Hoje é domingo, o dia da semana que mais carrega significados.
Na minha infância, significava ver “A Família Trapo” (nome que, aprendi no
Google, foi inspirado na Família Von Trapp, aquela do musical “A Noviça Rebelde”),
com Otelo Zeloni, Renata Fronzi (a cara da minha irmã Ana), Golias e Jô Soares.
Para muitos, domingo significa comer maionese e macarronada, ver Silvio Santos,
ir ao futebol... Há tempos que para mim domingo significa ler o jornal de
domingo, o que normalmente faço na cama, antes de me levantar. Maravilhas da
internet móvel.
E hoje o jornal trouxe uma informação que mudou meu dia e,
espero, mude o seu: há exatos 40 anos era lançado um dos maiores discos da história
da música – The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, aquele cuja capa é a mais
conhecida da história das galáxias. Levantei já com o dito cujo nos ouvidos
(tenho o “disco” no mesmo celular em que li a matéria), saí com os cães, fiz
compras, cozinhei um ratatouille, e neste momento estou bebendo um freixenet, tudo
ouvindo várias vezes a genial obra prima da banda inglesa.
Ouvi Dark Side pela primeira vez lá pelos 17 anos (quando
foi lançado eu tinha 11), numa fita que o Sinistro (um dia escrevo sobre ele) gravou
para mim. Foi uma pedrada. Senti tudo o que aquela obra queria dizer sem ter a
mínima ideia do que dizia e quando, sei lá quanto tempo depois, tive acesso à
letra, constatei, sem nenhuma surpresa, que tudo o que eu sentia quando ouvia, era
exatamente o que as letras diziam. Quando a forma comunica e toca, o nome disso
é arte! E quanto mais comunica, mais arte é. Assim é com o cinema, com a pintura
e, creio, com qualquer outra verdadeira manifestação artística: diz coisas relevantes
e profundas através da beleza das formas. No caso de Dark Side, as formas se
fazem com ritmos, instrumentos, vozes, cantos, sons e alma.
Cada passagem de cada música foi cuidadosamente elaborada de
modo a não se limitar à melodia e aos instrumentos. Sons de objetos, falas
avulsas, sequências rítmicas feitas com instrumentos novos ou mesmo com
não-instrumentos engenhosamente criados com o fim de transmitir algo a mais. A
criatividade e a capacidade de inovação do quarteto estavam a mil. O resultado
foi a maior obra pop-rock da história.
Lembro-me que quando ouvia a abertura, com aquele coração pulsando
grave, a explosão, o grito e aquela melodia elíptica, tudo ali parecia falar comigo, com minhas angústias, com
meu coração aprisionado de adolescente. O nome da música? “Speak to Me”, descobri depois.
O disco é uma obra uníssona, como uma sinfonia. Cada música é
preparação para a próxima, com nível emocional cada vez maior. A segunda melhor ligação de uma música para
outra, na história da música universal, é a passagem da sinuosa "Any Colour You Like" para da épica “Brain Damage” (“The lunatics
is on the Grass...”). A melhor passagem da história é exatamente a seguinte, de
“Brain Damage” para “Eclipse”. Maldito seja para toda a eternidade aquele que
ouvir uma sem a outra. E que morra seco aquele que as ouvir na sequencia e não ficar
paralisado de emoção, admiração, respeito, estupefação, seja lá o que for... O
final do disco, com Eclipse, é de uma emoção indescritível. Só ouvindo...
Ao contrário de nós, que envelhecemos a cada ano, parece que
“Dark Side” não envelhece, está cada vez mais cheio de qualidade, energia e
significado.
Curiosidade, para fechar com chave de ouro e com mistério:
diz a lenda que as músicas foram feitas sobre o filme “o Mágico de Oz”, como se
fosse uma trilha sonora. Gilmour e Waters negam, mas, de fato, são impressionantes
algumas coincidências entre os climas e os momentos de virada das cenas e das
musicas. No link, o filme e a música juntos: http://www.youtube.com/watch?v=h6a5DH_ePVQ
Dê
esse presente a você mesmo: ouça, o mais rápido possível, mas ouça como se
deve, sem ninguém por perto, sem pensar em mais nada. E se você gostar, e se
ficar paralisada*, então...
“I'll see you on the dark side of the
moon”
* Acho que
quando escrevo penso em mulheres, ou em uma mulher, sei lá...
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