quinta-feira, 28 de julho de 2011

OS 10 MAIS - JARDIM ELÉTRICO IS VERY NICE PRÁ CHUCHU!

Mutantes foi, e ainda é, a mais importante banda do Brasil. Ainda hoje é a banda brasileira mais conhecida fora do país. Seus discos ainda são atuais, portanto sustentáveis, e plurais... ih, não sei o que escrever agora. Desculpe, mas "sustentável" e "plural" são as palavras da moda e como prezo muito a moda, tentei incluí-las. É o vício da redação empresarial: se você não sabe como convencer a anta do seu chefe a aprovar alguma proposta sua, basta colocar no relatório as palavras sustentável e plural, que ele aprova, por mais absurda que seja. 

Saindo da moda, que é mutante posto que tudo passa, tudo sempre passará, menos a importância dos Mutantes, voltemos a eles, depois dessa inútil digressão.

Talvez todos os seus cinco discos com a formação original devessem estar na lista dos 10 mais. Mas como sou humano e, portanto, injusto, resolvi colocar um só disco. Mas qual escolher?

“Mutantes”, de 1969, é maravilhoso, deslumbrante e tem “Caminhante Noturno”, “Dia 36” e “Qualquer Bobagem”, esta última tão tocante que Arnaldo, impossível, resolveu inventar e cantar como gago, o que, por incrível que pareça, não tirou em nada o peso da música. Mas é o "Jardim Elétrico", de 1971, que vai figurar na disputadíssima lista do Tio Moa dos 10 melhores discos brasileiros de todos os tempos. Como Tio Moa mata a cobra e mostra o pau, vamos aos motivos: 



 § Jardim é um disco injustiçado, e eu detesto injustiças. Fui criado vendo Batman, o paladino da justiça, aquela série meio comédia, que o Robin é, digamos, bem avançado para seu tempo. Um dia eu irei ao dicionário para descobrir o que significa paladino.

 § Jardim é provavelmente o mais completo e bem acabado de todos;

 §  Jardim tem a ousadíssima e lisérgica capa do Alan Voss, um gênio dos quadrinhos. Aliás, a capa ficou em segundo lugar em recente concurso de melhor capa de todos os tempos, promovido pelo site da MTV. Se quiser dar uma olhada nas outras maravilhas: http://mtv.uol.com.br/projetos/panamericana.

 §  Jardim começa com uma sonzeira do órgão do Arnaldo e do baixo do Liminha na introdução de Top Top

§  Ousadia: naquele tempo a expressão (e o gesto - ao lado) top top correspondia ao atual fuck you, ou ao brasileiro e sutil vá se fudê (sutileza que se estende ao delicado gesto da mão fechada e dedo médio esticado). Agora, imagina naquela época de censura militar moralista o disco começar com um sonoro "Eu quero que você se top top top... uh!” (veja na foto do Batman a coincidência: Robin tinha um gesto típico muito parecido com o top top)

§  Em Benvinda Arnaldo canta como Tim Maia. “Eu sem você não sou ninguém”. Detalhe: na capa do disco está escrito: qualquer semelhança com Tim Maia é mera coincidência. 

§  Porque tem a declaração de amor mais rasgada e debochada da história da humanidade, cantada pelo Arnaldo com voz gutural arranhada: “O que você me dá é lindo de morrer, é lindo. Oh, oh, oh, yeah… It’s very nice prá chuchú, baby” 

§  O disco tem Virgínia

§  Quando termina a melódica e sentimental Virgínia vem o alucinante riff da guitarra do Sérgio Dias, muito bem acompanhado pelo baixo de Liminha e pela majestática bateria, numa performance maravilhosa do Dinho. Tudo isso em “Jardim Elétrico”, a faixa título, a mais pesada do disco. Falando na batida da batera do Dinho, ela certamente inspirou Charles Gavin no fenomenal Cabeça Dinossauro.

§  Depois dessa pedrada tem a delicada “Lady, Lady”, com um hipnótico solo da guitarra do Sérgio Deus, digo, Dias.

§  A badalada balada mexicana “El Justiciero”, teatral, engraçada e impiedosa. 

§  Além de Arnaldo, Sérgio e Rita, os agregados Liminha e Dinho dão um show. Baixo e bateria ainda não haviam tido tanto peso nos mutantes. Ali eles conquistaram seu lugar fixo na banda.

§  Jardim é a transição entre as loucuras tropicálicas dos discos anteriores e o caminho que nos discos posteriores começaram a trilhar para um rock mais progressivo (que, dizem, desagradava Rita). Não que os anteriores e os posteriores perdessem um mínimo de qualidade, mas é que o Jardim, nessa transição, parece que acabou ficando mais pop, e como sou pop... 

§  Antes de J.E. ainda não haviam aparecido com tanta clareza os solos de guitarra do Sérgio Dias como em “Jardim Elétrico”, “Lady, Lady” e “Saravá”. Ele ainda mostra neste disco que é a grande voz, o grande cantor do grupo (Tecnicolor e Virgínia, por exemplo). Tanto que, no disco posterior Rita queria cantar a Balada do Louco, mas Arnaldo, felizmente, não deixou. E Sérgio Dias a cantou divinamente e a imortalizou.

§  Porque Rita está ótima cantando solo em “Baby”, e nas demais fazendo seus vocais criativos que colocam as músicas num outro nível, mais etéreo. Arnaldo disse que eles são diferentes dos Beatles porque tinham a Rita, que dava o tom circense.

§  E Arnaldo, o gênio criativo, ora com seu órgão maravilhoso dando o clima, ora como personagem, com interpretações viscerais, como em “It’s Very Nice...”.  

§  Porque, como o salgado queijo e a doce goiabada formam Romeu e Julieta, a irônica interpretação de Arnaldo a deliciosa voz de Sérgio Dias fazem de “Portugal de Navio” uma jóia rara.  

É impressionante como não só neste, mas em todos os discos da banda, as gravações, o conceito, a riqueza dos arranjos, as diversas camadas e as performances, tudo permanece original, atual, moderno, pós-moderno, pós-tudo.

Tudo lembra nossas vidas
Nossas noites de ilusão
Suas roupas estão vazias
Lady ainda estou aqui...

2 comentários:

Anônimo disse...

Fui somente "anta" este fim de semana, por isso estou lendo de novo, mas não acabou, vou ler mais...

Tio Moa disse...

Hahaha... Nada como uma boa e aveludada carapuça

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