segunda-feira, 11 de março de 2013

ENQUANTO A FUMAÇA BRANCA NÃO VEM

A igreja católica está em festa. 

Sempre gostei de a companhar os noticiários após as mortes de papas anteriores. Normalmente quando se morre um papa há aquela comoção toda, tristeza, choradeira, as TVs transmitem o velório e  mostra a multidão fazendo filas para dar o último adeus ao santo padre. Sempre estranhei essa frase que todas as TVs usam ao mostrar velórios de famosos: "dar o último adeus", como se todo mundo tivesse dado vários "adeus" antes daquele. Mas vá lá, o que sempre me importou era estar conectado com aquela tristeza geral, muito embora ela sempre guardasse uma porçãozinha disfarçada de excitação e expectativa com a eleição do próximo papa. 

Todo mundo acompanha eleição de papa, que por sinal tem aquela esquisita designação "conclave". Eu sempre confundia com conclave com conchavo. A Igreja católica sempre trabalhou bem, em termos de espetáculo, o conclave. Genial aquela ideia, talvez milenar, de jogar fumaça preta e fumaça branca, esta última quando o novo papa foi escolhido, ou eleito. Isso, aliado com a estratégia de todos os cardeais ficarem lá dentro incomunicáveis seja por quanto tempo for, faz com que o mundo todo fique ali, parado, olhando para uma chaminé. O suspense continua até que se abra a porta daquela varanda do prédio do vaticano e alí apareça um velhinho com uma roupa sensacional e erga os dois braços dizendo ao mundo "podem ficar  tranquilos, Deus me mandou aqui para cuidar de vocês e tudo continuará bem".


Pois bem: como consta na abertura deste nem tão católico post, a Igreja católica está em festa, porque desta vez ninguém precisa disfarçar a empolgação com o conclave: ninguém morreu! O papa anterior está lá, são e salvo e vai morar num maravilhoso castelo, bem melhor do que um túmulo, por mais lindo, espaçoso e dourado que este fosse. 

Grande parte do, digamos, sucesso institucional do conclave é que ele desperta nossa curiosidade. Como será que é essa votação? Como ficam os cardeias lá dentro? O que sentem os candidatos a Papa? Diga a verdade, leitor, católico ou não: você nao gostaria de ser uma formiguinha para ver o que rola lá dentro? 

Então satisfaça esse desejo: vá a uma locadora e pegue "Habemus Papam", brilhante filme do italiano Nanni Moretti. 


Um Papa morreu e tem início o conclave. Com um inicio que mais parece um documentário, o filme impressiona pelo realismo com que mostra os cardeais, o Vaticano por dentro, o modus operandi do conclave e a expectativa dos cardeais. Interessantíssimo quando o filme deixa a linguagem documental e entra na cabeça dos cardeais, que imploram a Deus que não os coloque naquela posição. Um destes acaba eleito, o que parece provocar nele uma visível tensão, que explode numa crise de pânico quando ele é chamado a sair no balcão e se apresentar ao povo. O homem trava. E não há quem o tire de seu torpor. O relações públicas inventa uma desculpa qualquer à imprensa enquanto tentam resolver o impasse. Aí chamam um psicólogo, mas as regras do vaticano impedem que ele fique sozinho com o novo papa para fazerem as sessões. O problema aumenta quando o papa foge e fica no meio do povo, para tentar se encontrar. 


O psicólogo fica preso lá dentro, junto com os cardeais e, na falta do que fazer organizam jogos de mesa e, pasmem, um campeonato de vôlei. Essa sinopse parece levar a crer que estamos diante de uma comédia. De fato, divertido é. Mas ao tratar o humor das situações inusitadas com delicadeza e respeito, a trama ganha em profundidade, afinal, trata-se de um dilema de quem é o "escolhido de Deus" e não se julga com competências necessárias para ocupar a posição que ocupa. Como uma sincera reflexão sobre suas competências faria bem a todos aqueles que ocupam posições, nas empresas e na política. Como seria bom se as pessoas não se considerassem Deus. 

Veja o filme e torça para quem quiser no conclave, inclusive para o brasileiro, que tem chances reais de ser o novo Papa. Seria interessante um brasileiro na posição mais importante no mundo depois do presidente dos estados Unidos e do chefe do Al Qaeda. Resta saber que nome o papa brasileiro escolheria. Lula Primeiro?

Voltando ao filme, que não é católico (o diretor, inclusive, é ateu), mas universal: o final, poderoso e revelador, nos leva a compreender, ou ao menos a sondar, a solidão, a grandeza da alma, do sofrimento e do gesto final, quase divino de tão humano.

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