domingo, 8 de julho de 2012

PARA ROMA E NEGRINI, COM AMOR


Eis um dilema universal: 


“E aí, caso com uma mulher tipo A (linda, gostosa e sensual) ou com uma mulher tipo B (inteligente, de bom papo e feita para ser uma boa esposa)?” 


É claro que existem as bonitas e inteligentes, que podemos chamar de tipo C (sendo C=A+B), mas além de serem poucas, elas já estão comprometidas com os Brad Pits, Djokovics e João Wainers da vida (João Wainer, a quem eu desejo a morte - no sentido de transformação, é claro, está trocando fluidos com a Alessandra Negrini, o que me enche de inveja e ódio). Ou seja, eu não tenho chances com essas, do tipo C: não sou famoso (este blógui é, mas o autor não). Também não posso ser chamado de bonito; nem minha mãe dizia que eu era bonito!


Jelena Ristic (namorada de Novak Djokovic)
Deus, se é que ele, ops, Ele, existe e se é que, em existindo, Ele seja responsável por este tipo de coisa, não me proveu com os lindos olhos verdes do Brad Pitt, nem com os azuis do Fábio Assunção, nem com a fama e o tênis do Djokovic, que o faz ter essa namorada aí ao lado. Considero injusto esse descaso divino. A injustiça divina também se manifesta em meu rosto, absolutamente comum; e o comunismo, não o sistema político, mas o fato de ser comum, é, como bem sabem os seguidores deste blógui, um tremendo insulto para mim. Não tenho nem ao menos um corpo como o do Anderson Silva. Bom, pelo menos o criador não me castigou com uma voz horrorosa (tá vendo como Deus castiga quem é de briga? – veja se Gandhi ou a irmã Dulce tinham a voz horrorosa como a do lutador ou a de Hitler... quer saber se uma pessoa é má: ouça sua voz).


Bom, o fato é que, apesar de ser da paz, não sou lindo, nem ao menos bonitinho, nem bem dotado (refiro-me ao aspecto geral dos meus dotes físicos, não ao tamanho do meu membro, assunto do qual prefiro fugir, para não me depreciar ainda mais). Quer mais? Como já disse, não tenho elegância nenhuma. Entretanto, engana-se quem pensa que, por causa disso, não pego ninguém. Minha sorte é que o dilema acima não é exclusividade masculina e que as mulheres, ocasionalmente, optam por homens do tipo B, mulheres que se interessam pela inteligência, e algumas delas realmente acreditam que eu tenho alguma.

"Eu te amo, mas não quero filhos com nariz de batata"
No filme “O Primeiro Mentiroso”, a mocinha bonita gosta muito do Rick Gervais (tipo B), mas como no filme ninguém (exceto o protagonista) sabe mentir, ela responde negativamente ao pedido de casamento: “apesar de gostar muito de você, não quero que meus filhos sejam gordinhos e tenham esse nariz de batata”. Já em “Para Roma, com Amor”, leve e deliciosa comédia do Woody Allen que está em cartaz, um estudante de arquitetura (Jesse Eisenberg, “A Rede Social”) mora com uma boa moça do tipo B que recebe em sua casa, para passar uns dias, sua melhor amiga (Elen Page, a Juno, bem crescidinha), um furacão do tipo A. O dilema do jovem entre os tipos A e B rende ótimos momentos, principalemnte porque ele é orientado por uma espécie de alter ego, seu ídolo e famoso arquiteto (Alec Baldwuin – 30 Rock). Aliás, o personagem lembra o Bogart de "Sonhos de Um Sedutor", filme de Woody Allen de 1972.


A famosa atriz na frente do livreiro de esquina:
“Não se esqueça. Eu sou apenas uma garota, parada
em frente a um garoto… pedindo a ele para amá-la.”
O dilema também pode ser transposto para a crítica cinematográfica. Há filmes que nos divertem, nos grudam na tela e que podemos assistir várias vezes (tipo A) e filmes com grande qualidade artística, densos, com mensagem e que deixam uma marca profunda (tipo B). Exemplos: “Eclipse” (maravilhoso filme do Antonioni), é do tipo B e “Um Lugar Chamado Nothing Hill” (deliciosa comédia romântica com Julia Roberts e Hugh Grant) é do tipo A. Pergunta qual tem maior contribuição artística. “Eclipse". E qual vejo mais e me divirto todas as vezes? "Nothing Hill". Terceira pergunta: qual é o melhor? Não há resposta, os dois tipos podem ser bons ou ruins. No caso dos citados, os dois são ótimos.
  
