sexta-feira, 2 de julho de 2010

BRASIL E HOLANDA – EFICIÊNCIA X ARTE

Ôba, um post sobre futebol! Que legal! Copa é Copa, não é hora de filminho, de musiquinha, de elomarzinho.

Então vamos lá: O Brasil ganhou a copa de 1970 (minha primeira copa) jogando o futebol mais lindo que já vi até hoje, junto com outros dois times: a seleção de 1982 e um outro que depois eu conto.

Em 70 tinha Pelé e Tostão. Tinha Rivelino, de quem Maradona diz ter sido fã e o melhor jogador que já viu. Tinha Jairzinho, que marcou gol em todos os jogos daquela Copa.

A seleção tinha também Clodoaldo e Carlos Alberto. Mas também tinha, e é nele que quero chegar, o Gerson, que fazia lançamentos muito, muito longos, e incrivelmente precisos. Alguns dos gols mais lindos daquela copa saíram de seus lançamentos. Gerson lançava curvando o corpo, que ficava côncavo. Uma beleza!

Mas houve um jogador cujos lançamentos eram ainda mais fascinantes: Dicá, da Ponte Preta. Eu cresci vendo Dicá no estádio, ao vivo. O detalhe fascinante de seus lançamentos: eram feitos lá de trás, no campo de defesa, para um atacante 50 metros à frente. E daí? Qual é a graça? Explico: dessa distância, o zagueiro tem toda chance de interceptar. Só que o zagueiro saía correndo para um lado, mais para o meio, onde, pela trajetória, a bola chegaria. Já o ponta direita (Lúcio), corria abrindo pela lateral. A força exata para a bola cair no gramado antes de chegar ao zagueiro, mais o efeito da “trivela” de Dicá, faziam com que a bola, após bater no gramado, mudasse totalmente sua trajetória, indo adivinha para onde? Isso, para a direita, onde Lúcio esperava para fazer a festa, com a defesa adversária descomposta. A torcida aguardava momentos assim, mágicos, o jogo todo. Com Dicá em campo, mais cedo ou mais tarde, eles aconteciam. A torcida ria, aplaudia, delirava. Ali foi que aprendi, ainda antes de mergulhar no teatro, cinema e na música, o que era arte, o que era a beleza.

E o que tem tudo isso a ver com Brasil e Holanda, que jogam pela Copa da África? Tudo. A Ponte Preta, um dos 3 times que jogaram o futebol mais bonito que já vi, no ano em que foi considerada o melhor time do Brasil perdeu a decisão para o Corinthians, um time sem brilho, mas com uma eficiência impressionante (um ano antes, eliminara do campeonato brasileiro outro time que jogava muito mais bonito, o Fluminense, a chamada máquina).

Pois no jogo entre Brasil e Holanda, desta vez somos nós somos o time sem brilho (calma! não é limitado, não é sem técnica, mas não tem o mesmo brilho, ou arte) e a Holanda, na minha opinião, representa o brilho, a arte. Isso porque eles tem o Snejder, que outro dia fez um lançamento de Dicá, o primeiro que vi em 20 anos, desde a aposentadoria do mestre. O mesmo efeito, o mesmo zagueiro perdido, trançando as pernas, e o Robben pegando a bola do outro lado: gol. Em outro jogo, novamente um lançamento quilométrico, mas desta vez mais direto, tipo Gerson, e de novo para Robben, o Jairzinho deles. E de novo gol.

Mas a Holanda não tem só os dois, não. Tem muitos bons jogadores. Apesar disso, e de saber marcar, a Holanda não é o Brasil, que sabe ganhar. Se os brasileiros ficarem como cobra parada, que não engole sapo, contaminados pela soberba da torcida e dos jornalistas, e não se preocuparem muito em marcar essa dupla, como não marcaram Zidane em 2006, poderemos amargar mais uma eliminação precoce. Sem o Brasil, eu torceria para a Holanda chegar à final e devolver e derrota que sofreu para a Alemanha na decisão de 1974, ou para a Argentina, em 1978.

Espero que as pessoas que estiveram comigo, em tantos jogos entre 77 e 81, tenham visto as jogadas do Snejder e viajado no tempo, sentindo de novo a quentura do cimento do Majestoso, só aliviada quando nos levantávamos para aplaudir o Mestre Dicá e companhia, naquela época de fantasia, beleza e alegria.

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