sexta-feira, 25 de novembro de 2011

AS MIL E UMA NOITES E A FADA DO DENTE


Salve, salve, leitores e seguidores do Cobra Parada, o blógui que não engole sapo;

Salve, salve, Estácio, Salgueiro e Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz, que sempre souberam muito bem que o Cobra não quer abafar ninguém, só quer mostrar que está vivo também;

Salve, salve, ministro Lupi, herói nacional, Macho com M maiúsculo, porque não fez como os outros que saíram com o rabinho no meio das pernas, ainda que negando. Nada disso, aqui nesta terra sem lei, neste faroeste caboclo, não tem lugar prá gente que não assume. Aqui é lugar prá macho. Que ficar se defendendo que nada! Coisa mais mulherzinha ficar negando! Coisa mais infantil ficar gritando “tem que prova-á, tem que prova-á”. Macho fala: daqui eu não saio e pronto! Lupi é nosso Bufalo Bill, nosso Clint Eastwood. Não vai ser qualquer revolverzinho de merda que haverá de tirá-lo da legítima missão de angariar fundos para o bem da sociedade, seja lá qual seja essa sociedade;

Salve, salve, gloriosa Ponte Preta, cujos torcedores protagonizaram as cenas mais emocionantes da semana, na magnífica edição de imagens do Sportv. Sim, porque a emoção está sempre pelos estádios, mas é raro captá-la com leveza, com emoção e, sobretudo, sem cair na pieguice padrão de ficar longo tempo numa criancinha chorando e verbalizando a respeito. Nada disso, a edição rica, variada, abrangente e com cortes precisos feitas pelo Sportv nos momentos finais do jogo foi magnífica, merecendo inclusive elogio público da concorrente ESPN;

Salve, salve, pernambucanos do Náutico e do Sport, que também estão na série A do ano que vem (tem uma aposta aí, mas é barbada). Não sei se minhas amigas seguidoras pernambucanas gostam de fut, mas arrisco que sim, amantes de arte e de manifestações populares que são, e há arte, ainda que às vezes muito escondida, no esporte bretão (expressão dos antigos narradores do rádio);

Salve, salve, pessoas atormentadas pela dor, a dor da enxaqueca, da gastrite, de pedra no rim, a dor de dente, de gota, porque de vocês será o reino dos céus.

Salve, salve, porque este blógui está de volta, depois deste autor passar por algumas das dores acima homenageadas, mas que hoje está no reino dos céus, vivo, sem dor!

Mas que dor foi aquela que deixou este já meio atormentado autor sem dormir por várias noites! Acredite, desconfiado leitor, foram, ou pareceram ser, o que dá no mesmo, exatas mil e uma noites sem sono, porque a dor de dente, diferentemente da dor nos rins, dita a mais terrível (e pela qual também já passei), é a mais cruel de todas, ela transcende o local, vai para o global, sai do dente e vai para toda a mandíbula, para o queixo, pescoço, para o crânio; a dor de dente invade e atormenta a alma!  Descobri que a alma está ligada ao corpo através das raízes dos dentes, e é por isso que a alma não se desprega do corpo, como a sombra de Peter Pan teimava em largá-lo. E quem perder todos os seus dentes perderá também a sua alma (não confie em ninguém sem 32 dentes).

Nas mil e uma noites de dor descobri o maior problema da solidão: não tem quem ouça nossos gemidos. O gemido é imprescindível ao sofredor, porque funciona como um analgésico; o gemido, o gemido bem dado, o gemido sofrido, é um lenitivo, é um bálsamo para o gemente, mas o gemido só funciona se tiver quem o ouça, além do gemente, por suposto. Ao ouvir o gemido, e evidentemente se incomodar com isso, a alma do ouvinte acaba absorvendo um pouco da dor do gemente. Tentei abrir a janela do quarto e gemer bem alto, para que o inocente morador do apartamento de baixo, ou de cima, ouvisse, mas desisti, porque o vento no rosto deformado aumentava a dor mais do que o gemido ouvido pudesse diminuí-la.

