segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

DEUS E O DIABO NA TERRA DO POLITICAMENTE CORRETO


Uma das coisas que mais funcionam no planeta é o equilíbrio dinâmico. Ahn? Não é leitor contumaz do Cobra Parada e, portanto, não tem o mesmo nível de conhecimento, informação, inteligência, cultura, talento e beleza? Não tem problema, eu explico: sabe o yin-yang? Deus e o Diabo?

O equilíbrio dinâmico a que me refiro é o que acontece quando uma coisa está indo muito para um lado – uma reação social surge e empurra para o outro. Com o equilíbrio dinâmico, nada tão ruim pode durar tanto tempo. O holocausto, por exemplo, acabou não durando, porque o resto do mundo reagiu... Bem, pensando bem, não posso dizer que o holocausto não durou muito tempo: não deveria ter durado nem um dia. A ditadura no Brasil durou 20 anos.

Outro exemplo de equilíbrio dinâmico é a Wikipédia. Vá lá e escreva uma bobagem qualquer, como que a Ponte Preta foi campeã brasileira de futebol 1977. Vai ficar lá por um tempo, até que alguém vai perceber e alterar, corrigindo o ano em que a Ponte Preta foi campeã brasileira para 1978. Lembram-se da praga do “gerundismo”? Vou estar te lembrando, leitor esquecido: lá pela virada do milênio, por alguns anos todo mundo falava “vou estar verificando”, “vou estar corrigindo”, “vou estar lendo”, “vou estar parando de dar exemplos”. Até que um movimento pela internet começou a ridicularizar a mania, que aos poucos foi perdendo força e hoje só se faz notar nos call centers, que demoram mesmo um tempão para estar percebendo as coisas.

Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. O problema é o tempo que dura até que o equilíbrio dinâmico se imponha. Pode levar muito tempo, como o holocausto e a ditadura brasileira. Tomara que leve menos tempo para que a praga do politicamente correto seja extinta.

Vinícius pediu desculpas às feias para dizer que beleza é fundamental. Eu peço aos burros, para dizer que a burrice é uma epidemia devastadora. Só gente sem noção para querer posar de boazinha, para querer estar do “lado certo”. Precisa ser burro demais para querer corrigir livros clássicos como se eles fossem responsáveis pela escravidão e pela maldade humana. E gente que quer ter uma boa conversa para mudar alguém, sem perceber que suas “boas conversas” anteriores tenham sempre, em bom português, dado merda? Mais do que prepotente, só sendo burro para achar que se pode mudar o outro e transformá-lo numa “pessoa melhor”.

Foi gente burra que, incapaz de analisar um contexto mais amplo e formular questões mais complexas, inventou o “politicamente correto”. Sabe o que é o “politicamente correto”? É, mais ou menos, um guia formulado por burros influentes e destinado a burros populares para que estes não precisem interpretar os fatos, não precisem analisar contextos: basta tomar a posição definida como a certa e pronto, podem ser consideradas inteligentes. Gente assim não sabe que as pessoas carregam o mal dentro de si, que as pessoas têm impulsos de quebrar a cara do marido ou da vizinha, mas que uma moral coletiva as impede (nem sempre).

“Temos que sufocar nossos impulsos, mas às vezes não queremos sufocá-los”. Essa frase é dita pelo ator John C. Reilly no filme “Deus da Carnificina”, dirigido por Roman Polansky. O filme fala, num primeiro nível, desse mal que carregamos, dos nossos impulsos que a vida em sociedade nos impede de dar vazão. Mas nada como “uma boa conversa” para aflorar nossos impulsos e nosso desejo de extravasá-los.
A história: dois filhos brigam num parque e os dois casais de pais (gente de bem) estão reunidos para conversar a respeito. No início, tudo bem, com respeito mútuo e posições amenas. Mas ao discutir o que não precisava ser discutido (crianças brigam e pronto), os nervos vão se aforando e as coisas saindo do controle.

O filme começa com um certo constrangimento, que vem do fato de que os dois casais são muito reais, casais que poderiam ser cada um de nós. Todo o filme se passa num apartamento, com apenas 4 atores (Reilly, Cristoph Waltz, Kate Winslet e Jodie Foster), todos incríveis. O constrangimento vai aumentando, aumentando, até chegar a níveis extremos, algumas vezes hilários.

O texto é uma porrada no politicamente correto. A mãe do agredido quer que os pais do agressor conversem com o filho como ela conversaria e aplique um castigo como o que ela aplicaria, afinal, ela é adepta do “guia de procedimentos” estabelecido pelo politicamente correto. E mexer com isso é mexer num vespeiro.

“Honestidade é uma estupidez. Você enfraquece e baixa a guarda”.

Cada pequena assunto que vem à tona torna-se extremamente exaustivo. Mas na discussão que não se acaba, algumas verdades duras são ditas.

