Desde tempos imemoriais as mulheres nos aterrorizam com aquele jeito de inalcançáveis, de senhoras de si, bafejando aquele insuportável ar de segurança. Até no primeiro beijo, a que as meninas dão (ou davam?) tanta importância, e que poderia causar alguma insegurança, elas são mais seguras que os homens. É óbvio que o jeito “não tô nem aí” dos meninos é puro engodo. Não é que os meninos tivessem medo do beijo, mas tinham um enorme medo das mulheres, de não agrada-las, de fazê-las correr a outro que as beijasse melhor.
Ô, mulata assanhada
Que passa com graça
Fazendo pirraça
Fingindo inocente
Tirando o sossego da gente
(Ataulfo Alves)
A mãe natureza (olha só, até a natureza é mulher) fez com que as mulheres escolhessem os homens, e isso nos colocou, a nós, homens, desde que o mundo é mundo, em posição de inferioridade e insegurança: dependemos de sua aprovação, e qualquer ser humano que dependa da aprovação de outrem, fica inseguro, porque não depende só de si, mas do julgamento do outro, da outra, no caso. .
Bonequinha de Luxo, com Audrey Hepburn representando a mulher acessível (no sentido de que Holly era uma mulher que todas poderiam ser), inventou a mulher moderna: que podia ser independente, ficar linda com apenas um pretinho básico – também inventado pelo filme, e livre para amar – ou para fazer amor. Depois desse filme, a situação do homem piorou ainda mais, porque as mulheres ficaram ainda mais interessantes e mais desejáveis (quanto mais alto o vôo – ou o desejo, maior o tombo - e o medo da queda). As bobagens da “revolução sexual” e do feminismo tentaram, felizmente em vão, destruir isso, descendo a mulher do seu pedestal. As feministas (praticamente um eufemismo para feias invejosas) reclamaram até da propaganda da Gisele Bündchen.
* Aqui um adendo, não para ser politicamente correto, mas para evitar má interpretação: mulher é feia ou bonita muito mais pelo “uso” que faz de si mesma do que por condições físicas naturais. Feministas não gostam de passar com “graça fazendo pirraça” e não querem “aderir” à feminilidade que chamam de cosmética (mas que Eva já tinha, ou seja, é natural), e por isso não tiram o sossego da gente e acabam sendo feias à vista do homem, hétero ou não. E quem são as bonitas? Bonitas, ora, são as simplesmente bonitas (outro dia li: que bom que Vinícius foi de um tempo livre da chatice do politicamente correto e pôde escrever “desculpem as feias, mas beleza é fundamental" – hoje seria processado). E já que falei dos homens não héteros, devo falar também das mulheres que não passam “com graça fazendo pirraça” por não terem interesse nos homens: imagino que, sem perder sua beleza, também prefiram as mulheres que passam com graça fazendo pirraça.
desce do trono, rainha
desce do seu pedestal
(Arnaldo Antunes)
A resposta é dada por Jerry Lewis, o mais refinado palhaço que este mundo já viu num filme que fez sobre esse terror que as mulheres provocam nos homens, ao menos aos sinceros. O genial Jerry Lewis presenteou a humanidade com uma jóia rara e singular: O Terror das Mulheres. Nele, JL é Herbert H. Heeber, um tímido que após uma desilusão amorosa (rejeição), passa a sentir verdadeiro terror ante as mulheres, foge de sua pequena cidade e cai, sem saber, numa pensão de mulheres, não qualquer pensão de mulheres, mas numa pensão de mulheres que iniciam na carreira artística: atrizes, instrumentistas e modelos, ou seja, uma pensão cheia de beldades que “passam com graça fazendo pirraça”, justamente o que mais aterroriza Herbert.
E Jerry Lewys faz um filme tão belo quanto a beleza que ele quer retratar. Como ator é um palhaço refinado que, com o corpo e com expressões faciais, ilumina o espetáculo. Como diretor é um jazzista, também refinado, capaz de criar uma mise-em-scène (não existe, acho, expressão em português para isso) como a que se pode ver no link mais abaixo.
O cenário que ele criou lembra o de Janela Indiscreta, mas todo no interior de uma mansão. Veja a cena abaixo. É o primeiro amanhecer de Herbert na pensão. Os movimentos são perfeitamente encaixados na música, numa maravilhosa coreografia não dançada, com os instrumentos representando os personagens e a câmera sempre bem posicionada (atenção à ótima tomada em que, em primeiro plano a primeira mulher ajeita a meia e em segundo plano, outra, bem diferente, repete o movimento).
E como esse filme responde à questão colocada pela leitora curiosa da alma masculina? Afinal, os homens preferem a mulher que passa fazendo pirraça e atormentando o coração da gente ou aquela que lhe dá segurança?
Antes da resposta final, um brinde: duas cenas do filme. Na primeira, Jerry Lewis brinca com o homem seguro, o chamado homem com H, machérrimo. É uma cena de ação e reação, quase sem palavras, que acaba com um “atrás da porta” à Lubitch.
Na segunda, uma homenagem ao cinema, eu que Lewis ao mesmo tempo homenageia um seu ídolo e realiza algo como um sonho pessoal, num lindo brincar de cinema, mostrado com beleza e elegância. Por algum motivo, não consegui puxar o link prá dentro do blógui, mas este é o link:
Na segunda, uma homenagem ao cinema, eu que Lewis ao mesmo tempo homenageia um seu ídolo e realiza algo como um sonho pessoal, num lindo brincar de cinema, mostrado com beleza e elegância. Por algum motivo, não consegui puxar o link prá dentro do blógui, mas este é o link:
Afinal, o que preferem os homens?
Herbert tenta fugir da pensão várias vezes, afinal, aquelas dezenas de mulheres lindas o atormentam demais. Mas não consegue, porque elas o impedem (ele as ajuda muito nos afazeres cotidianos). No final, elas deixam de impedir que ele se vá. Ele vai?
É claro que a questão que levantei e coloquei na boca da leitora curiosa é falsa. Mulher nenhuma, especialmente a que passa com graça fazendo pirraça, como é o caso das leitoras deste blógui, tem essa dúvida, caso contrário não passariam com graça fazendo pirraça, atormentando o coração da gente.
Herbert fica, é óbvio, feliz da vida. Feliz e profundissimamente atormentado.
Um comentário:
Eu AMO esses seus assuntos de post! rs...
bjsss
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