sábado, 26 de junho de 2010

Crítica: “TUDO PODE DAR CERTO” SE VOCÊ FOR VER O NOVO WOODY ALLEN


A crítica do Correio Brasiliense sobre “Tudo Pode Dar Certo”, filme do Woody Allen em cartaz nos cinemas, diz que a obra “cabe na prateleira dos filmes em nada sensacionais do diretor...” Somado com o resto da crítica, esse “nada sensacionais” significa algo do tipo “não vá”.

Já a Folha de São Paulo apresentou uma crítica oposta, do Inácio Araújo: “o trabalho mais estimulante do autor ao menos nesta década”. Lembro que esta é a década das porradas “Match Point” e “Sonho de Cassandra”, das comedionas “Escorpião de Jade” e “Scoop” e, afinal, de “Vick...”.

Por que duas análises tão diferentes? Questão de gosto? Pode ser, isso também compõe uma crítica. Mas o gosto pessoal não deveria influenciar a ponto de falar que o filme é pessimista. Como diria minha tia mineira, “de jeito maneira”! O filme é muito, mas muito otimista! A gente sai prá cima, revigorado. Inácio Araújo concorda comigo (ele deve ser interessadíssimo no que eu falo...); diz que é um filme otimista contado por um pessimista. Aí sim. Vejam como um olhar para a sutileza faz toda a diferença.

Personagens pessimistas e neuróticos, aliás, são típicos de Woody Allen, mas Boris, o protagonista, vai muito além: mais que rabugento, ele é grosseiro e ofensivo. Provavelmente por isso Woody Allen não tenha se escalado para o papel; pequeno e com aquela cara engraçada e desprotegida, talvez não conseguisse o efeito que conseguiu brilhantemente o comediante Larry David, que ainda assim é engraçado e simpático.

Outra do crítico do CB: o protagonista olha para a câmera “num recurso extremo, para suplicar a identificação com os espectadores”. Chamo novamente minha tia: “de jeito maneira!”. Falar para a câmera é muito mais um recurso de quebra, usado para acordar e tirar o expectador do torpor da identificação com a historia e despertá-lo para a análise crítica. No filme, esse recurso surge exatamente reforçando a diferença entre Boris e a platéia, até porque quando se dirige a nós, é só para dar porrada! Mete bala no nosso senso comum. Além disso, o recurso traz algo novo: a reação dos demais personagens.

A concordar com o crítico do CB: a “sogra” de Boris é espetacular. A atriz e a personagem. Woody Allen é um dos poucos capazes de construir personagens tão estranhos, engraçados, e colocá-los todos juntos em situações inusitadas. Em TPDC essa mistura é costurada com inteligência e equilíbrio. A metralhadora de Woody Allen na boca de Boris/David dispara piadas a todo instante, em ritmo incrivelmente crescente.

A história fala de coisas que nos atormentam diariamente, como nossos desejos e questiona se o rumo que tomam nossas vidas depende de nossas escolhas, de nossos esforços ou do simples acaso. Isso, aliás já foi tratado no pesadíssimo Match Point. Tratar do mesmo tema, mas de forma deliciosamente irônica mostra que o gênio Woody Allen não está apenas em plena forma, mas cada vez melhor. A cena final, com uma mensagem direta é brilhante. Dizem que é o bom e velho Woody Allen de volta às suas neuroses e a New York. Sim, mas as neuroses são exatamente as nossas, de homens comuns vivendo em grandes cidades. A única diferença é que seus personagens pensam alto.

Falando em altura, faça um favor a você mesmo: vá ver esse filme e experimente a sensação de sair feliz e leve! Depois vá à estante das obras de Woody Allen e coloque este na prateleira dos filmes sensacionais do diretor, aquela que fica mais alta, que só gente com espírito leve e solto consegue alcançar.

2 comentários:

Néia Guimarães disse...

Este CB ,deveria escolher melhor seus criticos!!!

Aline disse...

É impressionante como "as pessoas" do filme são reais. Podiam ser meus vizinhos! O Woody Allen consegue isso: mostrar a realidade de forma artística. E os sentimentos (que não são simples nem poucos!) se misturam com os nossos. É mesmo irresistível!

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