“O casal é a mais terrível provação que Deus nos infligiu. Crianças sugaram nossas vidas e as deixaram desgastadas e vazias. É a lei da natureza”.

“Pare de fungar desse jeito... Choro de mulher leva os homens ao limite da paciência.”

“Dá um tempo. Já chega com essa merda de politicamente correto... Essa sua paixão pelos negros do Sudão está afetando tudo agora.”

“Como você pode ser tão abertamente desprezível?”
“Porque estou a fim de ser abertamente desprezível!”
“Você é mais sincero quando é abertamente desprezível.”

“Vocês não se preocupam?”
“Sim, nós também nos preocupamos, mas de um modo histérico, não como figuras heroicas do movimento social.”

O constrangimento que “Deus da Carnificina” proporciona nos prende à trama desde o primeiro instante e em muitos momentos traz situações muito engraçadas. Diz-se que rimos do macaco porque ele faz coisas que se parecem com as que fazemos. Pois os momentos mais engraçados do filme são aqueles em que, de saco cheio de posições politicamente corretas que alguém quer impor ao outro, algum personagem explode como cada um de nós gostaria de explodir e diz coisas que adoraríamos dizer.  

“Pelo menos nosso filho não é um veadinho covarde”

“Esses dias vi sua amiga Jane Fonda na TV e tive vontade de comprar um pôster da Ku Klux Kan.
“Minha amiga Jane Fonda? Mas que diabos quer dizer?”
“São da mesma espécie. Mesmo tipo de mulher engajada que soluciona problemas. Não é dessas que gostamos. As que gostamos são sensuais, malucas, cheias de hormônio. As protetoras do mundo? Extremamente brochantes. Até o coitado do seu marido perdeu o tesão.”

Vejo “Deus da Carnificina” com uma esperança, a de que ele represente o início de um movimento social de equilíbrio dinâmico e gere o declínio dessa praga fascista de imposição de opinião conhecida como “o politicamente correto”.

“Como a deixa chamar nosso filho de criminoso? Viemos aqui para resolver as coisas com eles e eles nos insultam, nos intimidam, dão sermão sobre ser um bom cidadão do planeta... (À outra) Que bom que nosso filho encheu o seu de porrada. Estou cagando para seus direitos humanos.”

2 comentários:

Bruna Bucci disse...

Acho que vc precisa ler mais seu próprio blog. Sua definição do que seria o politicamente correto não condiz com o dito "nível de conhecimento, informação, inteligência, cultura, talento...", pelo contrário, parece coisa de um leitor contumaz de reinaldo azevedo e pondé, os imbecis do politicamente incorreto.

(Acho essa peça sensacional também, ainda que por razões distintas...)

Tio Moa disse...

Nossa! que ira!!!
Bruna, com tanta coisa para ler, não vou perder tempo lendo o que já escrevi! Nem reviso os posts...
Não fique furiosa com minha definição de politicamente correto, que não é nenhum tratado. É mais o que o "politicamente correto" acabou virando do que uma definição. Não sei se chiar contra o livro do Monteiro Lobato, por exemplo, é algo politicamente correto ou se é apenas uma burrice e uma insanidade. Mas tenho certeza de que quem chiou o fez pensando ser o politicamente correto a fazer. Portanto, não leve minhas "definições" tão a sério. Leia mais leve que notará que é mais a ironia do que o rigor e a exatidão que me movem.
Quanto ao "nível de conhecimento, informação, inteligência, cultura e talento", gostei da sua ironia. Claro, não foi lendo este blog que os leitores que possuem tais qualidades, como é o teu caso, as desenvolveram. E não será o meu caso, minha pouca inteligência é suficiente para eu saber disso. Também por isso leio outras coisas.
Não gosto do Reinaldo Azevedo, acho seus textos chatos, por isso não leio, há mito muito tempo, absolutamente nada dele. Quando li achei sem ironia, no máximo com sarcasmo. Gosto do Pondé, acho-o divertido mesmo quando escreve o que considero bobagens. Prefiro uma bobagem divertida do que algo correto, mas chato, como lição de moral, por exemplo. Não sou contumaz nem na leitura no Pondé nem em nada do que faço. Tampouco sou do tipo que segue alguém ou alguma ideologia ou religiões. Já fiz isso na época que eu era politicamente correto. Hoje não mais o faço. Por isso não sou dogmático como a maioria dos politicamente corretos, que se ofendem com tudo, até com o criador da Tia Anastácia
Mas quando algo incomoda muito a muita gente, as ideias em contrário começam a bater. Pondé, eu (olha que pretensão!), o filme, a peça (o filme tem outro tipo de alcance), etc. Hoje mesmo ouvi no rádio um pessoal conversando sobre isso, também estão de saco cheio dessa gente PC. Alguém disse que está muito chato essa mania aqui no Brasil, que cansou.
Não li a peça nem vi sua encenação. Mas se o filme não alterou o texto (imagino que não), ela é realmente ótima, também por outros razões.

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