sábado, 31 de agosto de 2013

FRANCES... AH!!!



Sabe quando você está meio sem rumo, meio sem saber o que quer da vida?

Não sabe? Já sei, você é uma daquelas pessoas focadas... Um daqueles... sei; você sabe o que quer... Entendo. Vai ver, você mesmo faz o seu futuro. Já sei: é um vencedor! Pois ponha-se para fora deste blog. Sabe aquele “x”bem pequeno que fica lá no ângulo superior direito da tela? Ponha a maldita seta do seu fucking mouse ali e clique com gosto.

Pronto. Restaram como leitores apenas os meus iguais, ou os parecidos, ou mesmo os totalmente diferentes, mas que não se enxergam como o exemplo vivo das palestras motivacionais. Fico mais tranquilo em escrever apenas para vocês. Sim, porque gosto de imaginar que este blog seja para os perdidos, para os inconstantes, para os deprimidos, ou mesmo para os alucinados que, no lugar de “se focar” em apenas um objetivo, se maravilham com as centenas de possibilidades que enxergam, e só as enxergam porque levantam suas cabeças ou escalam montanhas.

Isto posto, voltemos àqueles dias, ou àquela fase em que estamos meio sem rumo, meio sem saber o que queremos da vida. Frances é uma dessas. Ela acha que quer ser dançarina, mas não parece ter certeza disso. Trabalha como professora de balé para crianças na espera ser escalada para o quadro principal das dançarinas da academia. Ela não percebe que não é muito boa nisso, então vai tomando tombo atrás de tombo.

O que ela gosta mesmo é de conviver com sua amiga Sophie, com
quem divide o apartamento. Parecem feitas uma para a outra. Frances chega a desistir do namorado, que quer que morem juntos, porque não quer largar da amiga. Só que logo em seguida é a Sophie quem larga de Frances, justamente para ir morar com o namorado. Segue uma sequência de tombos: Sophie se muda para o Japão, Frances é dispensada da turnê de dança, não tem dinheiro para pagar o aluguel, não tem onde morar...

Aos vinte e sete anos, portanto não sendo mais nenhuma menininha, Frances até que é bonita, mas muito desengonçada, grandalhona, bagunceira e atrapalhada. Mas, e aqui é que vem o chantilly que une tudo isso e dá um gosto delicioso, Frances é uma figura que nos encanta logo na primeira tomada, em que ela, numa praça, brinca de lutar com a amiga. Engraçada, divertida, leve e
agradável, é daquelas que, no fim de uma noitada com amigos, se um deles diz que gostaria de comer algo, ela vai lá e prepara; daquelas que vê um desconhecido chorando, se senta ao lado sem falar nada, só para que a pessoa sinta que não está sozinha. Enfim, o tipo de pessoa que todos gostam de ter por perto.

Não confundir com personagens saídos de livros de autoajuda, que depois de um tombo saem à luta e conquistam. Não é nada disso. Frances leva tombos e não os encara como lições (blargh!). Ela cai e continua vivendo. Do chão ela é capaz de se encantar tanto com o céu quanto com um par de sapatos passando por ela. Frances é
simples, pura, apaixonada e apaixonante. Vê-la após uma pequena conquista (um novo apartamento para morar com dois amigos recentes), sair correndo e dançando pelas ruas de NY ao som de Modern Love, do David Bowie, é um delírio.

Frances está no imperdível “Frances Ha”, que, filmado em NY em preto e branco (nunca um P&B pareceu tão apropriado), traz ecos de “Manhattan”, de Woody Allen e de filmes franceses da Neuvelle Vague.

Frances é meio que assexuada. É hétero, mas seu maior interesse no momento não é sexo, mas amor. O amor que sente pela amiga é o que a move e move o filme. Em cena chave, Frances, discorre, num jantar com a família de outra amiga, sobre seu ideal de amor: um relacionamento entre duas pessoas que, por exemplo, numa festa, conversando com terceiros e em pontos diferentes da sala, se olham de longe e não veem mais nada além de um ao outro, e quando se olham cada qual sabe que o outro o ama.

Frances está à procura desse tipo de amor, mas no caminho, entre
tantos tombos e saltos, acaba encontrando ainda outra coisa: encontra-se a si mesma, encontro este lindamente demonstrado no take final, que encerra o filme com inteligência, poesia e a contagiante Modern Love, de Bowie.

Presenteie sua alma neste final de semana. Leve-a para ver Frances Ha.
Blog Widget by LinkWithin