Para dores extremas, só remédios extremos. Remédios com tarja, controlados com formulários em várias vias. Preenchi um monte de vias, que pediam centenas de informações. Pediram nome, endereço, nome e telefone de alguém para contato. Acho que até tive que dizer o time que torcia. Meu Deus, pensei, prá que serve tudo isso? Para o caso de eu morrer por causa do remédio? Já em casa, praticamente consumido pela dor torturante, enquanto aguardava, meio sem esperanças, o efeito do remédio, delirava a respeito daquelas vias. Como uma alma que levitasse e observasse as pessoas lá embaixo, tive a nítida sensação de ouvir o contato telefônico da funerária, de posse de uma das vias do formulário, querendo saber se eu já... era cliente:
- Bom dia, com quem eu falo?
- Com quem o Senhor quer falar? (minha irmã JAMAIS diria seu nome antes de saber quem está do outro lado da linha)
- A senhora conhece Moacir do Valle?
- Era meu irmão (é que ela fica meio brava quando eu passo um tempão sem ligar e diz que eu não sou mais seu irmão)
- Era? Sinto muito pela perda.
- Que perda?
- O seu irmão.
- Ele perdeu o que? O senhor conhece o meu irmão?
- Torcia pela Ponte Preta, não é?
- Subiu.
- Seu irmão subiu?
- Não, a Ponte Preta, para a série A!
- E seu irmão, como está... de saúde?
- Agora está melhor, não sofre mais!
- Ah, sim, que pena...
- Como que pena? O que o senhor deseja com ele?
- Levá-lo com conforto à sua nova morada.
- Ele vai mudar? E não fala nada para a irmã? É típico dele!
- Temos o modelo standard, luxo e super-luxo...
Não sei se ainda delirava quando cheguei ao consultório. Felizmente, há uma justiça divina, que dá água aos sedentos, alimenta os famintos, que atende aos gemidos solitários. Eis que, no meio das mil e uma noites de dor, mais precisamente durante um dia, dia de dor, é claro, me aparece uma odalisca, como que para provar estarmos nas mil e uma noites.
Doutora “V”. “V” de visão, como a de um oásis no deserto. “V”de vida, como se aqueles olhos e seu jeito lindo de falar me instilassem um sopro em meus combalidos corpo e alma. Uma princesa, elegante e sutil, uma rainha, uma deusa que me apareceu como devem aparecer todas as deusas: com uma seringa Carpule carregada de anestesia.
Uma, duas, três, quatro, nem sei quantas vezes ela recarregou e me aplicou, com aquele instrumento, o líquido divino (a anestesia dentária surge, juntamente com a coca-cola e com o ar-condicionado, para provar a existência de deus, ops, Deus). Ante aquela princesa inclinando-se sobre mim, esculpido pela dor como eu estava, senti-me um sapo. Ela me aplicou as doses da anestesia como uma princesa beija o sapo. O alívio da dor trouxe ainda mais luz à divindade daquela minha fada do dente, da bela odalisca, da salvadora princesa que me transformou em príncipe, muito embora poucas horas depois, passado o efeito do beijo anestésico, eu tenha retornado ao meu estado anfíbio. 
Veja de novo como ela é linda!

Jurei-lhe amor eterno. Ela jurou tratar-me.

Jurei-lhe devoção, ela jurou cobrar dentro da tabela da ABO.

Não gosta da frieza da doutora? Não é frieza, é a objetividade de quem sabe o que quer. É a tradicional negativa da mulher que ainda não se sabe perdidamente apaixonada. Pedi uma foto e ela se deixou fotografar. Mais do que isso, olhou para a câmera com seus olhos mágicos, com o mesmo terno, interessado, profundo e fascinante olhar com que olhava para dentro da minha alma enquanto fazia um lânguido movimento de vai-e-vem com o aparelho ligado na velocidade máxima, penetrando com carinho a minha dentina, explorando meu canal com sua espátula número 1, raspando, terna e provocante, o escavador no meu tártaro, sussurrando “abre a boca”.

