocridade que assola o país, desde o governo, passando pela gestão pública e chegando ao futebol. Morte à imbecilidade da supervalorização do espírito guerreiro, representado pelo primitivo Felipe Melo, eleito no ano passado o pior jogador da Europa, mas adorado por Dunga.


Quem sabe agora cuidaremos mais de valorizar o talento, a competência, a arte e a beleza?
Obrigado, Snejder!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

BRASIL E HOLANDA – EFICIÊNCIA X ARTE

Ôba, um post sobre futebol! Que legal! Copa é Copa, não é hora de filminho, de musiquinha, de elomarzinho.

Então vamos lá: O Brasil ganhou a copa de 1970 (minha primeira copa) jogando o futebol mais lindo que já vi até hoje, junto com outros dois times: a seleção de 1982 e um outro que depois eu conto.

Em 70 tinha Pelé e Tostão. Tinha Rivelino, de quem Maradona diz ter sido fã e o melhor jogador que já viu. Tinha Jairzinho, que marcou gol em todos os jogos daquela Copa.

A seleção tinha também Clodoaldo e Carlos Alberto. Mas também tinha, e é nele que quero chegar, o Gerson, que fazia lançamentos muito, muito longos, e incrivelmente precisos. Alguns dos gols mais lindos daquela copa saíram de seus lançamentos. Gerson lançava curvando o corpo, que ficava côncavo. Uma beleza!

Mas houve um jogador cujos lançamentos eram ainda mais fascinantes: Dicá, da Ponte Preta. Eu cresci vendo Dicá no estádio, ao vivo. O detalhe fascinante de seus lançamentos: eram feitos lá de trás, no campo de defesa, para um atacante 50 metros à frente. E daí? Qual é a graça? Explico: dessa distância, o zagueiro tem toda chance de interceptar. Só que o zagueiro saía correndo para um lado, mais para o meio, onde, pela trajetória, a bola chegaria. Já o ponta direita (Lúcio), corria abrindo pela lateral. A força exata para a bola cair no gramado antes de chegar ao zagueiro, mais o efeito da “trivela” de Dicá, faziam com que a bola, após bater no gramado, mudasse totalmente sua trajetória, indo adivinha para onde? Isso, para a direita, onde Lúcio esperava para fazer a festa, com a defesa adversária descomposta. A torcida aguardava momentos assim, mágicos, o jogo todo. Com Dicá em campo, mais cedo ou mais tarde, eles aconteciam. A torcida ria, aplaudia, delirava. Ali foi que aprendi, ainda antes de mergulhar no teatro, cinema e na música, o que era arte, o que era a beleza.

E o que tem tudo isso a ver com Brasil e Holanda, que jogam pela Copa da África? Tudo. A Ponte Preta, um dos 3 times que jogaram o futebol mais bonito que já vi, no ano em que foi considerada o melhor time do Brasil perdeu a decisão para o Corinthians, um time sem brilho, mas com uma eficiência impressionante (um ano antes, eliminara do campeonato brasileiro outro time que jogava muito mais bonito, o Fluminense, a chamada máquina).

Pois no jogo entre Brasil e Holanda, desta vez somos nós somos o time sem brilho (calma! não é limitado, não é sem técnica, mas não tem o mesmo brilho, ou arte) e a Holanda, na minha opinião, representa o brilho, a arte. Isso porque eles tem o Snejder, que outro dia fez um lançamento de Dicá, o primeiro que vi em 20 anos, desde a aposentadoria do mestre. O mesmo efeito, o mesmo zagueiro perdido, trançando as pernas, e o Robben pegando a bola do outro lado: gol. Em outro jogo, novamente um lançamento quilométrico, mas desta vez mais direto, tipo Gerson, e de novo para Robben, o Jairzinho deles. E de novo gol.

Mas a Holanda não tem só os dois, não. Tem muitos bons jogadores. Apesar disso, e de saber marcar, a Holanda não é o Brasil, que sabe ganhar. Se os brasileiros ficarem como cobra parada, que não engole sapo, contaminados pela soberba da torcida e dos jornalistas, e não se preocuparem muito em marcar essa dupla, como não marcaram Zidane em 2006, poderemos amargar mais uma eliminação precoce. Sem o Brasil, eu torceria para a Holanda chegar à final e devolver e derrota que sofreu para a Alemanha na decisão de 1974, ou para a Argentina, em 1978.

Espero que as pessoas que estiveram comigo, em tantos jogos entre 77 e 81, tenham visto as jogadas do Snejder e viajado no tempo, sentindo de novo a quentura do cimento do Majestoso, só aliviada quando nos levantávamos para aplaudir o Mestre Dicá e companhia, naquela época de fantasia, beleza e alegria.
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