"Cheguei com meu universo
e aterrizo no seu pensamento
Trago a luz dos postes nos olhos
Rios e pontes no coração
Pernambuco embaixo dos pés
E minha mente na imensidão."
(Chico Science)
É, meu velho! a mente na imensidão... Acho que essa foi sempre minha desculpa para não viajar fisicamente, conhecer lugares. Viajar é a coisa mais espetacular que pode existir. Agradeço todos os dias, ajoelhado aos pés da cama, às minhas ex-mulheres (as duas últimas - não posso dar este crédito às anteriores) que, praticamente à força, me fizeram conhecer o pouco que conheço fora deste país e continente. Agradeço ainda, embora não ajoelhado, nem todos os dias, ter trabalhado numa empresa que me proporcionou muitas viagens profissionais, nas quais pude me deliciar com as riquezas deste país: sua gente, sua cultura, sua comida, suas paisagens, etc.
É estranho que, gostando tanto de conhecer outros lugares, culturas, países, povos e o diabo a quatro, eu nunca tenha viajado muito. Mesmo as viagens a trabalho eu nunca as busquei; tive que ir e fui. A verdade mesmo é que não gosto de viajar. Acho estressante ter que decidir viajar, ter que comprar passagens. Arrepia-me saber que terei que arrumar malas, esperar nas insuportáveis filas do aeroporto, subir a sei lá quantos quilômetros, afastando-me da segurança do bom e velho chão onde piso, dentro de uma estrovenga insuportavelmente mais pesada, não só do que o ar, mas do todas as coisas da terra, e cujos flap, flop e flup podem estar com parafusos soltos. Além disso tudo, detesto ter que sair de um lugar que amei, porque amos todos os lugares que conheço e me imagino morando lá e na hora de voltar me sinto mal, ainda mais enfrentando as mesmas filas e as mesmas incertezas quanto aos flaps, flops e flups.
Tudo isso para contar que, mesmo sendo apaixonado por Pernambuco, mesmo sabendo, e sempre divulgando neste mal afamado blog, que lá é, há muito tempo, o maior centro de produção cultural de qualidade deste país (música e cinema, principalmente), mesmo tendo Pernambuco, mais que qualquer outro lugar, tendo povoado por décadas minha imaginação atraves dos livros de José Condé, mesmo sabendo que tenho amigos por lá que adoraria conhecer (tempos estranhos estes em que a gente tem amigos e quer conhecê-los), mesmo tudo isso, eu nunca estive em Pernambuco. Não conheço Recife, Olinda, Caruaru, nem tampouco Macambira. Nunca estive na praça com acácias soltando seus algodõezinhos amarelos em maio.
Mas ontem, mais uma vez, tomei contato com Recife, aqui em Brasilia, no cinema, assistindo o magnífico "O SOM AO REDOR", filme que honra Condé, Chico Science, Suassuna, Luiz Gonzaga, Luiz Vieira e todo o movimento cultural de Pernambuco.
O filme mostra os ecos do tempo da dominação dos senhores do engenho reverberando até hoje, através dos contrastes sociais expostos por algumas histórias cotidianas passadas num bairro de Recife onde um ex-dono de engenho é dono da maioria dos imóveis.
Com alguns furtos acontecendo na região, alguns deles cometidos por hobby por um dos sobrinhos do poderoso local, uma equipe de seguranças se dispõe a fazer a segurança na região por uma contribuição mensal de cada morador.
Costurando as pequenas histórias paralelas, sempre regidas, mais ou menos perceptivelmente pelos sons cotidianos da rua, dos vizinhos, dos cães, o filme cria uma tensão palpável, mas nunca explícita.
Acompanhando os moradores, sentimos a todo instante que algo vai acontecer, algo está para eclodir, principalmente quando começamos a perceber as intersecções entre personagens até então pertencentes a histórias diferentes.
