O que é o amor? Aquilo que vem depois da paixão, mais manso e calmo (logo, insosso)? Ou algo que não sabemos explicar, mas que nos toma e nos transcende?
A Teoria do Amor é um filme muito, mas muito legal mesmo. O Diretor é o australiano Fred Schepisi, de Seis Graus de Separação, um filmaço, Ferocidade Máxima, uma comédia deliciosa com uma atuação impressionante de Kevin Kline, e Roxane, comédia inspirada em Cyrano, com Steve Martin. A Teoria do Amor fala de um tema caro a todos nós, o amor impossível. Quem nunca se apaixonou, ou ao menos pensou estar apaixonado, por alguém “fora de suas possibilidades”? Por isso fazem tanto sucesso filmes assim. Um Lugar Chamado Nothing Hill (de Roger Michael – 1999, com Julia Roberts e Hugh Grant), que amo, é mais um da série. Roxane, de 1987, é outro, colocando a impossibilidade do amor no gigantesco nariz de Steve Martin.
Em “A Teoria do Amor” Meg Ryan é belíssima, maravilhosa, muito muito muito inteligente, persegue a carreira de cientista, noiva de um cientista e ainda por cima é sobrinha de Albert Einstein. Tim Robins é um mecânico, pobre, desajeitado e não muito inteligente, ao menos a inteligência formal, científica. Mas ele se apaixona pela moça. Não a acha apenas bonita, mas sente que será bom para ela e vice-versa. Ele sabe que está apaixonado por ela, mas ela se recusa a aceitar que está apaixonada por ele, que é exatamente o contrário do que ela sempre planejou ter como marido. São mundos muito diferentes.
Até que o tio da moça, Einstein (Walter Matheau, brilhante), o maior cientista do mundo, simpatiza com o mecânico e resolve ajudá-lo, junto com seus amigos, todos brilhantes cientistas, a conquistar a sobrinha, criando situações hilariantes. Tudo é filmado com mão leve e ágil por Schepisi. Uma comédia romântica de primeiríssima qualidade.
É algo indescritível a beleza de Meg Ryan. Mas não é só por sua beleza que ele está apaixonado. É pelo que ela transmite com os olhos, com a voz, com os gestos, com a respiração. Você, sobrinho querido, certamente já teve a sua Meg Ryan (ou o seu, sei lá, Brad Pitt). Fala a verdade: existe sensação melhor do que sentir-se, ao ver alguém, completamente tomado, arrebatado? Respondo: não tem. Essa sensação faz a gente se sentir poeta, faz a gente amar a vida. E não nada o que podemos fazer para evitar, não há argumentos nem razões. Não deixe que seu cérebro atrapalhe o seu coração, diz Einstein à sobrinha. Assista, vale à pena se sua alma não for pequena.
Isso me lembra de que “não há nada no mundo que nós possamos fazer para parar a luz do amor que brilha através de nós”. É uma frase meio auto-ajuda, eu sei. Mas nem por isso deixa de representar exatamente como a gente se sente quando está apaixonado pela nossa Meg Ryan. A frase é uma parte da letra de Mirrors, música da Sally Oldfeild que ficou conhecida por ser o tema de um comercial (na época chamávamos “reclame”) de cigarro. Qual cigarro? Não me lembro, peço a alguém que pesquise e responda (um ano antes a propaganda usou Wuthering Heights, da Kate Bush). Devido ao sucesso da música, o disco Water Bearer, da Sally, saiu no Brasil com o nome de Mirrors. Alteraram inclusive a ordem das músicas, puxando Mirrors para abrir o disco, o que é um grande ultraje. Já seria ultrajante num disco comum, mas num disco onde as músicas se interligam melodicamente, compondo um todo que evolui a cada música, aí é um crime. É como alterar a sequência das músicas do Dark Side..., do Pink Floyd, ou da nona sinfonia de Beethoven. Se você comprar ou baixar o CD, fique tranqüilo que ele já está na ordem correta.
O disco é o primeiro da minha lista dos 10 discos de cabeceira, se é que alguém guarda disco na cabeceira. “Primeiro” não em ordem de preferência ou qualidade; é o primeiro de que vou falar, inaugurando os 10 mais do Tio Moa.
É um disco para quem ama mais a beleza da Meg Ryan do que a da Angelina Jolie. Para quem ama a alma feminina. Mulheres amam a alma feminina, á claro. Homens, em geral, amam a mulher e sua beleza. Duvido que sejam muitos os que amem a alma feminina. Homem é prosa, mulher é poesia. Uma mulher por completo também ama a prosa, assim como um homem só é completo se amar a poesia (não falo aqui necessariamente da poesia literária, evidentemente). Water Bearer não é só um disco, é uma poesia. Surfando os arranjos extremamente leves, a voz da moça é algo do outro mundo, talvez desse mundo ‘do bem’, onde vivem os anjos da Bené (que adoraria ouvir o disco), anjos, que, por sinal, parecem que tocam os instrumentos, compõem os arranjos e cantam com a Sally Oldfield. São magníficas a forma como cada música prepara a seguinte e leva até ela, as sobreposições de voz e de emoções e, na música final, a transição das vozes de Sally para a entrada triunfal de vozes masculinas de ópera, que encerram o disco, deixando-nos em uma dimensão diferente, talvez nas nuvens, junto com a nossa impossível Meg Ryan.
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