quinta-feira, 14 de julho de 2011

TIO MOA E O ASTRO - BUEMBA, BUEMBA: DESCUBRA QUEM MATARÁ SALOMÃO HAYALLA

Uma amiga minha, a belíssima Aninha, escreveu na sua página no Facebook, na segunda-feira: “Logo mais começa mais uma novela da globo! Agora as 23H00... A pergunta é: Porque mais uma novela???? PORQUE????”. Depois ainda acrescentou que dormir é bem melhor do que assistir novelas.
Ora, direis, ouvir estrelas... Certo perdeste o senso! (Bilac)
Pensei em responder "o que é isso, menina? Esta não é 'mais uma' novela" e de dizer mais uma série de impropérios, mas segurei meu ímpeto e respondi outra coisa qualquer, de modo educado e gentil, afinal, quem pode garantir que realmente não será apenas mais uma novela?
Depois de um final de semana em que passei ouvindo trilhas (foi uma incrível viagem no tempo) de grandes novelas, escritas por Dias Gomes, ou baseadas em romances de Jorge Amado, com atores da estatura de Paulo Gracindo, Lima Duarte, Jaime Barcelos e Armando Bogus, os comentários da Aninha (não repeti o “belíssima” de novo para não encher demais a bola da moça) me atingiram como um soco do Holyfield bem na boca do estômago, ou como uma bolada no saco (quem já levou uma sabe do que estou falando).
Não que eu defenda as novelas, mesmo porque eu não vejo novela há 148 anos, mas, por causa do final de semana, eu estava tão nostalgicamente noveleiro e, confesso, até ansioso com estréia do remake de O Astro, que senti o golpe. Mas como tirar a razão da Aninha? Ela sabe muito bem que as novelas de hoje são ruins demais, são escritas por “autores de novelas”, não por dramaturgos ou romancistas, como nos anos 70. Os atores de hoje são formados nas escolas globais de fazer robôs bonitinhos e sarados. Hoje as novelas não dizem nada, são chatas, maniqueístas, previsíveis e só se prestam a entreter quem quer diversão rasa, muito rasa.
Mas, Aninha, acredite: houve um tempo em que não era assim. Não pense que estou usando apenas a tal da memória emotiva, que faz com que tudo no passado pareça bom. No passado havia novelas horrendas também. Mas quando criaram a faixa das 10, de novelas com espaço para arte, ousadia, invenção, e para os grandes atores, foi uma maravilha. Por isso que um remake de uma novela (das 8h), que foi tão interessante, chamou muito a minha atenção.
Destarte, como não sou de fugir do pau... Ih, isso soou estranho.
Destarte (resolvi manter o “destarte”, que achei digno), e como não sou de fugir de provocações (melhorou), coloquei-me diante da TV para ver “O Astro” e depois malhar a Aninha (malhar no bom sentido, é claro).  
Dionísio Azevedo, o Salomão Hayalla  da 1a versão
“Em setembro, se Venus me ajudar, 
 virá alguém...
Eu sou de virgem, e só de imaginar
Me dá vertigem... 
Minha pedra é o ametista, 
minha cor, o amarelo,
Mas sou sincero, 
necessito ir urgente ao dentista...” 
Que maravilha, já começou bem. Fiquei espantado com a homenagem da abertura, praticamente igual a da novela original, com aquela música deliciosamente irônica do João Bosco. Não que a abertura original fosse o máximo, mas gostei do raccord.
Finda a abertura, começa a novela. Expectativa... Mais expectativa... Calma, apressado leitor, deixe o tempo falar por si... Expectativa... Pronto: saiba, ávido leitor, que após ver o capítulo do dia, meu espanto continuou. E passou uma noite e passou um dia, e eu ainda estou espantado. Não consigo parar de pensar no que vi. Infelizmente, Aninha, não é o espanto do Olavo Bilac diante das estrelas.
Um parêntese informativo e, presumo, interessante: a novela original, como obra, não era uma maravilha (dirigida por Daniel Filho nenhum gênio), mas era muito bem escrita (Janete Clair, por sinal, mulher do Dias Gomes), tinha uma boa trama e sobretudo originou a famosa pergunta “quem matou...?” No caso, quem matou Salomão Hayalla? (veja ele logo acima). Mas era uma delícia de ver “O Astro”, por que tinha Francisco “Herculano Quintanilha” Cuoco como o encantador, cínico e divertidíssimo, vidente charlatão. 
Na trama da novela, seu personagem despertava ou amor absoluto ou ódio mortal. Ninguém, nem na novela, nem do lado de cá da telinha, ficava indiferente a ele. Francisco Cuoco, sabe-se, não é um gênio da raça, não é um Paulo Gracindo, nunca foi um daqueles atores de amplo domínio da técnica, mas funcionava muito bem na frente das câmeras e ainda tinha algo muito importante, especialmente para aquele papel: um carisma impressionante.
Laurence Olivier, Heathcliff em Wuthering Heights
Quem conhece um pouco de futebol, sabe que Garrinha ganhou sozinho a copa de 1962, que Maradona fez o mesmo na de 1986, que Neto ganhou um Brasileiro sozinho pelo Corinthians. No campo dos filmes, o gigantesco Lawrence Olivier domina de modo impressionante o Morro dos Ventos Uivantes, de 1939. Na música, o Barão Vermelho era ótimo, mas puro Cazuza – depois dele o grupo virou apenas mais um grupo de rock bonzinho, com o perdão do esforçado Frejat. Pois em “O Astro”, a original, Cuoco fez o mesmo: ele era a novela. Foi, disparadíssimo, sua melhor atuação na TV. O fato de desempenhar o papel de canastrão evidentemente ajudou, mas não foi só isso. Ele dominava as cenas com carisma e ironia irresistíveis. Compôs o personagem cheio daquele charme fake grosseirão. Foi espetacular, sucesso nacional. 
Mas, de resto, a novela não era nada demais. Não fosse Cuoco, a novela teria caído no esquecimento, como dezenas de outras.
Findo o parêntese, voltemos ao meu espanto: como é que colocam uma estátua para interpretar um personagem cuja principal missão na novela é ser irônico, encantador e carismático? 
Sim, porque o cara que interpreta Herculano Quintanilha (dispenso-me de procurar seu nome no Google) não passa de uma estátua em cena. Aliás, existem estátuas com muito mais expressão, vide “Laocoonte e seus filhos” (acima) e outras centenas de estátuas mais talentosas que o astrinho da Globo. Talvez existam até algumas vassouras e prateleiras mais talentosas. Quanto ao resto da novela, mesma coisa, nada demais, nada de novo. 
Não aproveitaram o horário de menor apelo comercial, para introduzir algo de novo, de qualidade, como às vezes fazem com minisséries, especialmente quando dirigidas por Luiz Fernando Carvalho, que inclusive dirigiu a última grande novela da TV, Renascer, nos anos 90.
Assim, a única atração da novela será mesmo a boa e velha pergunta “quem matou Salomão Hayalla?”, que deve ser mantida, pois parece que vão mudar o assassino original para manter o suspense. Mas considerando que quem interpreta o Salomão Hayalla agora é o diretor da primeira versão, que presenciou a estupenda e antológica atuação do Francisco Cuoco, eu desconfio que ele morrerá mesmo é de desgosto.
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.  
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?" 
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas"