Os atores estão ótimos, criveis, corretos. Há uma atriz, Irma Brown, que é um clone (ou parente mesmo) da Maria Flor e, pelo jeito, igualmente talentosa fazendo uma tímida e enigmática namorada do corretor, um dos protagonistas.
O clima de tensão nos prende durante todo o filme e vai aumentando até o clímax final é algo que não é nada fácil. A sequência final, mesmo sendo mais sugestiva do que explícita, não é nada menos do que genial, daquelas em que a gene pensa que não poderia ter sido mais apropriada, nem mais impactante.
Fazer cinema assim não é para qualquer um. O diretor, Kleber Mendonça Filho, com Pernambuco debaixo dos pés, fez uma obra de arte e de imensidão, reconhecida inclusive pelo The New York Times como um dos melhores filmes de 2012.
Permitam-me, caras ex-esposas responsáveis por minha viagens, também agradecer ajoelhado, não todos os dias, só hoje, nem aos pés da cama, mas aos pés do sofá da sala, que por sinal está à venda, ao diretor de "O SOM AO REDOR" pela viagem que me proporcionou ao Recife que nunca fui e à imensidão que tanto almejo.
domingo, 20 de janeiro de 2013
sábado, 19 de janeiro de 2013
:( -> DJANGO -> :)
Sabe aquele povo ("povo" não é depreciativo – adoro povo) que
coloca no facebook que está muito triste e não diz a razão? Pais e mães ficam
preocupados, amigos ficam intrigados e amigos do facebook clicam no “curtir” ou
dão força com o comentário: liga não amigo, logo vc tá melhor :)
De qualquer forma, tristeza tem remédio. Tudo bem que o
remédio só serve para esconder a tristeza existencial-atávica-biológica de
todos nós, provavelmente advinda do fato de que não sabemos
por que nascemos e de sabermos, sem nenhuma dúvida, que vamos morrer. Estava
certo Vinícius: “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Mas que há remédio para tristeza, ainda que seja efêmero,
há. Por isso tentamos, nós, os não maníacos depressivos, encher nossa vida desses
pequenos ou grandes remedinhos que deixam a tristeza escondida. “Deixa a
tristeza prá lá, vem comer, me jantar”. Afinal, hoje é o dia internacional do
riso (escrevi na sexta-feira, dia 19 de janeiro).
Reconheço que é difícil se livrar da tristeza, especialmente
no caso daqueles a quem a vida não tem ajudado, a quem o berço não ofereceu as
melhores condições (confia em mim, é melhor colocar a culpa na vida ou na sorte,
como eu faço). Sou do tipo triste solitário perdedor e sofredor, que às vezes
passa dias seguidos chorando, ouvindo música deprê e tendo pensamentos mórbidos.
Mas sempre há um modo de sair do fundo do poço. E frequentemente
é mais fácil do que pensamos. Uma música especial, por exemplo, pode servir de mola
propulsora e nos catapultar para as alturas da ventura e da alegria. Este blog
mesmo já deu uma receita:
http://cobraparada.blogspot.com.br/2011/08/ai-meu-deus-do-ceu-ai-minha-vigi-maria.html
Finalmente, encerrando a interminável introdução, ente post
traz uma receita infalível para melhorar o seu astral, ou para te botar ainda
mais prá cima, ou ainda para, simplesmente, atrasar por um bom tempo o retorno
da tristeza que espreita a ti, leitor amigo, por trás da porta do armário do
teu quarto.
Django, filme que estreou hoje em todo o Brasil (até em
Bauru!) é infalível. Pura diversão. Do tipo que terei em casa para casos agudos
de depressão. Será ligar o DVD e pronto, :)
Atenção, leitores que não tem facebook nem filhos: esse
sinalzinho esquisito que inseri no título e com o qual finalizei o parágrafo é um sorriso. Duvida? Deita
a cabeça para a esquerda... Viu? É um sorrisinho “fofo”. Estou usando para
atrair a plateia jovem.
