A mais nova propaganda de óleo para motor mostra Cafu com um bigode, se disfarçando para poder jogar num torneio só para mecânicos. Os adversários perguntam se ele é o Cafu, os outros dizem que não, e Cafu explica que entende de partida, mas de motor. Engana os adversários, burlando a regra, e assim que o jogo começa, faz um gol do meio campo, exacerbando a diferença técnica e física entre as equipes devido à inclusão ilegal do jogador travestido de mecânico. A bola foi para as redes e a ética para o ralo!
O que é isso? Porque ninguém reclama? Onde está o CONAR - Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, que inclusive já retirou de uma propaganda Ronaldo segurando um copo de cerveja (beber não pode, mas enganar pode)? E as dezenas de institutos de ética que tem por aí? O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios inclusive tem o seguinte texto na capa de seu site.
“A Ética é a base da atuação responsável empresarial e o passaporte para a Sustentabilidade”, pois, se os negócios forem conduzidos de maneira ética, íntegra e honesta, a empresa também será socialmente responsável e ecologicamente correta. A missão da nossa instituição é fomentar a Ética no meio empresarial e também junto as crianças, jovens e universitários porque os estudantes de hoje serão os colaboradores, executivos e proprietários das empresas de amanhã. É desta forma, contribuindo para a melhoria da qualidade ética das empresas e para a formação de adultos-cidadãos e líderes eticamente responsáveis que potencializamos a perspectiva de um futuro mais ético e assim, naturalmente Sustentável."
E você, o que achou da propaganda? Vou adivinhar: achou engraçada, nem tinha percebido que elogiava a enganação para benefício próprio. O próprio Cafú nem deve ter percebido. Uma propaganda com gente simples, jogando uma pelada, uns velhos e uns barrigudos contra um jogador de nível profissional usando um bigode postiço engraçado, que faz seu time obter vantagem competitiva ilegal. Você riu, certo?
Calma, você não é diferente da esmagadora maioria do povo brasileiro.Todos acham a propaganda engraçada. E, convenhamos, é só uma enganaçãozinha de nada, uma falta de ética pequenininha, que só prejudica uns barrigudos com cara engraçada jogando bola no campo do Juventus.
Tudo bem, porque falta de ética mesmo, de verdade, é só aquela que prejudica pessoas magras e saradas jogando bola no Morumbi, certo? É só aquela que arrecadou 3 mil reais ou esta também é pequenininha e devia ser errado só se arrecadasse mais de 100 mil reais? Já sei: talvez o problema seja a falta de regras claras sobre os limites da ética ou da corrupção. Por exemplo, economizar material para a construção de um prédio só deveria ser crime se matasse mais de 10 pessoas. Até 9 seria apenas uma pequena falta de ética.
Mas como não há regras claras sobre a ética, você não tem nada que ficar indignado se um funcionário da área econômica do governo passar informações privilegiadas para que alguém obtenha vantagem competitiva e com isso obtenha lucro. Dê uma risadinha, é o Brasil. Também não se finja de pasmo quando um político sabidamente corrupto é eleito, e com a maior votação de um deputado no Brasil. Se você ficar indignado é um careta, não tem humor, não entende a cara do Brasil, não é patriota.
Simão Bacamarte, o Alienista, personagem de Machado de Assis, achava que a loucura era uma pequena ilha perdida no imenso oceano da razão. Depois, ao ver que, de perto, todo mundo era pelo menos um pouco louco, começou a perceber que a loucura, na verdade, era um imenso continente, e a razão, um pequeno lago. Acaba concluindo que, se o normal é ser louco, então deve ser internado como louco quem é normal.
Conclusão: devemos é calar a boca no lugar de criticar alguém antiético. O Brasil é o país antiético por convicção. É um país corrupto e acabou. Um país que ri das suas desgraças e das suas mazelas. E quem for contra não é brasileiro.
Mas, como estamos na Copa, voltemos ao futebol, e, como cobra parada não engole sapo, vamos juntos, torcer pela seleção de brucutus-focados do coerente-com-a-mediocridade Dunga, contra os verdadeiros artistas (argentinos, alemães, holandeses e até chilenos), afinal, somos todos guerreiros, brasileiros e patriotas, embora um pouco, só um pouquinho, antiéticos e corruptos. "Maish quem não é?"*.
"Sou, mash quem não é?" era o bordão do bêbado Tavares, um engraçadíssimo personagem com que Chico Anísio ironizava o perfil do canalha brasileiro.
2 comentários:
Uia! Que forte!! Mas, ainda sobre futebol, o que foi aquele segundo gol da Inglaterra? E o goleiro alemão? Ele VIU!! E não disse nada. Isto é ético ou está fora de discussão? Quem decide é só o juíz! Por que os jogadores voam em cima do juíz pra pedir uma falta no meio do campo?! Eles podem se manifestar, requerer (sempre em favor próprio, com ou sem razão - o que já é outra discussão). Mas, o goleirão ficou quietinho. E o jogo perdeu a graça totalmente.
Não sou brasileira, eeee
Postar um comentário