quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Incrível História do CPNES - Parte 3

Na parte 1 você viu que o “Cobra Parada Não Engole Sapo” (CPNES) foi um grupo que fez arte no início dos anos 80 e mudou a cara de Brasília, do Brasil e, por conseqüência, do Mundo, no campo das artes, da política e da filosofia. Você viu também o quanto os brasilienses Renato, Bi, Dado e Dinho, ícones do Rock Brasil dos anos 80, viajavam com o CPNES e o quanto foram influenciados.


Na parte 2 você foi lembrado de que o CPNES foi um grupo que fez arte no início dos anos 80 e mudou a cara de Brasília, do Brasil e, por conseqüência, do Mundo, no campo das artes, da política e da filosofia. Você também conheceu 3 membros do grupo: o Panta, o Sobral e o perseverante Marcovitch

Esta parte 3 terá é dedicada ao único galã, do grupo, desaparecido em circunstâncias misteriosas.

Membro número 4: Um cantor e poeta cearense, autor de Pavão Misteriozo (pavão misteriozo/ pássaro formoso/ tudo é mistério/ neste seu voar), costumava andar por Brasília, cantando em festivais, se deliciando com a cidade planeta e passando horas no Beirute, um bar freqüentado por artistas, gays, pais e mães de família totalmente normais, peladeiros pós-pelada, punks e pats. Era, e ainda é, um bar eclético e de aceitação. Naquela época era comum você conhecer gente nova e de lá sair para uma festa ou mesmo para um singelo passeio pela superquadra, entre a relva e os majestosos fícus benjamins, ceratonas e ipês. Ednardo saiu do bar para dar um desses passeios e encontrou pelo caminho um caipira risonho e viajandão, dando voltas com os braços abertos até deitar no chão e olhar pro céu. Ednardo estava admirado da cena, um cara sozinho no meio da superquadra, brincando de super-homem ou de avião.
- Quer viajar? Deita aí e olha pro céu.
Ednardo obedeceu.
- VeR o céu ajuda a abriR a poRta da peRcepção.
Imagine essa última frase dita com um sotaque bem caipira do interior de São Paulo
- Qual a sua graça?
- Ednardo – que riu da expressão antiga para perguntar seu nome.
- Prazer, Altibano.
Aquele cara não existia, pensou o cearense, achando que o cara tivesse fumado algo. Ele não conhecia mesmo o Tiba... Quando voltou para a mesa, Ednardo pegou uns guardanapos e começou a escrever. A maravilhosa “Serenata prá Brazilia” diz o seguinte:
É uma ilha solitária, mil sotaques
Uma trilha que descobre uma Babel
Encruzilhada de destinos
Super-homens, super quadras, multi-solidão
Cidade-avião, vôo rasante, aeroplanta, o Altibano do chão
Cidade planeta, um desaguar de viajantes...

Quando gravou a música, Ednardo resolveu subsituir Altibano por Altiplano, para evitar comentários maledicentes.

Para quase tudo o que se falasse ao Tiba, ele respondia com “É”, um misto de exclamação e pergunta, como se não soubesse do que se tratava mas devesse concordar. Estava sempre meio perdido, meio deslocado, mas encantava-se por tudo, especialmente por mulheres. Com aquele ar perdido que as mulheres amam, e com seu tipo entre o galã e o jeca, Tiba era irresistível. As meninas, e até um menino, o amavam. Mas Tiba não amava ninguém. No máximo, comia, quero dizer, alentava esperanças. Mas nada, nem ninguém, podia amarrá-lo.