O filme dirigido por Quentin Tarantino é basicamente um
Western que narra a busca de um escravo pela liberdade de sua mulher, ainda
escrava, numa América violentamente racista. Django é libertado por um caçador
de recompensas alemão e vira seu parceiro. Os dois cruzam boa parte da América caçando
procurados pela polícia, com as devidas recompensas, e rumando para o sul, onde
a esposa é escrava do mais carrasco entre os fazendeiros do sul, a região mais
racista dos Estados Unidos. Lembram-se do Leôncio, da Escrava Isaura? Pois o
inesquecível personagem interpretado por Rubens de Falco é fichinha perto do
cara do filme, cuja diversão é colocar dois escravos na sua sala, lutando entre
si até a morte. Nessa busca, não há como Tarantino esconder da plateia, nem
como este blog esconder dos leitores mais sensíveis: há violência, sim, muita
violência, além de opressão e humilhação indignantes.
“Espera aí”, interpela o leitor dotado de senso de lógica, atento
ao paradoxo, “como o filme pode ser divertido se tem racismo, violência, opressão
e humilhação?”
Gênios são assim: subvertem a lógica. Toda a saga de Django
é mostrada com um humor realmente delicioso, além de uma inteligência e
sagacidade típicas de Tarantino, que capta nossa indignação e nosso desejo de vingança
e o sacia com requintes de crueldade. Não são apenas os escravos que são vingados,
são todos os oprimidos e humilhados. São também aqueles que, solidários, se ofendem
mesmo quando a injustiça é contra outros. Django vinga também àqueles a quem a
vida não ajudou, a quem a sorte atrapalhou, a quem o berço não ofereceu as
melhores condições.
Gênios são assim, fazem qualquer coisa com bom humor, nos
surpreendem a todo instante. O expectador do filme nunca sabe o que vai acontecer
no momento seguinte. Há sempre uma surpresa. O suspense consiste e descobrir
quando e como seremos surpreendidos. E somo, do começo ao fim do filme. De onde
e quando menos se espera, algo surge provocando riso ou asco, mas sempre surpreendendo.
O filme, como “O Hobbit” e “A Viagem”, tem quase três horas de duração. Mas não
é como chatíssimo “O Hobbit”, que provoca dores no corpo, nas pernas e na
paciência. O próprio “A Viagem” que, apesar de ser realmente muito bonito e
interessante, faz a gente olhar algumas vezes para o relógio. Com Django o
tempo faz tchum: acabou.
Sabe por quê? Porque Tarantino é o mais Hitchcockiano dos
diretores atuais, no sentido de que, tal qual o mestre, Tarantino coloca em
primeiríssimo lugar o expectador. Faz filmes como Hitchcock fazia: para
divertir. Não a diversão da piada fácil de botequim e de escritório. Para quem não sabe, Hitchcock era desprezado pelos críticos e pelos “entendidos”
de cinema. Sua valorização aconteceu já no final da sua carreira e
especialmente depois de sua morte, com a imortalidade e atualidade de seus
filmes. E não gostavam dele porque seus filmes eram “comerciais”. O sucesso de
público distraiu os críticos na genialidade de seus filmes, de como ele criou
uma linguagem e inovou no cinema, sempre para estimular a percepção e a inteligência,
surpreender, prender a atenção e divertir a plateia.
Em Django Tarantino consegue cada vez mais isso tudo,
especialmente a surpresa e o humor, este ancorado na atuação inspirada (de
novo) de Christoph Waltz, o alemão caçador de recompensas. Waltz é um dos
raríssimos atores que, depois de vê-lo fazer um personagem maravilhoso, a gente
pensa: só ele faria esse personagem, com nenhum outro ator daria certo. Django
é interpretado por Jamie Foxx, muito bem num personagem altamente estilizado,
lindo. Roupas, jaquetas, coletes, óculos, chapéus, ângulos das tomadas e
músicas: tudo é feito para dar uma aura de beleza heroica. Tarantino dá a
Django os ares simbólicos de beleza plástica que Hitch dava às suas loiras, como
Grace Kelly.
