segunda-feira, 2 de abril de 2012

OLHA A SEMANA SANTA AÍ, GENTE!


Sempre gostei de igrejas. Não há cidade que visito que não acabe entrando numa igreja, principalmente se for antiga. Gosto daquele lugar enorme, quase sem ninguém, e daquele silêncio, ideal para contemplar a beleza da arquitetura e da decoração. Adoro aqueles painéis em que o Jim Caviesel aparece carregando uma cruz. Transmitem sofrimento e paz ao mesmo tempo. Sofrimento pela dor por que passou, mas paz pelo triunfo que teve através dos tempos, afinal, os painéis retratam o que supostamente aconteceu há mais de dois mil anos.

Um parêntese: perdoem-me os religiosos fervorosos pela expressão “supostamente”. Aderi à moda. Tudo agora é suposto. “O suposto assassino da suposta vítima, supostamente teria sido o responsável pelo suposta morte”. Exagero? Ontem ouvi na CBN: “o suposto suspeito...” Que beleza! O cara está sendo investigado, o delegado disse que é grande a possibilidade de ser ele mesmo o assassino; o cara é suspeitíssimo, e o jornalista vem me dizer que é um suposto suspeito? Suposto assassino, vá lá, mas suposto suspeito... coisas da CBN local e de seus fraquíssimos jornalistas.

Voltando às igrejas, houve um tempo em que eu e minha terceira gestora (adoro expressões do mundo corporativo, fazem-me sentir que o Max Gehringer é meu amigo) costumávamos entrar numa igrejinha de uma travessa da Felipe Schimidt, em Floripa, só para ficar sentado lá. Eu ficava quieto, relaxando naquela paz encrustada no meio da balbúrdia do centro da cidade. Ela talvez orasse. Orar parece dar certo: depois que nos separamos, ela encontrou a felicidade, o que aconteceu por mera coincidência e não por relação de causa-efeito... creio.

Os que me conhecem ao vivo e a cores (embora eu ande meio pálido), bem como os que me conhecem apenas de fuçar neste prestigiado blógui, devem estar se perguntando por que estarei eu falando de religião, ainda que saibam que estamos entrando na semana santa. Pois, em verdade vos digo, não há assunto mais apropriado para o momento: depois de uma profundíssima alteração em minha vida, que me tirou a atenção da criação literária e que me fez focar (oi Max, tudo bem?) na nobre tarefa e no prazer de ser pai, período este em que parecia que o blógui havia morrido, eis que estou aqui, ressurgido, ressuscitado! Sim, caros leitores: em plena semana consagrada à paixão e à ressurreição, O Cobra Parada está de volta!

E a semana começou barulhenta: depois de dormir prá lá das 4 horas de uma abafada madrugada, eis que, exatamente às oito da manhã, sou acordado por um milhão de decibéis nos meus ouvidos. Era a oração que ele, ops, Ele, nos ensinou, aquela que na missa a gente deve rezar de mãos dadas, ou com as mãos voltadas para cima, não sei ao certo. O fato é que o pai, ops, o Pai Nosso me deu um susto gigantesco. Levantei desorientado, sem saber de onde vinha aquele som altíssimo. Por um átimo, pensei ter morrido e estar ouvindo as trombetas celestes. Mas estava em meu quarto. Fui à janela. Era uma procissão que passava na rua. Algumas centenas de pessoas atrás de um carro de som. Sim, gente, CARRO DE SOM!!! Trio Elétrico do Senhor! Já não chega os baianos cantando axé? Já não basta os sindicalistas gritando palavras de ordem intercaladas com músicas da Mercedes Sosa e Milho aos Pombos, do Zé Geraldo? Já sei: como os sindicalistas agora estão dirigindo o país, devem ter alugado os carros de som para outros fanáticos.

O fato é que me lembrei, cheio de nostalgia, das procissões noturnas que passavam em frente da minha casa, numa de minhas vidas passadas (aqui a conotação não é espírita: penso na minha infância e nos casamentos que tive como várias vidas diferentes que tive, já que eu era uma pessoa diferente em cada uma delas). Nas procissões da minha vida de criança, que realmente mexiam comigo e me davam, por instantes, vontade de me espiritualizar, as pessoas seguravam velas e estandartes, entoavam cânticos sem microfones nem trio-elétrico. Só as vozes dos seguidores da procissão, e baixinho, em respeitoso volume: nada de gritos ou cantos gospel com prolongados gritos à Whitney Houston, que deus, ops, Deus a tenha. Era muito gostoso ouvir aquilo (não a Whitney Houston, mas as procissões).

Mas estamos na era do espetáculo e do exagero. Daniel, um amigo, fica puto quando vai a um show em que o músico toca para si mesmo, e não para a platéia, como ocorreu no do Hélio Delmiro na última sexta. Pois em procissão deveria ser exatamente assim: as pessoas deveriam rezar para si e não para acordar quem está dormindo. Mas o que esperar deste mundo do espetáculo, em que existe até Drive Thru de oração (sempre passo em frente a esse aí, da foto – qualquer dia vou parar, prá ver qual é), senão uma luta com todas as armas pelos fiéis?

Lembrei-me também daquela do bêbado que, do bar da esquina, observa a procissão que vem com o altar ornado em verde e rosa. Ele grita “olha a mangueira aí, gente”. O Padre solta impropérios contra o bêbado, enquanto a santa bate no galho da mangueira e se espatifa no chão. (não sei por que, mas imaginei o meu praticamente amigo Max Gehringer lendo essa piada com seu jeito de falar de professor de biologia do primeiro grau, e explicando depois a moral da história – é incrível, mas ele ganha dinheiro assim). 

O fato é que estamos em plena semana santa, semana da ressurreição de Cristo e deste blógui, semana em que assistiremos pela enésima vez todos aqueles filmes sobre a vida de Jesus. Impressionante como gostamos (eu, pelo menos, adoro) de ver esses filmes, mesmo sabendo que o herói morre no final. Ontem comprei A Paixão de Cristo, do Mel Gibson (12 reais no Wall Mart), que só vi uma vez, quando foi lançado, mas que me impressionou muito. É um baita filme, embora difícil de assistir pela imensa violência que, a meu ver e ao ver do galã australiano, deve ter acontecido mesmo. Falando em realidade, os personagens falam a língua que se falava na época, o hebraico. De qualquer forma, a história de Jesus é uma bela história, que acalenta gerações e gerações por milênios, e agora, mais recentemente, acalenta também o bolso dos donos de igrejas lucrativas, comerciantes e fabricantes de chocolate. Que venha a semana santa, que por sinal culmina com o feriadão da Páscoa, que aguardo com ansiedade. Páscoa é transformação!

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