Nesta última postagem sobre o mestre (fora os filmes que aparecerão por aqui), não falarei nada, já falei demais nas outras duas. Com a palavra, o mestre Hichcock.
“Estou aqui para dar boas e saudáveis sacudidelas mentais na platéia. A civilização passou a nos resguardar e proteger tanto que não conseguimos vivenciar emoções suficientes por conta própria. Portanto, para impedir que fiquemos lentos e moles, temos que vivenciá-las artificialmente, e o cinema é o melhor meio para isso.”
“A regra do jogo é que o expectador inconscientemente se ponha no lugar do herói; porque, na verdade, as pessoas só se interessam por si mesmas, ou por histórias que poderiam afetá-las.”
“Em Psicose havia o assassinato impressionista muito violento no banheiro, que foi montado com pedacinhos de filme, dando a impressão de uma faca golpeando a vítima, e assim por diante. Uma vez completada essa parte do filme, instilei na mente da platéia apreensão suficiente acerca da existência de um assassino, de forma que, à medida que o filme prosseguia, foi possível reduzir e praticamente eliminar qualquer violência posterior, pois eu só queria que ficasse a ameaça. Uma vez que já havia dado à platéia, digamos, uma amostra, permiti-lhe imaginar a violência. Não precisei mostrá-la.”
“Muitos cineastas têm na cabeça o conjunto do set inteiro e o clima da filmagem, ao passo que deveriam ter no espírito um único pensamento: o que aparecerá na tela. Como você sabe, nunca olho no visor, mas o câmera sabe direitinho que não quero ar nem espaço em torno dos personagens, e que é preciso reproduzir fielmente os desenhos que fizemos”.
“Em ‘Os Pássaros’, as aves atacaram a casa entrincheirada, quando Melanie recuou para o sofá, mantive a câmera bem longe dela e ali me aproveitei do espaço para indicar o vazio, o nada do qual ela recua. Em seguida fiz uma variante, quando tornei a enquadrá-la e pus a câmera bem no alto, para dar a impressão de que essa angústia subia dentro dela. Se eu tivesse começado desde o início bem pertinho da moça, teríamos a impressão de que ela recuava diante de um perigo que ela enxergava, mas que o público não percebia. Inversamente, eu queria mostrar que ela recuava diante de um perigo que não existia.”
“Em ‘Janela Indiscreta’ , quando o homem entra no quarto para jogar James Stewart pela janela, primeiro filmei a coisa completa, por inteiro, de modo realista. Era fraco, não rendia nada. Então filmei o close-up da mão que se agita, close-up do rosto de Stewart, close-up das pernas, close-up do assassino e, em seguida, dei ritmo a tudo isso; a impressão final ficou correta.”
“Em ‘Sabotagem’, quando o menino estava no ônibus, tendo colocado a bomba ao lado de si, toda vez que eu mostrava a bomba eu a filmava de um ângulo diferente, para dar vitalidade ao objeto, para animá-lo. Se tivesse mostrado a bomba o tempo todo sob o mesmo ângulo, o público teria se acostumado com aquele embrulho: ‘Ora essa! Afinal de contas é só um embrulho’, mas eu queria lhe dizer: “Não é não! Veja! Tome cuidado, preste atenção!”
“Você sabe que o público sempre procura prever e gosta de poder dizer: ‘Ah! Sei o que vai acontecer agora’. Então, temos não só de levar isso em conta, como temos que dirigir completamente os pensamentos do expectador.”
“Aposto tudo o que você quiser que, numa produção comum, teriam dado a Janet Leigh o outro papel, o da irmã que investiga, pois não é hábito matar a estrela na primeira terça parte do filme. Quanto a mim, foi de propósito que matei a estrela, pois assim o crime era mais inesperado ainda. A construção desse filme é muito interessante e é minha experiência mais apaixonante de jogo com o público. Com ‘Psicose’, fiz a direção dos expectadores, exatamente como se eu tocasse órgão.”
“Não gosto de literatura muito elaborada, cuja sedução reside no estilo. Me espírito é estritamente visual e, se leio uma descrição detalhada, fico impaciente, pois poderia mostrar a mesma coisa e mais rápido com uma câmera.”
“A imprensa foi muito elogiosa com ‘Janela Indiscreta’, mas uma crítica considerou que era um filme horroroso, por causa da idéia do voyeur. Mesmo se alguém tivesse me dito isso antes que eu iniciasse o filme, isso jamais me impediria de fazê-lo, pois devo lhe dizer que meu amor pelo cinema é mais importante do que qualquer moral”.
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