Samuel L. Jackson é brilhante no papel do odioso escravo racista e
puxa saco do terrível senhor de escravos Calvin Candie, interpretado por Leonardo
DiCaprio, que tem um brilhante réquiem na longa cena do jantar, carregada de crescente
tensão, em que sabemos que algo vai acontecer, não sabemos exatamente o que nem
quando. Esta cena talvez seja o melhor momento de DiCaprio no cinema.
Mais conexões Tarantino-Hitchcock: além das longas cenas
carregadas de tensão e suspense (em Bastardos Inglórios é a cena da taverna), o
fato de que, em seus filmes, vários atores tiveram seus melhores momentos, o
que provavelmente é explicado pela inteligência dos diretores, que criam
personagens mais profundos, complexos, em situações mais criativas e que,
evidentemente, exigem mais do ator.
Mas nada disso realmente importa, porque para Tarantino o
que vale mesmo é que, desde a abertura do filme e a cada cena, você torça, fique
indignado, chocado, coma pipoca (sim, puristas, Tarantino é prá se ver com
pipoca), tenha surpresas, ria e, enfim, se divirta.
Django te fará trocar prozac, uísque,
lenços de papel, horas de facebook ou barras de chocolate comidos no sofá por sua
alma lavada, pronta para enfrentar de bom humor mais uma semana de trabalho, trânsito
e agruras dessa vida cheia de som, fúria e tristeza, pública ou
privada, com ou sem motivo.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
DEUS E O DIABO NA TERRA DO POLITICAMENTE CORRETO
Uma das coisas que mais funcionam no planeta é o equilíbrio
dinâmico. Ahn? Não é leitor contumaz do Cobra Parada e, portanto, não tem o
mesmo nível de conhecimento, informação, inteligência, cultura, talento e beleza?
Não tem problema, eu explico: sabe o yin-yang? Deus e o Diabo?
O equilíbrio dinâmico a que me refiro é o que acontece quando
uma coisa está indo muito para um lado – uma reação social surge e empurra para
o outro. Com o equilíbrio dinâmico, nada tão ruim pode durar tanto tempo. O holocausto,
por exemplo, acabou não durando, porque o resto do mundo reagiu... Bem,
pensando bem, não posso dizer que o holocausto não durou muito tempo: não deveria
ter durado nem um dia. A ditadura no Brasil durou 20 anos.
Outro exemplo de equilíbrio dinâmico é a Wikipédia. Vá lá e
escreva uma bobagem qualquer, como que a Ponte Preta foi campeã brasileira de futebol
1977. Vai ficar lá por um tempo, até que alguém vai perceber e alterar,
corrigindo o ano em que a Ponte Preta foi campeã brasileira para 1978.
Lembram-se da praga do “gerundismo”? Vou estar te lembrando, leitor esquecido:
lá pela virada do milênio, por alguns anos todo mundo falava “vou estar
verificando”, “vou estar corrigindo”, “vou estar lendo”, “vou estar parando de
dar exemplos”. Até que um movimento pela internet começou a ridicularizar a
mania, que aos poucos foi perdendo força e hoje só se faz notar nos call
centers, que demoram mesmo um tempão para estar percebendo as coisas.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. O
problema é o tempo que dura até que o equilíbrio dinâmico se imponha. Pode levar
muito tempo, como o holocausto e a ditadura brasileira. Tomara que leve menos
tempo para que a praga do politicamente correto seja extinta.
Vinícius pediu desculpas às feias para dizer que beleza é
fundamental. Eu peço aos burros, para dizer que a burrice é uma epidemia
devastadora. Só gente sem noção para querer posar de boazinha, para querer
estar do “lado certo”. Precisa ser burro demais para querer corrigir livros clássicos
como se eles fossem responsáveis pela escravidão e pela maldade humana. E gente
que quer ter uma boa conversa para mudar alguém, sem perceber que suas “boas
conversas” anteriores tenham sempre, em bom português, dado merda? Mais do que
prepotente, só sendo burro para achar que se pode mudar o outro e transformá-lo
numa “pessoa melhor”.