Mas nem tudo são flores na vida, nem na do Tiba. Um dia, Tiba estava num ambiente formalíssimo e sisudo de trabalho (achavam que ser sério era ter compromisso e civilidade – rir era quase uma subversão). Juntando a paixão por desafiar a força da gravidade (mania de voar), a mania de afrontar autoridades (como típico membro do CPNES), sua condição de totalmente perdido e sua genialidade, Tiba viu um tubo no chão e um pedaço de madeira por perto. Não teve dúvidas: pos a madeira sobre o tubo e, tentando equilibrar-se, brincou de surfista. Foi um show. Ele nunca havia surfado, mas o tubo e a madeira ele dominava. Todo mundo parou de trabalhar e se aproximou. O ambiente se encheu de alegria. Começaram a gritar e aplaudir. Uns começaram a marcar o tempo e fazer apostas. Ele se mantinha ali, equilibrado. Às vezes quase caía, mas com incrível destreza e habilidade, curvava o corpo, quase tocava o chão, como se estivesse num tubo tocando as ondas, e se erguia novamente. As 50 pessoas que se juntaram festejavam. Nunca haviam sido tão felizes no trabalho. Quando achou que era o momento de parar... Mentira, ele nunca acharia que era hora de parar... Quando se cansou (agora sim), deu um salto, bem alto, e, ao cair, bateu com o pé na ponta da tábua, que subiu, numa manobra feita com a intenção de pegá-la com a mão sem se abaixar, como os skatistas fazem com o skate. Mas, muito empolgado com seu desempenho espetacular e com o delírio da platéia, bateu forte demais na madeira, que subiu muito e fugiu dele. Todos olharam para cima acompanhando a madeira subindo, girando, subindo, diminuindo a velocidade da subida e do giro, até que lá em cima quase parou no ar antes de descer. Quiçá tivesse parado no ar, como helicóptero, como um beija-flor, como o Dadá Maravilha, ou como se alguém desse uma pausa. Mas não, ela não parou. Pior, caiu, caiu rápido, sem voltinhas, reta, dura, direto na cabeça do chefe-boçal-militar-sem-farda-nem-competência, que caiu desmaiado, ao que o povo urrou de alegria, enfim vingados do déspota inútil. Gritavam em coro “Ei chefia, vai tomar no cu”. Ops, acho que agora fui eu que viajei. Fui emocional e inventei coisa. Volta a fita. A madeira não caiu na cabeça, como os presentes gostaríamos, mas ao lado do manda-chuva, que se levantou e gritou ninguém sabe o quê. Só se sabe que o povo voltou rápido e em silêncio para os seus lugares, com ar de “o que era doce acabou, tudo tomou seu lugar, depois que o Tiba passou, e cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois do Tiba passar surfando ondas de amor”. Depois daquilo Tiba sumiu. Conta-se que foi visto somente vários anos depois, pelas bandas de São Paulo, com os mesmos cabelos negros e lisos caídos para o lado, mas sem se lembrar exatamente de quem era. Quando lhe perguntaram "você é o Tiba?" ele respondeu "É ! ?"

Se alguém souber do paradeiro do Tiba, solicitamos entrar em contato com este blog ou com o jornalista Marcelo Resende, que prepara um programa sério sobre o misterioso desaparecimento. E, já que o achou, aproveite e lhe dê uma noticia: o chefe-boçal-militar-sem-farda-nem-competência dançou, foi decapitado e deportado. Mas não pense que o Tiba vai achar o máximo. Tiba jamais será vingativo. Para ele tudo sempre esteve e sempre estará bem. Quando você disse “o cara dançou” ele dirá respnderá “É ! ?”

P.S. Tiba foi o súdito bebum que desafiou o Rei e traçou a princesa em “Nosso Reino”. Também foi o inesquecível Xerxes, no maior sucesso do grupo, “A Morte de Humberto Laraia”. Xerxes reclamava da sua esposa, a Norma, porque ela era muito certinha. A peça acaba com Xerxes entrando pelo espelho e saindo de cena. Definitivamente. Sumiu dias depois. A peça seguinte do CPNES foi “O Homem que Usava Cabeça de Papelão”, um desafio ao poder constituído e uma homenagem ao Tiba, como se pode constatar no folder.

2 comentários:

Bruna Bucci disse...

No google ele não aparece?

[Feriadão em BSB! Oba!]

Bruna Bucci disse...

Tio Môa, leia isso: http://manudenora.zip.net/arch2010-08-08_2010-08-14.html#2010_08-08_20_21_26-106416180-0

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