quinta-feira, 30 de junho de 2011

VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, tenha certeza disso. Quando? Sei lá, quando menos você esperar, ou quando você se abrir a isso. Há vários caminhos, menos o querer, porque a pré-disposição afugenta: quem procura não acha. Quando você procura o homem dos seus sonhos, você está projetando nele os seus próprios atributos, você está querendo que ele seja um espelho do que você é ou gostaria de ser, e isso nunca fará você se maravilhar. O homem dos seus sonhos é aquele que, com os atributos dele, fará você se maravilhar, fará você querer ficar com ele e pronto, e ponto. Por isso, o homem dos seus sonhos virá, sempre, como um subproduto. É como a felicidade: sem essa de que basta buscar a felicidade que ela aparece, nada disso. Quem busca, se frustra, porque nunca alcança. Se você pensa que a felicidade é uma meta e você tem que lutar por ela, é porque está lendo muita besteira ou vendo Ana Maria Braga. Você só tem alguma chance de ser feliz se não buscar a felicidade, se viver a sua vida, se entregar a ela. Mas cuidado, porque se você fizer isso (se entregar à vida) apenas como um caminho para chegar à felicidade, aí dançou: este é o conceito de subproduto, somente chega por consequencia de alguma outra busca. Portanto, não procure o homem dos seus sonhos, porque se você procurar, ele não vai aparecer. Entendeu?

Não espere, ansiosa leitora fisgada pelo título deste pôsti, que eu vá dar alguma receita; vou apenas dar alguns exemplos e sugerir um filme. Os exemplos são de algumas mulheres envolvidas com o homem de suas vidas e este homem, já aviso, não sou eu. 

A primeira delas, sem querer, fugindo de um que procurou, já encontrou o seu, ou pensa ter encontrado, o que dá exatamente no mesmo, afinal, "assim é se lhe parece". Esse encontro já deu fruto, bem pequenininho e maravilhoso. A segunda parece que não está nem pensando em qual será o homem dos seus sonhos, mas onde o encontrará: decidiu que vai passar os próximos anos da sua vida bem longe daqui, estudando, aprendendo, vivendo a sua vida, enfim; uma ótima decisão. A terceira, que legal, parece ter encontrado o homem dos seus sonhos ainda antes de conhecê-lo, coisas desta era, que é de escuridão, como chamei no pôsti anterior, mas que também é de rutilância (procure no dicionário se quiser saber que raio é isso - ou leia Augusto dos Anjos); ou seja, esta terceira está prestes a conhecer o homem dos seus sonhos. A quarta pensa que já conheceu, está perdidamente apaixonada, chafurdando na paixão não correspondida, ou ainda não correspondida. E daí que não é correspondida? E daí que ele, ou eles (isto vale para todos os exemplos acima), não venha a ser o homem da sua vida no futuro? Problema algum. Viver um amor, uma paixão que seja, é precisamente viver a vida. Querer saber se o homem é o da sua vida, dá no mesmo que procurar por ele: em nada. Viva como se fosse e pronto. Não complique.

Sinto-me, neste instante, como a vidente do filme do Woody Allen que acaba de sair em DVD e está nas locadoras esperando por você. “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” é imperdível. Uma velhinha é abandonada pelo marido rico (Antony Hopkins), que, com a confiança que lhe dão seus músculos de academia, seu hilário bronzeado artificial e seu dinheiro, acha que pode arrumar uma mulher mais nova – e pode, pois tem dinheiro (não me chamem de machista - é hipocrisia achar que o dinheiro não compra uma mulher).
Aí a esposa abandonada, desesperada, procura uma vidente, que começa a dar palpites (ela diz que são visões, afinal, ela é vidente) em sua vida, na vida de sua filha (Naomi Wats) e de seu genro (sei lá o nome do ator, pesquisa aí). A vidente garante que a velhinha (que a hipocrisia do politicamente correto chamaria de “senhora de melhor idade") vai conhecer o homem de seus sonhos. Ela se agarra nas previsões da charlatã (?) e em copos de uísque e aos poucos, e sem planejar ou tomar as rédeas, apenas vivendo a sua vida, vai superando o abandono. Enquanto isso, os outros personagens, menos crédulos, são confiantes (não foram abandonados), tomam as rédeas de suas vidas, sem esperar que as coisas caiam do céu, como se tivessem que acontecer só porque uma vidente disse que aconteceria. Decidem abandonar companheiros, profissão, valores; vêem sempre algo que não têm, como se nada do que esteja ao lado pudesse ser o melhor para si. É o desejo do ser humano de ser o que não é, de ter o que não tem.

No filme em cartaz nos cinemas, “Meia Noite em Paris”, há uma temática semelhante: os insatisfeitos e sonhadores procuram uma época que não é a sua. Os de hoje, os anos 20; os dos anos 20 querem a Belle Époque, os desta, a Renascença. É o complexo da era do ouro, que sempre achamos que é a anterior à nossa. Neste “Você vai Conhecer...”, a insatisfação está ligada ao amor, tangenciando a profissão. Uma cena brilhante sintetiza tudo isso: o marido da Naomi Wats, enquanto tenta escrever, no escritório de sua casa, olha, no prédio em frente, pela janela, uma morena sensacional, que sempre tira a roupa à janela. Aquilo é que é mulher! Começa a sonhar com ela e tanto ele faz (tanto mesmo) que acaba conseguindo. Quando se separa da esposa loira e vai, de mala e cuia pro apartamento da morena, logo na chegada vê, pela janela, sua ex, a linda Naomy Wats, tirando a roupa, deliciosa (!!!)... Ai que tentação de voltar, ein? Preciso falar mais? Woody Allen procura imagens belas e engraçadas para nos confrontar com nós mesmos e dar uma porradinha educativa. Aliás, dá porradonas; prepare-se para elas, porque o filme é, sim, muito engraçado, mas ao mesmo tempo consegue ter a dureza e o peso de um “Match Point” ou “Sonho de Cassandra”. Este talvez seja o melhor do filme, conseguir ser forte e ao mesmo tempo divertido.
Por isso, leitora ansiosa que acha que tem que ser feliz, largue agora mesmo seus livros de auto-ajuda com receitas inúteis, pare de ficar procurando o raio do homem dos seus sonhos, viva a sua vida, vá à locadora e aprenda com o mestre, com o filósofo que não usa a pena ou o teclado, mas imagens, som e fúria.

Frase inicial do filme: “A vida é cheia de Som e Fúria, e, no final, isso não significa nada” (Shakespeare)

4 comentários:

Anônimo disse...

Cara.. teus textos são ótimos.
Acabei passando por aqui por que assim como você parece ser, sou fã do Woody Allen, mas acabei ficando mais do que deveria... os textos são quase hipnóticos... parabéns mesmo.

Abraço

Marcos Bernardes
www.marcosbernardes.com/news/

Anônimo disse...

Incrível, Mi! Mas vc deu, sim, uma receita: a sua. É vc e as mulheres da sua vida!!!! =o)

Adorei!
Ine

Ana Lúcia disse...

Obrigada pelo post pra mim! Exatamente esse!

bjsss

=)

Anônimo disse...

"Chafurdando na paixão não correspondida, ou ainda não correspondida": que figura perfeita, realmente estou me revolvendo nesse sentimento que me toma. Obrigada pela vírgula! Bjs

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