Foi gente burra que, incapaz de analisar um contexto mais
amplo e formular questões mais complexas, inventou o “politicamente correto”. Sabe
o que é o “politicamente correto”? É, mais ou menos, um guia formulado por
burros influentes e destinado a burros populares para que estes não precisem
interpretar os fatos, não precisem analisar contextos: basta tomar a posição definida
como a certa e pronto, podem ser consideradas inteligentes. Gente assim não sabe
que as pessoas carregam o mal dentro de si, que as pessoas têm impulsos de
quebrar a cara do marido ou da vizinha, mas que uma moral coletiva as impede
(nem sempre).
“Temos que sufocar nossos impulsos, mas às vezes não
queremos sufocá-los”. Essa frase é dita pelo ator John
C. Reilly no filme “Deus da Carnificina”, dirigido por Roman
Polansky. O filme fala, num primeiro nível, desse mal que carregamos, dos
nossos impulsos que a vida em sociedade nos impede de dar vazão. Mas nada como “uma
boa conversa” para aflorar nossos impulsos e nosso desejo de extravasá-los.
A história: dois filhos brigam num parque e os dois casais
de pais (gente de bem) estão reunidos para conversar a respeito. No início,
tudo bem, com respeito mútuo e posições amenas. Mas ao discutir o que não precisava
ser discutido (crianças brigam e pronto), os nervos vão se aforando e as coisas
saindo do controle.
O filme começa com um certo constrangimento, que vem do fato
de que os dois casais são muito reais, casais que poderiam ser cada um de nós.
Todo o filme se passa num apartamento, com apenas 4 atores (Reilly, Cristoph
Waltz, Kate Winslet e Jodie Foster), todos incríveis. O constrangimento vai
aumentando, aumentando, até chegar a níveis extremos, algumas vezes hilários.
O texto é uma porrada no politicamente correto. A mãe do
agredido quer que os pais do agressor conversem com o filho como ela
conversaria e aplique um castigo como o que ela aplicaria, afinal, ela é adepta
do “guia de procedimentos” estabelecido pelo politicamente correto. E mexer com
isso é mexer num vespeiro.
“Honestidade é uma estupidez. Você enfraquece e baixa a
guarda”.
Cada pequena assunto que vem à tona torna-se extremamente
exaustivo. Mas na discussão que não se acaba, algumas verdades duras são ditas.
“O casal é a mais terrível provação que Deus nos infligiu. Crianças
sugaram nossas vidas e as deixaram desgastadas e vazias. É a lei da natureza”.
“Pare de fungar desse jeito... Choro de mulher leva os
homens ao limite da paciência.”
“Dá um tempo. Já chega com essa merda de politicamente
correto... Essa sua paixão pelos negros do Sudão está afetando tudo agora.”
“Como você pode ser tão abertamente desprezível?”
“Porque estou a fim de ser abertamente desprezível!”
“Você é mais sincero
quando é abertamente desprezível.”
“Vocês não se preocupam?”
“Sim, nós também nos preocupamos, mas de um modo histérico,
não como figuras heroicas do movimento social.”
O constrangimento que “Deus da Carnificina” proporciona nos prende
à trama desde o primeiro instante e em muitos momentos traz situações muito
engraçadas. Diz-se que rimos do macaco porque ele faz coisas que se parecem com
as que fazemos. Pois os momentos mais engraçados do filme são aqueles em que,
de saco cheio de posições politicamente corretas que alguém quer impor ao
outro, algum personagem explode como cada um de nós gostaria de explodir e diz
coisas que adoraríamos dizer.
“Pelo menos nosso filho não é um veadinho covarde”
“Esses dias vi sua
amiga Jane Fonda na TV e tive vontade de comprar um pôster da Ku Klux Kan.
