A busca pela felicidade, essa praga moderna, prova da estupidez humana, faz a gente
errar muito, errar demais. Apesar de as mensagens “viva plenamente a sua vida”,
mesmo com assinaturas de Borges e Einsteins, serem carregadas de boas intenções,
elas cada vez mais nos levam à escuridão, na medida em que nos obrigamos cada
vez mais a priorizar a felicidade, a NOSSA felicidade.
O que há de errado em priorizar a nossa felicidade?
Tudo, a começar pelo que é mais objetivo: é impossível ser feliz escolhendo ser feliz, como é
impossível ter a casa limpa sem limpá-la. A felicidade é um
subproduto: é efeito. A gente pode ser feliz como consequência de escolhas,
corretas ou não, que fazemos por acreditarmos serem as mais justas, humanas, belas,
éticas; como consequência de realizarmos um trabalho da melhor forma que
pudermos, de criarmos um filho da melhor forma que pudermos, de ajudarmos
pessoas, de compartilharmos conquistas. Enfim, a felicidade não pode ser alcançada
se for um fim.
É, portanto, a busca pela felicidade que nos afasta dela,
porque acabamos querendo vê-la a cada escolha, a cada ação. Se a felicidade não
aparece hoje, então é porque errei e concluo que o que fiz hoje não me faz
feliz; aí desisto do que fiz hoje, das roupas de hoje, das pessoas de hoje.
Aí você diz “ah, isso eu não faço isso, eu só faço o que me
faz ser feliz, porque eu decidi ser feliz”. E vai na academia, na clínica de
estética, no psiquiatra, e toma calmante e toma laxante... E a vida continua a
mesma porcaria...
E você briga, e você dispensa quem te ama, e a vida vira uma tempestade, e você sobe num balão para tentar fugir, vai pra balada, sobre num balão, embarca num furacão e vai para um mundo novo, colorido, cheio de riquezas
e possibilidades, um mundo em que todos te acham o máximo. Mas, com o tempo, nem
mesmo esse mundo te satisfaz. Então você compreende que o problema é que você não
merece esse mundo... Aí sim, finalmente, você se toca e começa a fazer
algo, não para si, não “focado” na sua felicidade, sem se importar se você será feliz
ou não.
Esta é a história, velha, mas poderosa, de “Oz, Mágico e
Poderoso”, que estreou neste final de semana. Detesto fazer o papel de estimular altas
expectativas, porque um dos segredos para gostar de um filme é não ter grandes
expectativas sobre ele (aliás, vale para pessoas – se projetarmos expectativas
e elas não forem concretizadas – o que quase sempre ocorre, nos decepcionamos e
a vida a dois vira uma m...).
Mas no caso deste filme, o faço sem medo: pode ir
ao cinema e colocar seus óculos 3D com altíssimas expectativas. Se não se
divertir muito e sair exultante, vá direto do cinema ao psicólogo, porque ou você
tem sérios problemas, ou é um daqueles que acham que para um filme ser bom, tem
que ser chato e o casal tem que terminar separado.
“Oz” é um filme da Disney, é um Disney com “D”
maiúsculo, que usa, sim, uma velha história, mas daquelas que nunca
envelhecem. Além disso, o filme trata de atualizá-la com um roteiro inteligente, com um humor moderno, com a criação de um mundo de incrível beleza, acentuado
com um deslumbrante 3D, o melhor que já vi, daqueles que te envolvem mesmo e,
finalmente, com mulheres estonteantes vestidas magnificamente. Tudo é
extremamente bem cuidado. Tudo é envolvente.
Agora, emocionante mesmo é a cena da aparição da boneca de
porcelana, e talvez todas as demais cenas das quais ela participa. Uma personagem
fantasticamente bem construída, cheia de riqueza, interior e exterior.
A direção é segura e inteligente, o filme não sai do trilho,
o ritmo parece ser sempre apropriado, o humor entra em momentos precisos, e
algumas cenas são trabalhadas com arte e grandiosidade, o que já é uma marca de
Sam Raimi, que conseguiu fazer cenas poderosas até em O Homem Aranha.
Vá para o cinema ver “Oz, Mágico e Poderoso”, mas lembre-se:
não vá para ser feliz. Vá porque você ama quem vai levar junto, nem que seja
você mesmo.
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