Um grava fitas cassete, não quer tomar o coquetel e por isso tem pouco tempo de vida; o outro vende camisetas de bandas famosas de punk e hard rock na rua, é expulso de casa e a namorada está grávida. Além de serem dois ferrados, mais uma coisa em comum: “a polícia atrás deles e eles no rabo dela”. Skunk é negro e pobre - polícia nele; Marcelo ouve "ói o rapa" e sai correndo, carregando o varal de camisetas. Assim eles se encontram; na confusão, o caderno em que Marcelo escreve versos fica com Skunk, que procurava letras para suas bases de rap.
Está em cartaz Legalize Já – Amizade Nunca Morre. O subtítulo, insuportável mania brasileira, aqui tem uma função: mostra que o objetivo do filme não é fazer apologia da legalização da maconha ou contar a história da banda polêmica e porradona. Aliás, quando a banda se forma mesmo, o filme acaba. Quem diria que a origem do Planet Hemp daria um tocante filme sobre amizade e amor? Amor Ágape, diria o Serjão, para fazer diferença entre o amor espiritual e o desejo físico, que caracteriza o amor Eros. No caso, vale mais falar do amor Philos, o da afinidade mental e cultural.
Enfim, o que importa é que o filme é um carinho na loucura, uma trégua nestes tempos de injustificável cólera – só de mencionar que a cólera é injustificável, haverá reações coléricas, aposto. Dane-se! Legalize Já é um filme humano, demasiadamente humano.
Apoiado num ótimo quarteto de atores (além da dupla, tem o Brennand, delicioso personagem do ator argentino, e a namorada de Marcelo), o filme evolui, ora com cenas densas, ora com bom humor - engraçadíssima a cena em que Marcelo, aterrorizado, vê um clipe com algo tipo boquinha na garrafa na TV da loja em que está trabalhando. Ah, é claro: tem boa música – além da trilha, as cenas musicais são delirantes – os atores estão perfeitos nos vocais e gestual.
Quando a banda apenas começava a ganhar estrada, aí termina o filme, a morte de Skunk retratada com delicadeza, numa sequência final tocante e inteligente. No ótimo take final, camisetas do Planet Hemp num varal, dizem por si só sobre a vitória de Skunk. O filme é uma homenagem feita pela ótica do sobrevivente, Marcelo D2, que participou da produção e diz “o Skunk foi um anjo que passou na minha vida e mudou ela completamente, eu vivo um sonho que não é meu. Isso tudo aqui não era para mim, era para ele'.
Skunk, o verdadeiro |