sábado, 15 de outubro de 2011

PLEASANTVILLE E A COR DA NOSSA VIDA


Sabe quando a vida está boa... mas nem tanto?
Quando não há nada de errado com sua vida, você não está triste, algumas coisas vão bem, outras nem tanto, enfim, sabe quando a vida está normal, caminhando sem sobressaltos?
É como se sua vida estivesse bem, tudo claro, tudo bem nítido, mas... já sei: é como se sua vida estivesse em preto e branco. Você não sabe que sua vida está em preto e branco porque você nem pensa na cor, você vive a sua vida.
Na “Jornada do Herói” é como se você estivesse no estado de inocência, quando o herói, sem saber, se prepara apara o que vai vir. Mas você não sabe o que virá, nem se virá algo. Minha tia chamaria isso de vida sem sal, minha mãe chamaria isso de inconstância, uma amiga chama isso de sábado. Podemos chamar também de tédio inconsciente.
Matisse sem edição... Como é melhor!!!
Mas eis que, de repente, alguém aparece do nada, alguém novo ou alguém que você não via (ver é relativo nestes dias de banda larga) há muito tempo... E essa pessoa vem como se tivesse uma aquarela numa mão e um pincel na outra, e vem colorindo a parede da sua sala, do seu quarto, de todos os cômodos da sua vida...
Lembrei da música do Itamar: “bem que você podia, entrar na sala, da minha tarde vazia, como uma poesia”.
Você já sentiu alguém colorindo a sua vida e te deixou vibrando por dentro, como se um esquilo estivesse pulando dentro de você? É claro que já sentiu. Tem gente que é assim, carrega aquarela e vai colocando cor por onde passa.
Acabei de assistir o magnífico “Pleasantville”, de 1998, que por aqui levou o nome de “A Vida em Preto e Branco”. David (Tobey Maguire) é um rapaz viciado numa séria antiga, dos anos 50, Pleasantville. Obviamente a série é em preto e branco. Sua irmã, a fútil loira burra Jennifer (Reese Whiterspoon – era ótima já novinha) pega no pé do irmão nerd viciado numa série do passado. O roteiro (não interessa como) acaba mandando os dois para dentro da TV, mais precisamente para dentro da série, que mostra uma família sem sal de classe média. Eles entram como o casal de filhos da família. David, fanático pela série e conhecedor de todos os personagens, guia a irmã por aquele mundo onde tudo é totalmente certinho, tudo com horário, tudo funciona, no basquete do colégio ninguém erra cesta e, pasme-se: a irmã ex-loira burra é inteligente. É ou não é uma maravilha a vida em Pleasantville?
Boa, mas com um problema: é em preto e branco. Lá David (agora Bud) se sente à vontade como nunca se sentira no mundo real. Tão à vontade que começa a se soltar, e a soltar suas idéias libertárias pela cabeça do povo, e tudo começa a se colorir em Pleasantville, para assombro dos conservadores.
O filme é suave, elegante, delicado e lindo de se ver, maravilhosa direção de arte.
O clipe abaixo é quase um resumo do filme: veja que maravilha.

O que mais importa é que, ao final, você tem vontade de também pegar uma aquarela e sair colorindo o mundo e a vida das pessoas.
Lembrei de Chapecó, oeste de Santa Catarina, onde morei por cerca de dois meses e chefiei uma unidade pequena, com algo em torno de 15 ou 20 pessoas. Foi pouco tempo, mas com muita intensidade. Eu, basicamente um soturno anti-social convicto, freqüentei as casas de todos, conheci suas famílias, dei e ganhei presentes, fui ao estádio em turmas, aos churrascos e, sobretudo, conversei. A cultura era muito diferente e achei estranha a subserviência aos superiores, a pouca importância que davam às suas próprias opiniões e o quase nulo desejo de participar com idéias e mudar a vida, ao menos no trabalho. 
Resolvi que eu não daria ordem alguma, tudo eles decidiriam. Também disse que aos sábados todos pensariam em mudanças, dariam opiniões e decidiriam sobre algo novo, qualquer coisa, a fazer no ambiente de trabalho já na semana seguinte. Foram 2 ou 3 meses maravilhosos. 
Colorir a vida talvez seja algo como comer uma maçã no paraíso
Às vésperas de eu ir embora, uma mulher que trabalhava comigo (miseravelmente não me lembro de seu nome) me perguntou se eu tinha consciência da minha missão na vida. Devo ter gaguejado alguma coisa, enfim, não sabia, ou achei que não tinha, como acho até hoje. Ela falou, e começou a chorar, que ter consciência da missão é muito importante e que se ela podia me dar algum presente era me comunicar que a minha missão era melhorar as pessoas, era dar significado à vida dos outros.  E disse que eu tinha feito isso com todos eles. Não acho que tenha merecido aquilo, mas “a missão” ficou na minha cabeça e serve, ao menos, para eu me cobrar fazer algo, despertar a mim mesmo e às pessoas de vez em quando. Escrevendo isso, me lembro da despedida do chefe no final de “A Riviera Não É Aqui”, filme francês que já mereceu um pôsti neste aclamado (por mim) blógui.   
Não sei, e desconfio que ninguém saiba, o que dá mais prazer: colorir a vida dos outros ou ter a vida colorida por alguém.  Este emocionado pôsti, dedicado aos Matisses que colorem nossas vidas, termina com a música que fecha o filme, a maravilhosa “Across The Universe”, dos Beatles, cantada por Fiona Apple. No clipe ela está na cena em que os conservadores quebram a lanchonete que ousou ter uma vitrine com cores.


2 comentários:

Anônimo disse...

Jai guru deva, om.

Ana Lúcia disse...

Acho que você colore todas as paredes por onde passa! E faz isso sempre... =)

Hoje eu acho que a minha vida está assim... meio em preto e branco e é só! Mas acredito que isso seja uma fase, e que como todas as outras, passam... =)

Que bom que alguém está colorindo as suas paredes! E sobre a sua missão...isso dá horasss de conversa!

BEIJO!

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