Sempre que estou em uma sala de aula falando sobre liderança, surgem perguntas sobre grandes figuras da humanidade, como Jesus, Gandhi e até Hitler. Entendo a necessidade de exemplos mais clássicos para fechar os conceitos, mas prefiro cravar um limite: a liderança que nos interessa é aquela envolvida até o pescoço com o bem comum, o bem de uma coletividade maior que o grupo que comanda e cuja conquista tem função nobre e edificante. O mundo corporativo, para o qual ajudo a preparar universitários, precisa, neste momento, muito mais de cooperação e mobilização integrada do que de competição selvagem.
Feita a introdução, e a fim de acalmar os ansiosos leitores da primeira postagem do blog, curiosos com a mistura do assunto do momento (Copa, Seleção, Dunga) com o sempre interessante tema da liderança, lanço-me com uma pergunta ao estilo das de alguns de meus alunos: Dunga é líder?
Em primeiro lugar, temos que lembrar que ele foi contratado para ser o técnico da seleção brasileira, função para a qual ele nunca teve experiência. É sua primeira vez como técnico, justo ele, que disse não convocar o Ganso, do Santos, o melhor jogador brasileiro no momento, por falta de experiência. Mas fugirei dessa discussão porque para levar a seleção brasileira a uma conquista como a Copa, não bastaria, de qualquer forma, ter os melhores jogadores e um técnico experiente.
Podemos traçar, sem forçar a barra, um paralelo entre o que é necessário para conseguir ser campeão de uma Copa do Mundo e liderar com sucesso uma organização. Tão ou mais importante que escalar os melhores (competências profissionais), implantar um esquema tático de jogo (planejamento estratégico), alterar esse esquema durante um jogo (ação estratégica), é preciso fazer com que todos tenham o mesmo objetivo, nobre e estimulante, que no caso poderia ser a felicidade da nação brasileira, para a qual o futebol tanto importa. E é apenas nisso que vou entrar: Dunga, como líder, transmite esses objetivos com clareza?
Dunga, há muito tempo, apresenta um comportamento perturbador: quando das vitórias (felizmente muitas), não comemora com a nação brasileira, a quem elas deveriam ser dedicadas. Pelo contrário, nos seus contatos com a nação, nas entrevistas, tripudia dos jornalistas, que perguntam o que o Brasil quer saber, destila veneno e exalta sua vitória individual contra todos os que duvidaram dele. Foi assim quando ele explicou porque não levou o jogador que os brasileiros queriam, foi assim antes da estréia, e vem sendo assim durante a copa, após as vitórias, com o agravante que seu comportamento vem afrontando jornalistas de todo o mundo. Dunga agora é unanimidade mundial.
Ao contrário do que se deve esperar do líder de um grupo, Dunga dá mostras de perseguir, em primeiro lugar, objetivos pessoais, como usar uma eventual conquista para calar a boca dos jornalistas e de todos os que se opõem a ele. E, como já apontou Juca Kfouri em seu blog, os jogadores, como garotinhos mimados, estão seguindo o mesmo modelo, reclamando de tudo o que a imprensa escreve ou fala.
Por tudo isso, agora, antes do final da Copa e no fervor seguinte à boa atuação contra Costa do Marfim, eu cravo: não seremos hexacampeões. Não temos liderança por parte de quem deveria exercê-la.
Mas há alguma esperança, e novamente cito o mundo corporativo. Uma liderança tóxica pode, é claro, destruir uma empresa. Mas algumas delas acabam sendo salvas por movimentos de lideranças internas, de alta credibilidade, que perseguem objetivos mais nobres e acabam mudando o rumo da prosa. Kaká e Lúcio parecem ser líderes com potencial para assumir a responsabilidade de liderar o grupo, e, sabendo que cobra parada não engole sapo, talvez já estejam fazendo isso, isolando a liderança tóxica do medíocre técnico que temos. Em caso de vitória na Copa, é fácil imaginar as entrevistas do insuportável Dunga vociferando contra o povo brasileiro. Mas quem o ouviria, se todos estaríamos nas ruas comemorando e reafirmando nossa frágil condição de insuperáveis?
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