Olavo Bilac despertava e abria as janelas, pálido de espanto, para ouvir as estrelas. Não há estrelas nesta O Astro.
“Dorme, minha pequena, não vale a pena despertar”. (Chico Buarque)
Aninha, siga, além de sua intuição, o conselho do Chico, vá dormir porque realmente não vale a pena sacrificar sua pele, por sinal, belíssima...

4 comentários:

Dassanta disse...

Concordo Moa que existam vassouras e prateleiras mais talentosas que essa estátua do "Herculano Quintanilha" kkkkkkk E trilha malungo? Essa pode não ter sido uma grande novela, mas vale lembrar:

O Astro - 1977

01 Um Jeito Estúpido de Te Amar – Maria Bethânia
02 Que Pena – Peninha
03 Saco de Feijão – Beth Carvalho
04 Estado de Fotografia – Vanusa
05 Nêga – Emílio Santiago
06 As Forças da Natureza – Clara Nunes
07 Bijuterias – João Bosco
08 Trocando em Miúdos – Francis Hime
09 Boi da Cara Branca – Hélio Matheus
10 Ambição – Rita Lee
11 É Hora – Djavan
12 Olha – Marília Barbosa
13 Enredo de Pirraça – Elza Soares
14 Mais Uma Vez – Marizinha

Mário Xerxes Júnior disse...

Grande ilustração ao post, ilustre Dassanta!!! E olha aí a Marília Barbosa, que cantou até em filme do Woody Allen. E a Vanusa, que na época se lembrava do que estava cantando...

Anônimo disse...

Caramba, bom saber, estava chateada de não estar assistindo, ansiosa para descobrir quem matou Salomão Hayala. Minhas lembranças estão envoltas em fumaça e em clipes do VideoShow. Pelo jeito melhor manter a aura mística sobre a novela junto à minha pedra ametista.

Agora, mudando um pouco o assunto. Moa, meu amigo, que fase maravilhosa, seus postis estão cada vez mais deliciosos. Fico chateada quando entro e não tem um novo.
Bjs e sds.
Fer

Ana Lúcia disse...

NOSSA!
Tive direito de ser citada no seu blog e até direito a uma foto? Que felicidade!!! =)

Acredito sim, que o conteúdo das novelas antigas eram mais interessantes e que elas tinham um roteiro mais elaborado! Mas as atuais deixam tanto a desejar, e penso que essa não fugirá dessa regra! Ultimamente os seriados da globo são muito melhores do que as enorrrmes novelas sem nada de bom e de novo! As novelas das 18h00 são de época, as das 19h00 são engraçadas e as das 20h00 são da elite carioca, SEMPRE! Assuntos previsíveis e totalmente fora da realidade nacional!!!

=)

Bjs Moa... e obrigada pelo post e pelas citações!!!

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