“Minha amiga Jane Fonda? Mas que diabos quer dizer?”
“São da mesma espécie. Mesmo tipo de mulher engajada que
soluciona problemas. Não é dessas que gostamos. As que gostamos são sensuais,
malucas, cheias de hormônio. As protetoras do mundo? Extremamente brochantes.
Até o coitado do seu marido perdeu o tesão.”
Vejo “Deus da Carnificina” com uma esperança, a de que ele represente
o início de um movimento social de equilíbrio dinâmico e gere o declínio dessa
praga fascista de imposição de opinião conhecida como “o politicamente correto”.
“Como a deixa chamar nosso filho de criminoso? Viemos aqui
para resolver as coisas com eles e eles nos insultam, nos intimidam, dão sermão
sobre ser um bom cidadão do planeta... (À outra) Que bom que nosso filho encheu
o seu de porrada. Estou cagando para seus direitos humanos.”
domingo, 6 de janeiro de 2013
POST PROIBIDO PARA PESSOAS SENSÍVEIS E MAGOADINHAS
Quem fica parado é poste!
Portanto, eis-me aqui, saindo da condição do artefato geralmente usado para dar suporte à iluminação pública e a fios de alta tensão... Até porque minha tensão anda baixa.
Eis aqui o Cobra, tentando, não mais parado, engolir novos sapos... Ou sapas... Ih, acho que me compliquei. Com “sapas” me referi às fêmeas do sapo, metaforicamente, é claro, e não às moças que gostam de moças. Não que eu não queira engolir algumas delas, mas duvido que elas queiram. E eu as entendo perfeitamente.
Bem, como se vê, nunca fui muito bom com preliminares. Deixo, pois, os entretantos e parto para os finalmentes comunicando que 2013 se inicia com a rendição do blog à grafia em inglês: este blog, este post, e por aí vai.
É óbvio que não estou falando do povo dotado de alma, espírito e identidade, mas do povo real, do povo que quer ser, não sabe o quê, desde que seja igual à maioria. Falo do povo gado, do povo barata, que saiu dos esgotos e habita as ruas, se acotovela nos shoppings e nas filas; falo do povo inconsciente que vaga à procura de dançar conforme a música; falo desse povo de mentira, que não é nada querendo ser tudo. Falo desse povo que, depois da música-encomenda dos anões breganejos (“cerveja, cerveja, cerveja”) acha o máximo ter a cerveja como objetivo principal em suas vidinhas xexelentas.
Esse povo não é capaz de compor coisas como “mas veio lá da penha hoje uma pessoa, que trouxe uma notícia do meu barracão, que não foi nada boa: já cansado de esperar, saiu do lugar, eu desconfio que ele foi me procurar” nem “é a ceguêra de dexá/um dia de sê pião/num dançá mais amarrado/pru pescoço cum cordão/de num sê mais impregado/e tomem num sê patrão”. Nem de entender nada disso. Esse povo não compõe nada muito diferente de “ai se eu te pego...” ou “seu guarda eu não sou vagabundo, eu sou um cara carente...”.
Esse povo se acha culto lendo 50 tons de cinza e se acha o máximo se escorando no fascismo do politicamente correto. Ainda ouviremos alguém com uma nova interpretação da música do Jorge Bem ou Benjor. Imagino um desses furrecas tipo Seu Jorge ou Cláudia Leite cantando, num show patrocinado por uma ONG que recebe uma baba do governo: “a banda do Zé Afrodescendentezinho chego-ou para a-a-a-animar a festa”.
