segunda-feira, 28 de março de 2011

KARINA BUHR MATA FILHOS DE MARISA MONTE E SALVA A HUMANIDADE

A Marisa Monte do final dos 80, mais do que os seus melhores contemporâneos, inventou aquilo que chamo de Nova MPB, trazendo arranjos e interpretações mais modernas para a amarelada MPB. O lendário show que tinha “Comida” e "Negro Gato" (esta acompanhada do Paulo Moura) marcou época. Marcou tanto que até hoje ninguém do espectro MPB faz nada diferente. A Nova MPB é um saco, uma repetição enfadonha de um modelo que, embora esgotado, continua gerando baciadas de chatinhos que não acrescentam nada, como os Lenines, Seus Jorges, Vercilos, Marias Gadus e Anas Carolinas da vida. Vá a uma prateleira de CDs numa loja e você encontra uma centena deles. Todos bons (ou pelo menos a maioria), todos fazendo esse sonzinho bacaninha, assim-assim, meio chinfrim, uma música altamente consumido pela classe média cultural, que pensa que ouvir Seu Jorge ou Maria Gadu vai colocá-lo numa classe superior ("eu sou plural"). O Orkut e o Facebook estão cheios de gente que ser bacaninha, e plural, e escolhe ser fã dessa gente que é até boa, boa, mas que na real não cheira nem fede.

A Marisa Monte deixou essa horda de filhos chato, por isso eu a odeio, apesar de amá-la. Ela tem todo o direito de não fazer mais nada (e tem usado esse direito). Ela pode, como pode o Belchior, que não precisava ter composto mais nada depois de Paralelas (prá que mais?), como o Arnaldo não precisava fazer mais nada depois do “Loki” e o Roberto Carlos não precisava fazer mais nada depois de “Detalhes” – aliás, este não devia ter feito mais nada!

Mas eis que, de Pernambuco, um dos maiores pólos culturais das Américas, de onde já surgiu para o mundo gente como Ariano Suassuna, José Condé e Chico Science, aparece Karina Buhr. Ela já havia aparecido em casa há uns 10 anos, num CD do delicioso Comadre Florzinha, que curti muito mas que há um tempão não ouvia. Eu não sabia que ela estava lá, adormecida, esperando o momento oportuno para agarrar-me...

O som de Karina Buhr não tem nada de chinfrim, é brasileiro e universal, com um sotaque da atual música de Pernambuco, que por sinal é onde se faz a melhor música hoje (e talvez o melhor cinema). Pernambuco, a Veneza brasileira, também está sendo uma Barcelona brasileira. Karina Buhr “traz de lá esse colorido em suas musicas e letras. Tem qualquer coisa de sonho a impressão que fica ao ouvir seu disco” (Patrícia Palumbo).

O disco "Eu menti pra você” tem melodias, arranjos e músicos de altíssimo nível. O trompete do Guizado e a guitarra do Edgar Scandurra ajudam a colocar a sonoridade do disco numa outra atmosfera.

A sensacional Nassíria e Najaf , “uma canção de ninar pras crianças de Bagdá” é ótima, tem um refrão rock'n roll de primeira, guitarra e baixo com um peso legal e o trompete avermelhando o clima. Karina canta fluída, rápida, precisa e com uma naturalidade que parece que a gente tá ouvindo ela conversar num bar. (o vídeo tá aí, em algum canto deste pôsti)

O Pé é quase uma marcha militar, com uma leitura moderna, cantada em tom doce e levemente melancólico. Uma voz cool, deliciosa e cativante, que canta uma poesia elíptica e insidiosa, entra na gente e nos leva:

A pedra, o pé,
descendo a rua que cobre a pedra
embaixo dela a terra,
embaixo da terra o céu de novo


Sentindo a lentidão do dia
Há dias lentos demais
Não sinto, não tenho vontade, não agüentaria
O céu embaixo das nuvens, a terra por baixo
Do asfalto
O centro da terra que puxa a gente
a gente pula contra a vontade do chão

Depois, Ciranda do Incentivo, um divertido e hipnótico som-de-balada-bem-porradão. Tipo de música de show, daquelas que agita a platéia. Karina está encantadora. Seu “mas eu não sei negociar, eu só sei tocar meu tamborzinho e olha lá” é uma daquelas delicadezas que a vida nos dá de presente.

