sábado, 18 de agosto de 2012

UM DIVÃ PARA CASAIS



Acabo de retornar do cinema, tomar um banho e cair na cama. Sinto-me como que voltando de uma espécie de Spa emocional.

Nunca escrevo sobre um filme assim, tão pouco tempo depois. Prefiro maturar, vê-lo novamente no dia seguinte, para sentir e refletir melhor. Isso porque nunca penso em escrever sobre um filme como um crítico. O que se lê neste Cobra não são críticas, mas reflexões, talvez crônicas. O que mais me interessa no cinema é ao que ele nos remete, o que ele nos proporciona, no que nos transforma, e normalmente preciso de um tempo para sentir o que um filme me fez.

Neste mundo moderno, em que nos tornamos autômatos, colocando nossa vida no piloto automático, buscamos o cinema pela sua capacidade de nos fazer vivenciar plenamente uma experiência ficcional prazerosa. E o bom cinema se diferencia cinema ruim basicamente por dois aspectos:
- quanto maior a qualidade cinematográfica, mais intensa e prazerosa essa viagem ficcional;
- o bom cinema usa a ficção como transporte para nos levar ao fundo das coisas e de nós mesmos, numa viagem crítica e analítica, portanto, transformadora. 


A comédia “Um divã para dois”, que estreou hoje, me fez ir ao fundo de mim mesmo tão rapidamente e com tamanha clareza que me dispensei do tempo de que normalmente preciso para a tal maturação. O filme fala de um casamento que perdeu o fôlego, que caiu na rotina, que perdeu o viço. Alguém aí conhece um casamento assim? Cantou o Fagner: “amor quando perde o viço, nenhum carinho consola; sereno na boca da noite orvalha, mas não molha.” O tema me é caro, afinal, foram-se lá quatro casamentos, sem nenhum funeral. 

Meryl Streep, sempre divina, é a esposa que busca um terapeuta de casais porque o marido não a procura mais, não fazem sexo há anos. O terapeuta (Steve Carrell) os coloca em situações delicadas. Tommy Lee Jones é o marido carrancudo que acha aquilo tudo uma estupidez. A sinergia entre ele a Streep é inacreditável, parece que já fizeram 10 mil filmes juntos, parece que são casados há 30 anos e que não fazem sexo há 4. Os dois mega atores dão um show. Tommy carrega a parte cômica. Ator excepcional, usa a expressão (e não caretas) para fazer gargalhar inúmeras vezes a plateia. Eu mesmo chorei de rir algumas vezes. O filme é inteligente e delicado, equilibra a comédia com o drama sensível, sem cair nem na comédia rasa nem no drama fácil. 

Casais de meia idade, casais sem viço, casais que já não fazem sexo como antes (ou seja, todos, exceto os casais de mentirosos), eu os conclamo para irem ainda neste final de semana ao cinema, mas preparem-se, porque o filme, além de fazer rir muito, toca em algumas feridas. Se quiserem, por iniciativa da mulher, é claro, trabalhar essas feridas depois, em casa, numa discussão da relação, ok, é uma oportunidade. Caso contrário, encarem o filme exatamente como ele é: uma deliciosa, inteligente, emocionante e transformadora comédia sobre o amor e o casamento. Tão transformadora que me deu vontade de casar de novo, e não me separar nunca mais, seja lá quem for a dita cuja. Por ora, vou dormir, que já é tarde. Quem sabe amanhã a vontade já passou...

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