Restringindo-me ao cinema: esse povinho de merda (sim, de merda) desconsiderou a existência da belíssima, interessante e muito bem filmada saga/aventura dos irmãos Villas-Boas, tema do filme Xingu, de Cao Hamburguer, que faria muito sucesso em qualquer país minimamente civilizado e interessado em suas próprias raízes, mas que no Brazil foi um fracasso de público. Mas veja o público que se acotovela para ver o odioso “O Hobitt”, filme de quase 3 horas de duração, que tem, na primeira hora, uns adultos disfarçados de anões fugindo, em cavalos disfarçados de pôneis, de uns carecas deformados chamados de Orcs. Na segunda hora, idem. E na terceira hora, adivinha o que tem? Bingo: os anões fugindo dos Orcs. Sensacional, não? E o povo lota os cinemas. Os que querem ser inteligentes afirmam, juram de pés juntos, que há uma filosofia por trás dessa chatice interminável. E talvez até haja. Mas e quanto a se arriscar a desbravar um sertão inóspito e de dimensões continentais país e proteger toda uma nação indígena da extinção? Não há filosofia alí? Não há aventura?
Não se trata de nacionalismo. Não acredito em “defender” ou em “valorizar o cinema nacional”. Isso é uma bobagem. Trata-se de se interessar pelo que é bom e culturalmente relevante no lugar de consumir qualquer coisa que vende muito, muitas delas verdadeiros lixos.
Por exemplo, o ótimo e emocionante, além de culturalmente relevante, filme sobre Gonzagão e Gonzaguinha foi visto por muito menos pessoas do que as bombas de humor populacho tipo “E aí, comeu” ou “Os penetras”, pífias reproduções do que há de pior na TV. Se botarem Zorra Total no cinema vão ganhar rios de dinheiro.
Tivemos o ótimo documentário sobre Raul, o tocante, sensível e importante “Cara ou Coroa”, de Ugo Giorgetti, que ninguém que está lendo este post viu. Mas também tivemos os sensacionais “Aqui é o meu Lugar”, com Sean Penn, e “Moonrise Kingdom”, de Wes Anderson, filmes para ver e rever zilhões de vezes.
2012 foi um grande ano para o cinema, aqui e lá fora. Aqui, as moscas e o povo real viram grandes filmes, inclusive brasileiros, ignorados pelo povinho de merda, cada vez mais afundado no seu jeito “amo cerveja” de ser. Por um lado é bom ver os bons filmes sem filas e sem baratas ao redor. Por outro lado é preocupante pensar que logo, logo, o cinema brasileiro seja completamente feito de lixo, tão apetitoso para as baratas.
Portanto, eis-me aqui, saindo da condição do artefato geralmente usado para dar suporte à iluminação pública e a fios de alta tensão... Até porque minha tensão anda baixa.
Eis aqui o Cobra, tentando, não mais parado, engolir novos sapos... Ou sapas... Ih, acho que me compliquei. Com “sapas” me referi às fêmeas do sapo, metaforicamente, é claro, e não às moças que gostam de moças. Não que eu não queira engolir algumas delas, mas duvido que elas queiram. E eu as entendo perfeitamente.
Bem, como se vê, nunca fui muito bom com preliminares. Deixo, pois, os entretantos e parto para os finalmentes comunicando que 2013 se inicia com a rendição do blog à grafia em inglês: este blog, este post, e por aí vai.
A rendição não se restringe aos anglicismos, mas a outros povos com mais identidade que o nosso: este povo brasileiro é um povinho de merda!O que? Levou um choque? Eu também. Mas é isso mesmo: povinho de merda! Pelo jeito, terei que me explicar... Mas aviso que vou me ater aos motivos culturais, mais precisamente relacionados ao cinema, tema principal deste blog. Quanto às outras esferas, os menos nacionalistas e menos crédulos (mais inteligentes, portanto) saberão achar, na política, nos costumes, no modo de vida e na pobreza de espírito do brasileiro médio, motivos mais do que suficientes para concordar com a fecal qualificação.
É óbvio que não estou falando do povo dotado de alma, espírito e identidade, mas do povo real, do povo que quer ser, não sabe o quê, desde que seja igual à maioria. Falo do povo gado, do povo barata, que saiu dos esgotos e habita as ruas, se acotovela nos shoppings e nas filas; falo do povo inconsciente que vaga à procura de dançar conforme a música; falo desse povo de mentira, que não é nada querendo ser tudo. Falo desse povo que, depois da música-encomenda dos anões breganejos (“cerveja, cerveja, cerveja”) acha o máximo ter a cerveja como objetivo principal em suas vidinhas xexelentas.