Mira Ira é maravilhosa! Forte, cortante, emocional. E ela canta de um jeito... (é difícil transmitir em palavras a sensação que dá ouvi-la cantar) tão forte e ao mesmo tempo tão leve; tão próxima da gente e ao mesmo tempo tão cenográfica que parece que está dentro de um filme... “tá tudo padronizado no nosso coração/nosso jeito de amar pelo jeito não é nosso não”. A voz é perfeita, o jeito de cantar totalmente pessoal... Enfim, sem palavras. Para ser ouvida em alto volume; o tipo de música que faz a gente se sentir mais vivo.
Me mira a ira
me mira mas me erra
mas minha ira me era confusa
mudando meu amor de endereço
Me mira a ira
me mira mas me erra no escuro
sentindo o teu amor profundamente

Todo o resto do disco é bom demais, mas vou parar por aqui. Karina Buhr canta demais! É muito sensual, leve, aveludada. É completa: musica, letra/poesia, som. Karina Buhr não é, definitivamente, mais uma, mas a melhor coisa que ouvi em muito, muito tempo. Valeu ter saído do espelho.

Eu não sou emocional, nem intenso, tampouco exagerado, quem me conhece sabe; mas vou abrir uma exceção: eu amo perdidamente essa Karina Burh e quero me casar com ela. Largo tudo e vou carregar seu tambôzinho mundo afora!

domingo, 13 de março de 2011

A VOLTA DO GANSO

A gente sempre enxerga os fatos históricos como acontecimentos muito distantes de nós, deslocados do nosso tempo e do nosso espaço. Mas algumas poucas vezes na vida a gente se sente participando deles.



Em 86 estava no meio do badernaço de Brasília, dirigindo meu fusca 76, levando a pequeníssima Tani, 1 ano e pouco, no banco de trás. Íamos da Asa Sul pra a Asa Norte, pela L2. Quando atravessava o viaduto sobre o Eixo Monumental, um militar mandou parar. Naquele fim de tarde tudo estava envolto em fumaça. Pessoas correndo, militares por todo lado. A visão da esplanada era horrível: fogo, correria, cavalos, tanques (ou coisa parecida). E eu no carro parado, ali no meio daquilo, morrendo de medo, com a Tani atrás e o desespero no banco ao meu lado, espreitando, aguardando o momento oportuno para entrar dentro de mim. Entrar do ponto de vista espiritual, ou imaterial, afinal, o desespero não é feito de carne e osso. Material ou imaterial, eu precisava evitar que o desespero tomasse conta de mim. Olhava para trás e via os olhinhos da Tani, assustados com todo aquele movimento e barulho. Respirei fundo e olhei para frente. Aí então eu vi o que estava ali, bem na minha frente: a história. Era 28 de novembro de 1986.


Muito antes, 1969 foi um ano em que senti o mesmo duas vezes. Uma vez em 20 de julho, quando o mundo parou para ver Neil Armstrong, um trompetista que também era astronauta, pousar na lua. Naquele dia ele compôs a magnífica “Wonderful World” ao olhar para a terra e constatar que era azul, embora a terra fosse, e na verdade ainda o é, verde. Armstrong e o pessoal da NASA não se ativeram ao fato de que o visor do escafandro, sendo marrom, transforma em azul o verde. Não tenho certeza se aquela bola na cabeça dos astronautas é de fato um escafandro, que é um nome geralmente dado ao instrumento de mergulho inventado por Julio Verne. Abaixo, Armstrong - à esquerda, antes de ir à lua e à direita, depois de voltar.


Em 2 de julho daquele mesmo ano, eu havia sido emocionalmente apresentado ao futebol. Sobre esse dia, ler o premiado (e se não foi, devia) pôsti Tio Moa e suas reminiscências - Radio Days


Poucos meses mais tarde, em 19 de novembro, eu estava ansioso; finalmente chegava o dia do jogo que todos aguardavam. Minha mãe, meu avô, meus tios e até as minhas tias, só falavam no milésimo gol do Pelé. Minha santa mãezinha provocou em mim uma expectativa tão grande que me levou a ter a exata consciência de que, naqueles instantes em que Pelé converteu aquele pênalti e o povo invadiu o gramado e o carregou, eu estava presenciando a história.