Acho que vou colocar no facebook que estou em um relacionamento sério, ainda que ela pense, fingindo a si mesmo, não estar, ainda que eu não tenha voltado lá por conta da diferença de preço entre o convênio e o particular. "Particular, ela é particular!", tragédia do Martinho que ora me assola!

Agora devo de ir, vou dormir, esperando o efeito do remédio para o estômago, esburacado pelos outros remédios. A alma vai bem, sem dor, sonhando com fadas...

Devo de ir, fadas
Inseto voa em cego sem direção
Eu bem te vi, nada
Ou fada borboleta, ou fada canção
As ilusões fartas
Da fada com varinha virei condão
Rabo de pipa, olho de vidro
Pra suportar uma costela de Adão
Um toque de sonhar sozinho
Te leva a qualquer direção
De flauta, remo ou moinho
De passo a passo passo...
Fadas (Luiz Melodia)

2 comentários:

Anônimo disse...

...é compadre, de futebol o que me vale são as "viagens" inevitáveis enquanto engomo a calça e extraio do motim,que é a transmissão de jogos do rádio AM de meu filho concomitante à TV, reminiscencias na longa voz do locutor do rádio.Das pernas sincopadas de Mané Garrincha, Estrela Solitária, vou ao Gol Anulado de Aldir Blank(mentor de dezenas de minhas fantasias), nessa canção nem sai o grito de gol, nem o de dor. Sai apenas parte de minha pele no cinto desse cidadão (ou das cordas do violão de João), nunca realizei a cara dele, um dia chego lá! Beijos.
Sra Dos Sarsais


GOL ANULADO - ALDIR BLANK E JOÃO BOSCO

QUANDO VOCÊ GRITOU MENGO
NO SEGUNDO GOL DO ZICO
TIREI SEM PENSAR O CINTO
E BATI ATÉ CANSAR
TRÊS ANOS VIVENDO JUNTOS
E EU SEMPRE DISSE CONTENTE
MINHA PRETA É UMA RAINHA
PORQUE NÃO TEME O BATENTE
SE GARANTE NA COZINHA
E AINDA É VASCO DOENTE

DAQUELE GOL ATÉ HOJE
MEU RÁDIO ESTÁ DESLIGADO
COMO SE RADIASSE
O SILÊNCIO DO AMOR TERMINADO

EU APRENDI QUE A ALEGRIA
DE QUEM ESTÁ APAIXONADO
É COMO A FALSA EUFORIA
DE UM GOL ANULADO

QUANDO VOCÊ GRITOU MENGO

GOL ANULADO - ALDIR BLANK E JOÃO BOSCO

QUANDO VOCÊ GRITOU MENGO
NO SEGUNDO GOL DO ZICO
TIREI SEM PENSAR O CINTO
E BATI ATÉ CANSAR
TRÊS ANOS VIVENDO JUNTOS
E EU SEMPRE DISSE CONTENTE
MINHA PRETA É UMA RAINHA
PORQUE NÃO TEME O BATENTE
SE GARANTE NA COZINHA
E AINDA É VASCO DOENTE

DAQUELE GOL ATÉ HOJE
MEU RÁDIO ESTÁ DESLIGADO
COMO SE RADIASSE
O SILÊNCIO DO AMOR TERMINADO

EU APRENDI QUE A ALEGRIA
DE QUEM ESTÁ APAIXONADO
É COMO A FALSA EUFORIA
DE UM GOL ANULADO

QUANDO VOCÊ GRITOU MENGO

Mário Xerxes Júnior disse...

que comentário MARAVILHOSO!!!

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