Esse povo não é capaz de compor coisas como “mas veio lá da penha hoje uma pessoa, que trouxe uma notícia do meu barracão, que não foi nada boa: já cansado de esperar, saiu do lugar, eu desconfio que ele foi me procurar” nem “é a ceguêra de dexá/um dia de sê pião/num dançá mais amarrado/pru pescoço cum cordão/de num sê mais impregado/e tomem num sê patrão”. Nem de entender nada disso. Esse povo não compõe nada muito diferente de “ai se eu te pego...” ou “seu guarda eu não sou vagabundo, eu sou um cara carente...”.
Esse povo se acha culto lendo 50 tons de cinza e se acha o máximo se escorando no fascismo do politicamente correto. Ainda ouviremos alguém com uma nova interpretação da música do Jorge Bem ou Benjor. Imagino um desses furrecas tipo Seu Jorge ou Cláudia Leite cantando, num show patrocinado por uma ONG que recebe uma baba do governo: “a banda do Zé Afrodescendentezinho chego-ou para a-a-a-animar a festa”.
Restringindo-me ao cinema: esse povinho de merda (sim, de merda) desconsiderou a existência da belíssima, interessante e muito bem filmada saga/aventura dos irmãos Villas-Boas, tema do filme Xingu, de Cao Hamburguer, que faria muito sucesso em qualquer país minimamente civilizado e interessado em suas próprias raízes, mas que no Brazil foi um fracasso de público. Mas veja o público que se acotovela para ver o odioso “O Hobitt”, filme de quase 3 horas de duração, que tem, na primeira hora, uns adultos disfarçados de anões fugindo, em cavalos disfarçados de pôneis, de uns carecas deformados chamados de Orcs. Na segunda hora, idem. E na terceira hora, adivinha o que tem? Bingo: os anões fugindo dos Orcs. Sensacional, não? E o povo lota os cinemas. Os que querem ser inteligentes afirmam, juram de pés juntos, que há uma filosofia por trás dessa chatice interminável. E talvez até haja. Mas e quanto a se arriscar a desbravar um sertão inóspito e de dimensões continentais país e proteger toda uma nação indígena da extinção? Não há filosofia alí? Não há aventura?
Não se trata de nacionalismo. Não acredito em “defender” ou em “valorizar o cinema nacional”. Isso é uma bobagem. Trata-se de se interessar pelo que é bom e culturalmente relevante no lugar de consumir qualquer coisa que vende muito, muitas delas verdadeiros lixos.
Por exemplo, o ótimo e emocionante, além de culturalmente relevante, filme sobre Gonzagão e Gonzaguinha foi visto por muito menos pessoas do que as bombas de humor populacho tipo “E aí, comeu” ou “Os penetras”, pífias reproduções do que há de pior na TV. Se botarem Zorra Total no cinema vão ganhar rios de dinheiro.
Tivemos o ótimo documentário sobre Raul, o tocante, sensível e importante “Cara ou Coroa”, de Ugo Giorgetti, que ninguém que está lendo este post viu. Mas também tivemos os sensacionais “Aqui é o meu Lugar”, com Sean Penn, e “Moonrise Kingdom”, de Wes Anderson, filmes para ver e rever zilhões de vezes.
2012 foi um grande ano para o cinema, aqui e lá fora. Aqui, as moscas e o povo real viram grandes filmes, inclusive brasileiros, ignorados pelo povinho de merda, cada vez mais afundado no seu jeito “amo cerveja” de ser. Por um lado é bom ver os bons filmes sem filas e sem baratas ao redor. Por outro lado é preocupante pensar que logo, logo, o cinema brasileiro seja completamente feito de lixo, tão apetitoso para as baratas.
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