segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tio Moa travels with Traveling Wilburys

Abri, num dos últimos pôstis, uma lista dos 10 melhores, digo, dos 10 discos de cabeceira do Tio Moa. O que é ser disco de cabeceira? Ora, vai te catar!
O primeiro foi Weaver, da Sally Oldfield, pelos motivos mencionados naquele pôsti.
O segundo vai aqui: Traveling Wilburys, o primeiro. Traveling Wilburys é o nome da banda do final dos anos 80, que por sinal surgiu por acaso. Um tal de George Harrison (sim, ele, o gênio dos Beatles, aquele cujas canções escreveu em parceria com Deus) queria gravar uma música para ser o lado B do seu single (aqueles discos pequenininhos que tinha antigamente).
Taí o Roy Orbison
Numa noite, George estava jantando com dois amigos. Jeff Lyne, seu produtor e também músico dos bons e Roy Orbison. Deus compunha melodias com George, mas cantava com Orbison. Roy Orbison foi o melhor cantor do mundo, segundo Elvis Presley, que por sinal cantava bocado e sabia do que falava. Até hoje, nunca ninguém cantou igual ao Roy. Quando ele canta, temos a impressão que a voz não é humana, ela nos eleva, nos coloca numa outra dimensão. Ela dá um peso, uma dramaticidade atroz. Para quem não o conhece, mas curte cinema, David Lynch gosta um bocado dele. Crying entra no Cidade dos Sonhos. In Dreams é tocada numa das cenas mais impressionantes de Veludo Azul. Ah, e Pretty Woman é a música tema de Pretty Woman (Uma Linda Mulher).
Onde estávamos? Ah, o jantar. George Harrison queria gravar uma música que estava na sua cabeça e, no calor do vinho e de sei lá mais o que, convidou Jeff e Roy (que andava em baixa há mais de 10 anos) para gravarem com ele no dia seguinte, um sábado. Envolvidos na mesma onda, concordaram entusiasmados. Mas onde? Como reservariam estúdio assim em cima da hora, da noite para o dia? Um amigo de George tinha um pequeno estúdio em casa. Ligou prá ele da cozinha do restaurante. Os cozinheiros pediam autógrafos enquanto ele falava com o amigo, Bob, o maior poeta que a música já produziu.
Na manhã seguinte combinaram de irem juntos no estúdio do Bob, mas no caminho se lembrou que tinha deixado sua guitarra na casa do Tom Petty, do Tom Petty and the Heartbreakers, uma banda muito boa dos anos 70 que varou os séculos. Bom, já que passaram na casa do Tom, chamaram-no para irem juntos gravar a música, ainda sem nome nem letra, na cada do Bob. Com tanta fera chegando, o dono da bola também tinha que entrar no jogo. No futebol o dono da bola normalmente é um menino rico que não joga nada mas tem a bola. Aqui o Bob dono do estúdio era o Dylan. Dono da bola, aqui, tem outra conotação, portanto.
E gravaram, animadíssimos, Handle With Care, que tem uma levada deliciosa à George Harrison, que canta a maior parte da música, com aquela guitarrada solta daqueles mitos, as vozes no refrão, inclusive A do Bob Dylan e, a cereja no bolo, o toque divino: Roy Orbison introduzindo o refrão. Sensacional!!! Veja o video.

George, Tom, Jeff e Dylan na cozinha. Roy de fotógrafo.
Quando George levou o resultado para a gravadora, os caras piraram. “O que? Um single? Com essa voz do Roy Orbison? Isso merece um disco inteiro”. Na hora, George ligou para os outros e todos concordaram em gravar um disco, mas tinha que ser em 10 dias, porque Bob Dylan tinha shows marcados. Decidiram compor e gravar, tudo em 10 dias, tudo a cinco mãos, ou melhor, a cinco bocas, dez mãos, 50 dedos, se é que algum deles não perdeu um por aí. Gravariam no estúdio do produtor de Bob Dylan, mas o estúdio era pequeno demais para os cinco gravarem juntos e ao mesmo tempo, como era a proposta. Mas a cozinha da casa era grande , então gravaram tudo ali mesmo, entre a pia, a mesa e a geladeira. Há um DVD com todo esse registro.
Bob Dylan, Tom Petty, Roy Orbison, Geoge Harrison e Jeff Lane
O resultado desses dez dias é delirante. Os cinco estavam em êxtase criativo. Quatro deles com um êxtase a mais: ver e ouvir Roy Orbison, ídolo de todos eles. Tom Petty diz num DVD lançado recentemente: “se você está sentado no sofá, trabalhando em uma canção e Roy está cantando, mesmo que ele cantasse em um tom suave, é um tom especial, um som especial, um grande presente. Sempre dizíamos isso a ele: 'Roy, você deve ser o melhor cantor do mundo. E ele dizia 'sim, eu sou'. Ele tem a melhor voz da música pop. Você não consegue superá-lo".
O disco é todo sensacional. Todas as músicas são deliciosas. As que Roy canta, são mágicas, como Not Alone Any More, capaz de emocionar até um poste... de concreto. Já ia me esquecendo de dizer que os músicos não assinaram seus nomes no disco, mas nomes fictícios, como se todos fossem da família Wilbury. Nelson Wilbury é George Harrison, Otis Wilbury é Jeff Lynne, Roy Orbison assina Lefty Wilbury, Charlie T. Jr. é Tom Petty e Lucky Wilbury é Bob Dylan.

O sucesso foi estrondoso e resolveram gravar mais um disco, mas Roy Orbison morreu de ataque cardíaco um pouco antes. Ainda assim eles gravaram o excelente Travelling Wilburys Volume 3, que dedicaram a “Lefty Wilbury”. Este segundo disco também merece lugar de destaque em qualquer prateleira. Mas a voz de Orbison no primeiro o leva, definitivamente, à disputada cabeceira do tio Moa.

Tome um treco bom e ouça todo o disco. Uma, duas, muitas vezes.


Um comentário:

Unknown disse...

Valeu Vô Moa. Maravilha de dica prum presente de Noel. Graças a essa dica e à Imensa Teia (como diria Pedro Nuno) vou ouvir essa maravilha ainda na noite natalina, um presente inesperado.
Grande beijo!

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