Mas muitos críticos não pensam assim. Veja este trecho de uma crítica do Correio Brasiliense sobre “Para Roma, com Amor”, com o qual ele fecha a ideia que desqualifica o filme:

“Ainda que o resultado seja agradável (e dê vontade de passar algum tempo em Roma) e divertido de assistir, fica a sensação de que foi realizado ... pra "marcar tabela", como aqueles turistas que passam por 12 capitais em duas semanas pra dizer "eu estive aqui", e não para criar uma memória duradora. 

É como se ele dissesse: eu sei que fulana é linda, gostosa e sensual, mas mulher assim só pode ser vagabunda.  Ora, se o filme “turístico”, como o próprio crítico classifica, é agradável, divertido e inspira vontade de conhecer Roma, então o filme é muito bom, pois cumpre o que promete. Já o crítico, bem... Percebe-se que ele não gostou, que ele preferia que o filme fosse criasse “uma memória duradoura”. Bom, um crítico deve saber que o Woody Allen sabe criar memórias duradouras e se não o fez foi porque não quis. O filme revela claramente que quer brincar com os estereótipos ao utilizar as referências claras ao imaginário sobre Roma e sobre os italianos: cinema de Fellini, música italiana que fica entre o romântico e o brega, fama de conquistadores que os italianos tem, o romantismo, a ópera, as celebridades instantâneas e os paparazzis, e provavelmente mais um monte de referências que eu não detectei enquanto me divertia, mas que um crítico deveria ter enxergado. Quando um crítico desqualifica um filme pelo que não é e pelo que acha que deveria ser, ele age como um frustrado por não ser cineasta, age como nós, que gostamos, ou não, de um filme. Só que nós não somos pagos para trazer informações que ajudem os leitores a interpretar uma obra.

Woody Allen é como as mulheres do Djokovic, Brad Pitt e João Wainer: unem os tipos A e B. Ele, como poucos, pode fazer os dois tipos de filme, os que servem para divertir (como “Scoop”e “Para Roma com Amor”) e os que servem para deixar uma memória duradoura (“Match Point” e “Meia Noite em Paris”). Só para citar um utro capaz disso: o genial Billy Wilder tem o denso, profundo e filosófico “O Crepúsculo dos Deuses”, que está em qualquer lista de melhores filmes da história e “Quanto Mais Quente, Melhor”, a melhor comédia rasgada de todos os tempos. Filmes dos dois gêneros podem ser bons ou ruins.

Os bons críticos jamais confundem contribuição artística e densidade com qualidade. Eles sabem que a qualidade de um filme não se mede pelo objetivo do cineasta (ser divertimento leve ou um filme denso e filosófico), mas pela forma como ele cumpre o que promete. No caso de “Para Roma, com Amor”, que claramente pretende ser uma comédia leve que se propõe a fazer rir com os estereótipos italianos, e não a discuti-los, só tenho a dizer: vá ao cinema e divirta-se, como o grande público tem se divertido.
  
Aos leitores deste blógui esclareço que a diferença entre filmes e mulheres é que quanto aos filmes, o que nos importa a nós, expectadores, é que tenham qualidade. Já quanto às mulheres, o que importa a nós, homens, não é que sejam do tipo A, B ou C, mas simplesmente que nos queiram. Portanto, eu não ouso, e nem estou em posição para isso, recusar nem as lindas e sensuais, nem as inteligentes e de bom papo, muito menos as que reúnem os dois tipos, como a Alessandra Negrini, um ABC completo, a quem imploro que se inspire nos bons críticos e veja se esse fotografozinho de corpinho sarado pode, como eu, que não tenho nada além de um cérebro razoável e um bom coração, fazer aquilo a que um homem "prá você chamar de seu" deveria se propor: dar à sua vida um bom roteiro e enchê-la de luz, de planos, contra-planos e de densidade pictórica.

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