Hoje, 12 de março de 2011, senti de novo a sensação de estar vivendo a história. Mas desta vez foi diferente. Nas outras vezes foi fácil sentir-me na história; em 69 porque os eventos tinham a atenção nacional e em 85, porque eu estava mergulhado no badernaço. Mas hoje foi preciso um pouco mais. Foi preciso ter ouvido muita música na vida; foi preciso gostar de Balé, das obras dos grandes pintores, de música clássica e talvez de futebol; foi preciso ter uma alma leve (sorte que não foi preciso ter um corpo leve).

Hoje Ganso voltou. O Ganso, Paulo Henrique, aquele craque raríssimo que não foi levado para a Copa por Dunga porque o energúmeno técnico nunca viu um Matisse, nunca ouviu um Bach, nunca viu balé, nunca leu poesia, nunca teve a alma leve. Ganso voltou depois de vários meses parado recuperando-se de uma contusão grave. E ele entrou somente no segundo tempo, depois de um zero a zero complicado no primeiro.

Entrou e em segundos já disse a que veio. Tocou uma vez, recebeu, tocou outra vez. Na terceira vez em que recebeu a bola, tratou-a de meu amor e aos quinze segundos fez um lançamento mágico e deixou o atacante na cara do gol. 1 a 0. Aos nove ele mesmo fez o gol, com um toque que poucos acertariam. Em 10 minutos mudou o jogo e deu show o resto do tempo. A cada toque na bola, uma carícia, um solo de violino, um passo de balé, um sustenido de um tenor. Foi caçado em campo, sofreu faltas violentas, uma das quais gerou a expulsão do agressor, um dunguinha, um escutador de pagodinhos chinfrins e funk brega.

Parece que Ganso nunca esteve parado. Vi nele, hoje, mais, mas muito mais do que um Zidane, com quem o compararam no ano passado. Vi nele o Mestre Dicá, que desenhava obras de arquitetura niemayeriana com a bola. Vi nele um Ademir da Guia, que bailava e tocava violino, como dizia dele o Armando Nogueira. E, sobretudo, hoje eu vi, no Ganso, o próprio e único Ganso, diferente de todos, um gênio inspirador que ao entrar fez com que todos os demais jogadores do Santos jogassem melhor, transformando alquimicamente um joguinho mequetréfi num lindo concerto.

Esse Ganso, se não tiver problemas com contusões (que Deus e os santos, pelo menos os aliados do Seu governo, o protejam), será um jogador inesquecível, um dos melhores da história do futebol. E o dia de hoje será conhecido na história do futebol como “o dia em que o Ganso voltou”. E eu vi!

INFORMAÇOES ADICIONAIS

BADERNAÇO EM BRASÍLIA
No dia 28 de novembro de 1986, ninguém imaginaria que uma manifestação pacífica, convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e pelos partidos PT, PDT e PCB poderia provocar o maior distúrbio da história de Brasília: o Badernaço. O tumulto começou quando a polícia tentou dispersar os manifestantes que se encontravam na Rodoviária. Várias lojas foram saqueadas (entre elas o extinto posto da Cobal, que em seguida foi queimado), carros da polícia foram queimados ou danificados e 11 prédios públicos, depredados. Oficialmente, após a confusão, a polícia prendeu 34 pessoas.

Apollo 11
Wikipédia - Apollo 11 foi a quinta missão tripulada do Programa Apollo e primeira a pousar na Lua, em 20 de Julho de 1969. Tripulada pelos astronautas Neil Armstrong, Edwin 'Buzz' Aldrin e Michael Collins, a missão cumpriu o objetivo final do Presidente John F. Kennedy, que, num discurso ao povo norte-americano em 1962, estabeleceu o prazo do fim da década para que o programa espacial dos Estados Unidos realizasse este feito. Neil Armstrong, comandante da missão, foi o primeiro ser humano a pisar na superfície lunar. Composta pelo módulo de comando Columbia, o módulo lunar Eagle e o módulo de serviço, a Apollo 11, com seus três tripulantes a bordo, foi lançada de Cabo Canaveral, na Flórida, às 13:32 UTC de 16 de julho, na ponta de um foguete Saturno V, sob o olhar de centenas de milhares de espectadores que enchiam estradas, praias e campos em redor do Centro Espacial Kennedy e de milhões de espectadores pela televisão em todo o mundo, para a histórica missão de oito dias de duração, que culminou com as duas horas de caminhada de Armstrong e Aldrin na Lua.
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