José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é cultuado por ter feito alguns fimles nos anos 60, entre eles o clássico “À Meia Noite Levarei Sua Alma”. Mas depois não fez nada tão relevante. O maior mestre do cinema de todos os tempos, o Alfred, no final da carreira já não tinha a mesma energia. Sim, seus filmes ainda eram melhores que a maioria dos daquela época, mas não eram mais de tirar o fôlego como os dos anos 50 e inicio dos 60. Billy Wilder, autor da maior comédia de todos os tempue), os (“Quanto Mais Quente Melhor”), considerado inaugurador do filme noir (Pacto de Sangautor do machadiano “Crepúsculo dos Deuses”, em seu crepúsculo fez filmes lindos, é verdade, mas, igualmente, não tinham mais o vigor de seus melhores. Vou parar nesses três. A vida é assim, isso acontece com todos, até com os gênios. Em todos os campos: Chico Buarque ainda compõe, mas não como antes. Pode pegar qualquer um: Jorge Ben, Caetano, etc, etc, etc. Os seres humanos têm uma fase mais criativa, de mais energia, depois se acalmam, mesmo que ainda produzindo. E nem precisariam fazer mais nada, deixaram sua marca na história, sua obra será estudada daqui a dois mil anos (não sei se a do Mojica).
Mas tem um que não é humano: Woody Allen. Seus últimos filmes, depois de ele completar 70 anos, vêm subindo de energia, de qualidade, de complexidade, de graça, de força, de tudo. Não pode ser humano. Primeiro, a surpresa das pauladas na moleira com os densos “Match Point” e “Sonho de Cassandra”. Depois, o pique do Vicky Cristina Barcelona. Mas aos 74 anos ele aparece com “Tudo Pode Dar Certo” (que já freqüentou este blógui em junho de 2010): um marco, um filme de fôlego inacreditável, comparável às suas grandes comédias dos anos 70, como “Noivo Neurótico...”. Mas ele não parou aí. O seguinte, “Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos” (acabou de sair nas locadoras), está no mesmo nível, menos engraçado, mas mais completo, me parece (escreverei sobre ele neste final de semana – mas não espere, vá lá e pegue).
E hoje estreou no Brasil “Meia Noite em Paris”. Seria um filme-férias, como os críticos falaram sobre o Vicky? Um filme fácil e divertidinho passado na cidade que Woody Allen mais ama depois de NY? Fui ver. Nem adianta ler a crítica, porque filmes do Woody Allen sempre (ou quase) têm cotação máxima, como a da Folha de hoje. Tem que ir. E fui.
E o que vi foi inacreditável. Começa pela linda abertura, feita de pequenas tomadas de Paris, com uma música deliciosa; lembra a abertura do "Manhattan", só que sem precisar dos fogos. Ótima a preparação. A idéia do filme também é ótima: um escritor atual viaja no tempo e contracena com os principais artistas do início do século passado. Época atual, um escritor americano (Owen Wlson, surpreendente) é apaixonado por Paris e está lá com a noiva (Rachel McAdams), uma chata, e seus pais, ainda piores. Um casal amigo da noiva (o ótimo Michael Sheen, de "A Rainha" e "Maldito Futebol Clube") é ainda pior que os sogros. O protagonista ama andar na chuva, sua noiva odeia. Ele sai sozinho à noite. Quando os sinos batem meia-noite, aparece um carro dos anos 20, que o leva lá mesmo, direto aos anos 20, época pela qual ele é apaixonado. Aí ele repete a viagem todas as noites. Fica amigo de Gertrud Stein (Kathy Bates), Scott e Zelda Fritzgerald, Hemingway, Salvador Dali (Adrien Brody, que aparece só uma vez, mas é espetacular) e muitos outros. Apaixona-se pela namorada de Picasso (Marion Cotillard, belíssima). Às noites, a fantástica viagem aos anos 20 (lindamente retratado). Durante os dias, o convívio com a chatice.
Equilibrando muito bem os dois mundos, Woody Allen consegue deixar até o mundo atual, com os chatos, muito interessante. Primeiro porque os textos e os atores são ótimos, depois porque há um foco: o drama do protagonista, que vive aquele período de transição na vida, caso ou separo, amo ou não, escrevo ou não, vou ou fico? O mundo noturno, o da fantasia é engraçado por si: Owen Wilson vive, incrédulo, situações delirantes e bizarras com os geniais artistas e suas obras; enfim, ele participa da história da arte! Esse é o mote para Woody Allen fazer talvez seu filme mais criativo, complexo e atraente, sem deixar de ser muito engraçado, ao discutir, com humor e profundidade, temas filosóficos que nos angustiam a todos.
Pronto, já falei demais. Agora só vou dizer o que eu senti ao final do filme mais inspirador de Wody Allen:
1. Que amanhã vou vê-lo novamente;
2. Uma alegria de viver;
3. Uma baita vontade de me reposicionar na vida;
4. Uma vontade de escrever com mais determinação;
5. Vontade de andar na chuva com alguém...
Ah, senti mais uma coisa: Woody Allen levou minha alma.
2 comentários:
Até o Owen Wilson fica bom com o Udialem! O Hemingway também está ótimo (ator?), meio canastrão como penso que ele foi mesmo. Ótimo não ter aparecido I Love Paris do Cole, seria muito óbvio demais da conta, mas acho que Let`s Fall in Love podia ter aparecido uma vez só para dar mais espaço para outras pérolas do melhor letrista romântico de todos os tempos. But that`s ok, even educated flees do it...
Não vi nenhum dos filmes do wood que você menciona: os de depois de seus 74. Depois desse seu texto (está maravilhoso!), prometo ver.
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